Saturday, February 12, 2011

Dr. Sarmento e o Discurso

Nome de rua no Centro de Porto Alegre, cirurgião e anatomista, o Dr. Eduardo Sarmento Leite foi o patriarca da Arte Médica aqui no Rio Grande do Sul. Fundou a Escola de Medicina de Porto Alegre, hoje a Faculdade, plenamente integrada à UFRGS, onde foi diretor por mais de trinta anos (não ininterruptos).

Além de sua importância histórica na cultura médica e no ensino no primeiro quartel do Século XX, Sarmento era conhecido por seu lado folclórico. A história do discurso ilustra bem esse lado do nobre catedrático.

Quando ele foi nomeado Diretor de Higiene do Estado (o que equivale hoje ao posto de Secretário da Saúde), foi então convidado — junto com o então Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, Dom João Becker, para fazer o discurso de inauguração do Sanatório Belém.

Contudo, antes dele, o cerimonial colocou para discursar o arcebispo. Empolado, Dom João aproveitou o insigne momento para mostrar seus dotes de cientista secular. Com sublime edudição, começou a dizer.

— Mycobacterium tuberculosis, ou bacilo de Koch, é a bactéria que provoca a maioria dos casos de tuberculose. Foi descrita pela primeira vez em 24 de março de 1882 por Robert Koch, que subsequentemente recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia por esta descoberta em 1905...

Surpreso, Dr. Sarmento notou que o santo homem começou a falar um discurso pachorrento e mais longo que xingamento de gago, versando justamente sobre a sua pauta: o problema da tísica e a evolução dos estudos sobre a Mycobacterium tuberculosis.

Pois quando justamente o clérigo fechou o bico, Dr Sarmento, que era a maior autoridade do assunto discorrido foi finalmente dar a sua preghiera.

Alçou a fronte, pigarreou, e disse:


— Meus amigos e senhores presentes, eu ia discurar aqui hoje. Mas eu não vou discursar. A razão é muito simples: o que eu poderia humildemente discorrer nesse momento foi dito, e foi magnificamente colocado pelo nosso glorioso, digo, a Sua santidade e excelentíssimo reverendíssimo santo padre. Só me resta é dar as bênçãos celestiais à essa nova instituição e pedir que todos nós, agora, nesse momento, rezemos um Padre Nosso. Combinado? vamos lá, todo mundo.

E, abrindo os braços, completou:

— Ora façamos o sinal da cruz: em nome do Pai, do Filho, Espírito Santo, Amém, Padre Nosso que estás no Céu, santificado seja o vosso nome...

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