Saturday, July 14, 2018

A Música no Livro

Tava pensando numa lista de músicas que aparecem em livros.

Talvez seja possível fazer uma grande lista mas, de cara, lembrei-me de seis que são citadas nas obras. Não são músicas que aparecem em adaptações, mas temas que são citadas pelos respectivos autores. E, mesmo assim, a maioria dos leitores não notam à primeira vista. Mas que, de qualquer maneira, estão ali.

Peguei como primeiro exemplo a trilogia do Erico Verissimo que, se pegarmos, por exemplo, o Arquipélago (1962), seria possível inventariar um sem número de temas musicais, na sua maioria, eruditas, o gênero preferido do romancista, para escrever, quem sabe, um livro só sobre isso.

"Loin Du Bal" - "O Retrato" e "O Arquipélago", de O Tempo e o Vento, Erico Verissimo


"Loin Du Bal" é uma peça do compositor francês Ernest Gillet (1856-1940). No livro O Retrato, da trilogia de Erico Verissimo, o tema, o disco preferido do dr. Rodrigo Cambará, serve como um leitmotiv do próprio personagem, associado sempre à sua personalidade de rapaz estouvado, impetuoso e orgulhoso. Como primeiro intelectual dos Cambará, ao voltar de Porto Alegre, em 1910, ele compra um fonógrafo e instala o equipamento no Sobrado (e o primeiro de Santa Fé), para o desgosto da tia Maria Valéria, que tinha horror à música. Em O Arquipélago, perto de morrer, ele pede à Sílvia, sua filha de criação, que toque o disco para ele.


"La ci Darem la Mano" - Ulysses, James Joyce



Famoso dueto da ópera Don Giovanni (1787), de Mozart (e libreto de Lorenzo Da Ponte). Em Ulysses, o tema aparece no capítulo 4 do livro (Calipso), quando ele traz o pequeno almoço a Marion na cama. Então ela diz a Leopold que vai cantar o dueto num concerto que será organizado por um empresário chamado Blaezs Boylan que, como se sabe, é o amante dela. Na ópera, é um dueto do primeiro ato, quando Don Giovanni tenta seduzir Zerlina, noiva de Masetto.


"Oh, Johnny, Oh" - Ham On Rye, Charles Bukowski



"Oh Johnny, Oh Johnny, Oh!" é uma canção de Abe Olman e Ed Rose, de 1917. Tema típico do tempo do Tim Pan Alley, ela tornou-se popular com a gravação das Andrews Sisters, em 1939, no auge do sucesso do trio, no comçeo dos anos 40. No livro, a música toca num rádio ligado no último volume, na cena em que o (anti) herói do romance, Henry Chinaski, se mete numa cruenta roleta russa de copos de uísque, no Capítulo 51.


"Mambo nº 8", On The Road, Jack Kerouac


On The Road é um livro essencialmente musical, que influencia tanto o estilo da prosa quanto a música é tematizada ao longo da história, que gira sempre em torno de bebedeiras em bares, com bandas de bebop ou rádios e jukeboxes. Mesmo que o jazz seja o motivo condutor do romance de Kerouac, outros gêneros aparecem na obra: um, quando Dean reconhece um programa de honky-tonk ouvindo rádio no carro quando eles descem a estrada 66 em Amarillo. outro, quando eles dançam mambo deliberadamente num bar na Cidade do México. Uma das músicas é o Mambo nº 8 de Perez Prado, que fazia grande sucesso na época (fim dos anos 40, quando se passa a história).


"One Toke Over The Line", Medo e Delírio em Las Vegas, Hunter S. Thompson.



Único sucesso da dupla Brewer & Shipley (cujo estilo de country junkie lembra o Grateful Dead, que cheogu a gravar com eles), "One Toke Over The Line" aparece no final de  Medo e Delírio em Las Vegas, quando Raoul Duke, o excêntrico protagonista do livro, está lendo o Los Angeles Times escondido na cafeteria do aeroporto, no capítulo 13. Mesmo banida de muitas emissoras de rádio por causa da alusão a drogas, "One Toke Over The Line" fez grande sucesso na época, e é cantada por Benício del Toro na adaptação cinematográfica da novela, de 1998.





1 comment:

Tiago said...

Se me permite duas contribuições que para mim foram descobertas fantásticas:

As Intermitencias da Morte do Saramago descobri uma do Bach
https://youtu.be/3hbYoIs-euU

E em Grandes Esperanças do Dickens, Handel
https://youtu.be/CFuxYOPTd6Y