O big bang do sertanejo |
Tava relendo o livro O que é música sertaneja? do Waldenyr Caldas e lembro desses livros do Ramos Tinhorão e do Luiz Tatit que praticamente tem uma resistência
tanto em documentar a história desse gênero quanto de colocá-lo ao lado de
outras manifestações.
Tinhorão tem preconceito com a Bossa Nova. Tatit
parece que depois de elaborar uma teoria da canção ele fica na dialética entre
Bossa e Tropicalismo e a música popular radiofônica (a popular, de grandes
vendagens) é relegada a segundo plano. O não tão lembrado dos pesquisadores grupo
Tupiana, de 1958, por exemplo, é desconsiderada.
Isso aqui seria o autêntico (entre aspas) modelo de
canção tupiana. Mas, como diz o Waldecyr, seria considerada nacionalóide
demais. Isso foi completamente esquecido, basta ver o número de visualizações
do vídeo...
É também interessante lembrar uma coisa: noves fora, a produção de música sertaneja é ininterrupta e vende muito bem desde 1929. Outra, com relação à raiz sertaneja, e isso é um assunto complexo e tem a ver com a Tupiana: como diz Bóris Fausto naquele livro sobre a história do Brasil, muitos não sabem, mas até o começo do século XX, existia um considerável contingente de índios que viviam na zona oeste do estado de São Paulo.
E, concomitante à sua urbanização e o sincretismo entre eles e outras raças é que aquele tipo de sertanejo "jeca" (esse é um assunto para especialistas, e esse não é o meu caso) que está, de certa forma, na origem desse tipo humano.Isso explicaria a ideia de criar uma guarânia à brasileira. Esse é um assunto que pesquisadores como Tinhorão provavelmente não se debruçaria.
É também interessante lembrar uma coisa: noves fora, a produção de música sertaneja é ininterrupta e vende muito bem desde 1929. Outra, com relação à raiz sertaneja, e isso é um assunto complexo e tem a ver com a Tupiana: como diz Bóris Fausto naquele livro sobre a história do Brasil, muitos não sabem, mas até o começo do século XX, existia um considerável contingente de índios que viviam na zona oeste do estado de São Paulo.
E, concomitante à sua urbanização e o sincretismo entre eles e outras raças é que aquele tipo de sertanejo "jeca" (esse é um assunto para especialistas, e esse não é o meu caso) que está, de certa forma, na origem desse tipo humano.Isso explicaria a ideia de criar uma guarânia à brasileira. Esse é um assunto que pesquisadores como Tinhorão provavelmente não se debruçaria.
Engraçado observar que a primeira parte essa canção parece decalcada da Ave Maria de
Gunod na primeira parte, mas eu acho interessante, só que foi um flop na época.
Até porque existe um preconceito incontornável sobre
o gênero, e gente como Mário Zan e Nonô Basílio são relegados a um
esquecimento. Por que não fazem análise semiótica de suas canções? Só Ary
Barroso, Caymmi. Aí você vai me dizer: mas você está comparando sertanejo com
eles? Como ousa?
Muita gente contrapõe o sertanejo de hoje com o que
seria um outro, de raiz. Mas a questão é que quando o Cornélio Pires gravou a
1ª canção sertaneja assim como o Pelo Telefone, eles á tinham perdido o caráter
de raiz a música de raiz é imaginária ela já urbanizou há muito tempo.
A história dessas gravações é bem interessante.
Porque a maioria dos selos na época, 1929, não se interessou em gravar esses
duos bandeirantes. Cornélio foi um visionário porque ele acreditou na força do
gênero sertanejo como música radiofônica.
E resolveu bancar as prensagens desses 78 rotações
porque acreditava que eram vendáveis. Claro que observe que, mesmo como uma
espécie de protofolclorista, ele acreditava que podia vendê-los. E, de fato,
Cornélio Pires descobriu um filão que ainda não era explorado no Brasil.
Sertanejo de raiz a gente tá falando de um troço de
mais de um século, resgatar isso seria mais um trabalho de antropologia
musical, como aquele pessoal tipo o Jack Lomax fazia nos EUA e a professora Luciana
Prass, da UFRGS, fez aqui com os maçambiques de Osório, aliás, um trabalho
muito bonito e importante nesse campo de pesquisa. Interessante observar que
muito dessa música folclórica – que seria de raiz, na verdade tinha um jaez
muito vinculado à práticas religiosas, como era o caso do sertanejo “original”.
Por exemplo, o Jorginho do Sertão com o Mariano e
Caçula, seria o máximo que eu poderia chegar de moda de viola. Problema é que o
disco, como eu disse, já uma versão adaptada do folclore. Então, a música de
raiz mesmo teria que ser registrada em campo, e não em disco. Esse problema,
com efeito, divide os pesquisadores, e o mesmo acontece com relação às raízes do
samba. Seria mais fácil entender o fenômeno da difusão desses gêneros a através
da possibilidade de gravá-los em disco. É a partir daí que essa imaginária
música de raiz se urbaniza.
A Columbia não queria gravar os sertanejos, disse que não vendia. Ele tentou prensar uma tiragem de 2 mil cópias, conseguiu dinheiro no comércio. Feitas as cópias, ele passou a vender cópias pelo interior do estado. Teve que pedir mais uma tiragem, porque ele voltou à sede da gravadora de mãos vazias: tinha vendido tudo.
Mas Cornélio, de certa forma, foi um agitador
cultural, porque ele fez essa mediação, isto é, ele, de certa forma, colocou esteticamente
o sertanejo na cidade, desde 1910, quando publicou seus poemas em revistas como
O Malho, do Rio de Janeiro, além de ter uma longa carreira como escritor.
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