Monday, April 25, 2011

Rádiofônicas

Essa aqui dizem que aconteceu com o Milton Júnior e o Luís Hacke, quando eles apresentavam e produziam, nos anos 80, um programa de esporte amador na rádio Guaíba.

O Mílton teve que viajar um fim de semana para cobrir um jogo do Grêmio, em Ijuí. A partida ia ser sábado de tarde, e o programa ia ao ar sábado de manhã.

Porém, antes de viajar, ele escreveu as notícias da semana e enfeixou tudo com uma sugestão de pauta ao Hacke, que ia substitui-lo. Junto com as laudas, o Júnior escreveu à mão:

"Hacke, o ginasta Carlos Eduardo Fulcher, do Minas Tênis Clube, tricampeão brasileiro, está treinando no Grêmio Náutico União, para uma competição que eu não sei o nome".

No sábado pela manhã, o Hacke pegou na nota redigida à mão, foi para a frente da máquina de escrever e passou o bilhete rigorosamente a limpo.

Ao invés de se dar conta que era uma pauta e ir investigar a dúvida ou na pressa de terminar o roteiro do programa, o produtor redigiu a mesma coisa que o Mílton havia escrito na sexta.

Então o programa vai ao ar. o locutor do programa, Paulo Caligari vai lendo as notícias, chega na nota do ginasta (escrita nas normas radiofônicas, naturalmente) e lê, com voz empostada e parcimoniosa:

O ginasta CARLOS EDUARDO FULCHER, do MINAS TÊNIS CLUBE, tricampeão brasileiro, está treinando no GRÊMIO NÁUTICO UNIÃO, em PORTO ALEGRE, numa competição que eu não sei o nome.\\\


....

Santa Cruz vai pegar o Grêmio no Olímpico, num Gauchão dos anos 80. A transmissão ia ser duplex, já que no mesmo horário, o Inter de Santa Maria pegava o Internacional de Porto Alegre na Baixada.


Na preleção, como é de praxe, os repórteres respectivamente passam aos locutores as escalações dos times, com a respectiva numeração nas respectivas camisetas.

O repórter que cobre o Santa, Jodoé Souza, passa o time mas, no entanto, se esquece de passar a numeração. O locutor, Carlos Moacir, quando se dá conta já em cima da hora, vê o árbitro dar o começo do jogo.

No meio do duplex, com as duas equipes narrando os dois jogos respectivamente, o Carlos Moacir chama o operador pela linha de serviço:

- Alô, me chamem a coordenação!

Alguém responde:

- O quê?

- É o o Moacir, me bota na escuta, cadê o Edgar (Schimidt) eu tenho que falar com o Jodoé!

- Hein?

- Por favor, cortem a transmissão do Olímpico que eu tenho que falar aqui com o Jodoé, caramba!

O operador não ouve nada e a transmissão do jogo do Grêmio segue no ar.

- Jodoé, Jodoé, é o Carlos Moacir.

- O que tu quer?

- Quero que tu me dê a escalação do Santa com a numeração dos jogadores...

- Opa, eu dei mas eu tava esperando o momento certo para dar por completo! - responde o Jodoé.

Imitando uma bichinha, Carlos Moacir brinca:

- É né, é que eu fiquei sem a numeração e achei que tu não ias querer mas dar para mim, e fiquei assustada....


- Aiii, loucaaa! - responde o repórter.



Ainda estava no ar.

...

Essa aqui um operador lá da Famecos me contou. Era um jogo da Seleção em Montevidéu. O pessoal do esporte da rádio Gaúcha foi almoçar num restaurante do centro da capital uruguaia. A equipe era o Brauner, o Pedro Ernesto, o Wianey e o preclaro professor Ruy Carlos Ostermann.

O professor, que é um homem culto, inteligente e cosmopolita, passa a vista no cardápio, e encontra Cazuelas com Mariscos, que é a especialidade da casa. Olha para o garçom, e diz:

- Ora, este é um grande prato, vou querer.

Os demais, que não sabem do que se trata o tal prato predileto do Professor, encolhem os ombros e acabam optando por um A la Minuta. Quando o garçom sai com os pedidos, Ruy olha para os companheiros de mesa e diz:

- Mas meu Deus do céu, vocês comem A La Minuta todo dia, toda semana, todo mês e todo ano no Brasil. Aí vocês chegam aqui em Montevidéu e em vez de pedir alguma comida típica, me pedem um A La Minuta, isso não é possível!

Pedro Ernesto, riscando o garfo no prato vazio, responde:

- Bom, professor, sabe como é, cada um come aquilo que tem vontade, não é?

Não satisfeito, Ostermann faz um panegírico da culinária uruguaia, e descreve minuciosamente as suas Cazuelas como um banquete proustiano, um verdadeiro manjar dos deuses. Tenta, em vão, fazer com que os demais optem pela sua escolha.

Então chega o garçom. Wianey e companhia devoram o arroz com ovo e fritas como se nunca tivessem visto nada melhor. Circunspecto, Ruy os censura:

- Calma, pessoal, calma. Vocês parecem que nunca comeram um bife.

E, olhando para o seu garfo, diz para eles:

- Eu, aqui em Montevidéu, saboreando o meu prato predileto, Cazuelas com Mariscos, e vocês aí, comendo batata frita com as mãos....Humpf.

Nessa altura dos acontecimentos, quase todos na mesa tecem catilinárias contra a culinária uruguaia, menos Ruy, que quebra lanças em favor do seu amplo conhecimento em matéria de cultura platina.

Meio constrangido, o garçom fica ouvindo aquela discussão toda, esperando o momento certo para chamar a atenção de um deles, o professor Ruy. o Ostermann, vendo que o pobre garçom, trazendo um prato com comida na sua bandeja, estava esperando um momento para falar, pede que todos silenciem. O garçom diz:

- Moço, é o seguinte: nós entregamos o prato errado para o senhor. Isso que o senhor está comendo é calamar. As Cazuellas com mariscos estão aqui.


E coloca o prato diante do perplexo Professor Ruy.

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