Thursday, March 17, 2011

A Cadeira de Chico Viola


O Gambrinus (crédito da imagem: Jana Jan's Fotolog)


Esses dias eu estava relendo a biografia definitiva do Noel Rosa, escrita pelo Carlos Didier e o João Máximo pela UNB, há algum tempo. E me lembrei da famosa passagem dos Ases do Samba por Porto Alegre, em 1932.

Um ano antes, Francisco Alves fazia enorme sucesso com Mário Reis (que rivalizaram com outra dupla, Castro Barbosa e Jonjoca). Com a parceria do Poeta da Vila, eles emplacaram Fita Amarela, e com Ismael Silva e Nílton Bastos, se Você Jurar.


Em 32, eles decidiram formar um escrete de bambas: com Ismael, Nonô, Mário, Chico e Noel e Peri Cunha, eles fundaram os Ases do Samba. O sucesso no Rio de janeiro foi gigantesco: juntos, o conjunto fazia uma espécie de teatro de revista em formato pocket, amalgamando números musicais com números falados.

Naquele mesmo ano, Chico Viola, um capitão de indústria da música brasileira avant la lettre, resolveu fazer uma turnê pelo sul do Brasil. Os Ases iam se apresentar em Porto Alegre.

Na capital gaúcha, Chico Alves ficou no antigo Grande Hotel, hoje o edifício do Imperial. a temporada, prevista para durar uma semana, acabou chegando a quase um mês, principalmente pelo lado pândego da turma. Fazendo canjas em bares, os ases descobriram o jovem Lupicínio Rodrigues, então soldado no antigo quartel da André da Rocha (então o Beco do Oitavo): noitadas, bebedeiras e certamente infidelidade...

Lupi apresentou-lhes a boemia da Ilhota e alguns sambas que ele compôs. Mais tarde, o autor de Vingança iria firmar parceria com Chico Viola (na verdade, alves encampou-o, assim como fizara com Ismael e Noel), e despontaria para o estrelato na Capital Federal.

Chico Viola costumava descer o Centro e almoçar no Mercado Público. Ia no Treviso, no fim da Siqueira Campos, ou no Gambrinus que, naquele tempo, ainda era um estabelecimento voltado para a culinária alemã (como o Chalé da Praça XV).

O Treviso fechou nos anos 70, e a cadeira cativa que Francisco Alves (ou a réplica) costumava usar foi doada aos donos do Gambrinus, que fica defronte ao Paço dos Açorianos, mais conhecida como a Prefeitura Velha.

O Gambrinus existe até hoje, e a cadeira está hoje suspensa na entrada, como recordação da passagem do Rei da Voz por Porto Alegre.

Chico e Mário ficavam no Grande Hotel e o Poeta da Vila, por sua vez, ficou numa pensão famélica na Sete de Setembro, próxima à Praça da Alfândega. em pouco tempo, enrabichou-se de uma menina que morava logo em frente.

O idílio não durou muito. No último encontro, debaixo de uma bruta chuva, Noel teria pedido á ela para que partisse de vapor com ele para o Rio. Alguém a chamou para dentro de casa. Ela apenas disse: "até amanhã...". E sumiu na escuridão do longo corredor do cortiço.

E a saudade fez um samba (como diria o Carlinhos Lyra): Até Amanhã, que seria sucesso no Carnaval de 1933, interpretada por João Petra de Barros:

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