Friday, March 11, 2011

Dois braços

Então caminhávamos juntos; perdidos entre nogueiras e flamboyants no campus da PUC, mas tão próximos dos céus.

Confesso que esperei tanto por aquele dia. Foi um dia qualquer, era apenas o nosso encontro.

Você me arrastou até o Mercado. Tirou fotos de artistas mambembes como uma turista desvairada que via Porto Alegre pela primeira vez e devorava a paisagem com teus olhos de criança.

No ônibus, disse que não imaginava que fosse se apaixonar de novo. Eu dei um suspiro. Eu estava pensando nisso noites a fio. E nos calamos.

De repente, conversávamos como se só existissem duas pessoas: você e eu. Você me perguntou eu estava me atrapalhando com aquela correria toda pela cidade.
Eu encolhi os ombros. Não tinha palavras para descrever o que se desfilava diante dos meus olhos. Você parecia diferente a cada momento. Encantadora como sempre.

Olhamos livros; me lembro de quando você me parou diante de uma vitrine com costumes crianças, e disse que queria ter um filho. E depois me perguntou:"você não gostaria de ter um filho, Marcelo?" Nem me lembro o que eu respondi, fiquei meio perplexo com a pergunta. Mas não era positivamente uma indireta. Não me lembro: disse que sim.

Depois tomamos café no Rodobar antes de você partir. Eu escrevia dedicatórias surrealistas nos livros que você comprou. Tua reação era indescritível. Você lia minhas garatujas, cobria o rosto com o livro aberto e caía na gargalhada. E eu, que estava profundidíssimamente comovido, queria pensar em algo bonito para escrever mas resolvi fazer chiste com a situação, que nem era lá muito formal...

Então você pegou o ônibus e se foi. Peguei um táxi para casa. Cheguei em casa e não sabia o que fazer. supliquei, em tom de brincadeira: "não vá!". Ela disse: "Não posso".

Fiquei uns três dias meio perplexo num quarto escuro procurando o que fazer da vida. queria guardar comigo todas aquelas momentos.

Às vezes, eu acabo tendo de passar por todos aqueles lugares em que estivemos. sinto um misto de alegria e de tristeza; tristeza de tantas saudades. E alegria porque é como eu sentisse a tua presença comigo novamente enquanto o vento passa.

Me lembrei daquele derradeiro abraço de adeus, de dois braços que abraçam como se protegessem. Braços que cruzaram a elevada da rodoviária e a esquina daquela nostálgica quinta-feira, e se foram pela estrada afora, apenas indo para outros braços.

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