Judee Sill |
Lembro de ter ouvido Judee Sill numa época em que nós
(eu) caçávamos álbuns em mp3 na internet, quando houve um surto de vazamento de
discos que, até então, estavam inacessíveis a todos nós. Porém, mais
recentemente, depois de ler um artigo recente sobre ela no obituário do New
York Times, assinado pelo jornalista Minju Pak. Achei que ela fosse uma cantora
no estilo da Laura Nyro ou como suas contemporâneas, Joni Mitchell. Inclusive,
foi através daquela turma de Laurel Canyon ligada ao Crosby, Stills, Nash que
ela chegou ao disco.
Ela morreu de overdose de heroína numa época, os
anos 970, onde lembro de ler um artigo do Village Voice (desenterrado no Twitter do periódico recentemente), que fala da quantidade
de gente que exagerou no uso de drogas numa época de hedonismo e de excessos,
como Danny Whiten, Tim Buckley, e outros. Soma-se ao fato de que ela representa
o estereótipo do artista que não foi reconhecido em seu tempo, como Van Gogh,
talvez o representante magno disso.
E some-se
mais ainda a isso o fato de que ela veio de um histórico de perda do pai, de violência
familiar, de uso de drogas, de internações e de umaprisão. Quando ela saiu,
Judee, mesmo admitindo que seria uma junkie,descobriu na música uma
oportunidade do que ela disse que era poder fazer algo para si, e não contra.
Ela também aprendeu a tocar piano sozinha e, depois,
tornou-se organista de uma igreja perto de onde vivia. Esse aprendizado
certamente foi crucial para o desenvolvimento de sua música. Se formos escutar
canções como “Heart Food” ou “The Kiss”, seu estilo está muito mais próximo de
uma criação camerística. Nesta última, é
possível vislumbrar uma forte influência das árias de Bach, um compositor que
ela estudou.
Quando eu resolvi escutar a sério, eu fiquei deslumbrado
com a qualidade de sua produção, que parece está mais chegada à música de um
Brian Wilson ou de Nick Drake. O
primeiro, por causa de suas harmonizações; o segundo,por conta de sua música
difícil e que a frustrou, de certa forma, porque acho que Sill deveria ter
tentado uma carreira em música erudita, onde certamente seria “entendida”, ao
invés de se lançar como cantora folk, o que ela, com efeito, não era. Ou era, mas era muito mais do que isso.
Porém,
estava num mundo de cantores desse estilo, primeiro como compositora para os
Turtles e, depois, excursionando com Nash e divulgando seu trabalho, cujo ponta
pé foi uma demo que ele enviou à recém fundada Geffen Records, que estava à
procura de folk singers. .
A história dela
lembra bastante a de Drake, com a diferença de que ele realmente era
avesso ao show biz e não conseguia se adaptar à rotina de shows,e um dia, vendo
que estava longe do que demandava a indústria musical, recolhei-se à sua casa e
morreu (ou suicidou-se).
Suas canções, como “Crayon Angels”, "The Donor",com um tema circular que ela trabalha ao longo de oito minutos, parece uma oração, ou mesmo “The
Kiss” ou “Abracadabra pareciam ser endereçadas a algum tipo de profunda espiritualidade.
“The Kiss”, a primeira que eu ouvi, parece escrita não para um cara, mas para
Deus. Ela construiu um mundo minado por um sentimento transcendente provavelmente
como uma evasão de vida triste e vazia. E suas letras falam a partir de um
outro mundo, como a canção do mundo dos anos, muito além da terra e de um amor
puro e espiritual- e muito além do folk com a qual ela estava cifrada, com
cantoras como Carole King ou Joni Mitchell, que eram muito mais pop.
Judee sill nasceu em Oakland, California, em outubro
de 1944 e faleceu em novembro de 1979, com apenas 35 anos. Sobre seu caminho
para a música, ela disse à Rolling Stone: “Pude ver que teria que escrever
canções que eram sobre essas coisas [sobre sua vida particular]. Cheguei a algumas
realizações fantásticas tentando fazer s
leis da natureza trabalharem para mim ao invés de contra. Senti que era meu
dever comigo mesmo entrar nisso, e foi o que eu fiz”. Quando ela foi achada
morta, ela tinha um manuscrito que muitos acharam que fosse uma nota de
suicídio.
Mas mais provavelmente, fosse mais uma de suas criações, que hoje
foram como redescobertas. Mas assim como muitos de sua geração, como Buckley, Drake, Tim Hardin, ela vivia uma vida arriscada e com um histórico familiar que, de certa forma, explica toda uma vida de abandono, amores frustrados e excessos. Quem sabe o que é isso pode imaginar o quanto sua vida foi sofrida e seu apelo à música e a arte foi uma experiência engrandecedora e libertadora.
Também lembro que, na listagem dos 1001 albuns de
Robert Dimery, inexplicavelmente seu livro, que redescobriu tantos elepês que
tiveram o mesmo destino do trabalho de Judee, ou seja, passaram batido em sua
época, contudo que foram desenterradas qual uma arqueologia sonora. Com certeza que
seu disco, Heart Food, de 1973, deve estar entre os discos para se ouvir com os anjos do céu.
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