O homem Wilson Simonal sempre será um cara controverso. Ele é amado e odiado da mesma maneira. Já com relação ao intérprete Simonal, ele foi insuperável. O primeiro partiu para sempre; o segundo ainda existe no sulco dos discos.
O artista Simonal era o cara. Como disse Ruy Castro no Chega de Saudade: uma voz excelente, senso de divisão igual aos melhores cantores americanos e uma capacidade de fazer gato e sapato do ritmo, sem se afastar da melodia ou sem apelar para os "scats fáceis que eram a especialidade de Leny Andrade (que, como Wilson, era cria de Lenny Dale no Beco das Garrafas).
No começo, influenciado pelo Carlos Imperial, ele cantava cha-cha-chás (aliás, o Imperial fez o mesmo com o coitado do Roberto Carlos). Quem o levou para a Bossa Nova foi justamente Ronaldo Bôscoli, que foi responsável por lhe franquear um repertório excelente, que ia da Ela Vai Ela Vem até Lobo Bobo (melhor que ele cantando isso, só o próprio João Gilberto).
"Naquela fase", diz Castro, "ele era capaz de encaixar as bossas mais surpreendentes num tema e torná-la irresistível. Mas, só quando as bossas passaram a ser importantes em seu estilo, Simonal ficou repetitivo e voltou à esfera de Carlos Imperial.
Em 66, ele estava cantando "Mamãe Passou Açúcar Ni Mim". Em 71, ele regeu — com um dedo só — 15 mil pessoas no Maracanazinho ao som de uma (...) apropriação de Imperial, "Meu Limão, Meu Limoeiro".
Num certo dia dos anos 70, o Caboco Mamadô relegou o intrépido Wilson Simonal ao ostracismo musical. Acabou saindo do palco para virar um fait-divers, um arquétipo do artista perseguido como o Jean Valjean do Beco das Garrafas por honra e glória das patrulhas ideológicas. Como diz o autor do Chega de Saudade, Simonal foi exclúido do meio musical. Mas não pode ser expulso da história da Bossa Nova.
Esse vídeo dele com a Sarah Vaughan é um testemunho disso: Wilson canta de igual para igual com a diva do jazz.
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