![]() |
Cartaz do filme |
Esse ano completam trinta anos do filme Doors, do Oliver Stone. Lembro que eu cogitei ir até a sessão de estréia, à meia-noite, no Vitória, ali na esquina da Andrade Neves com a Borges. Eu cheguei a me postar na frente, mas amarelei e não fui. Achei que ia ser barra pesada e não fui. Acabei assistindo ele muito tempo depois. Porém, na época, 1991, era uma época interessante. Depois de uma década onde o rock era uma coisa meio outliner na paisagem musical, e a maioria do pessoal dos anos 1960 estava bancando o artista da fome para sobreviver naqueles tempos bicudos prá quem era roqueiro, no final da década, o Paul McCartney resolveu sair do armário com os covers dos Beatles (que ele se negava a tocar no Wings) e aquilo meio que foi um retorno à nostalgia do rock. Da mesma maneira, depois de dez anos dispersos e tentando adaptar-se à geração MTV, os Stones saíram numa gigantesca turnê pelo mundo (Urban Jungle). Eles também, à sua maneira, meio que desistiram que inspirarem-se no que estava acontecendo no cenário do pop para voltar ao rock. Seu mais recente disco, o Steel Wheels, era aquilo que os jornalistas americanos, sempre na onda do clichê boboca, chamavam de “return to form”.
Depois
daquela invernal década de 1980, não parecia ser marcação de touca tocar uma
bateria que não fosse eletrônica, um piano ao invés daqueles recladinhos Casio
ou um violão, violão mesmo. O filme dos Doors, por coincidência ou não, meio que
estava dentro daquele contexto. Mesmo quem não assistiu à película naquele ano
de 1991, pelo menos lembra que as canções da trilha sonora conquistaram o
rádio. Mais precisamente as rádios alternativas, como a Ipanema. Eu recordo que
as faixas do disco tocavam o dia todo, como se eles tivessem descoberto aquele
tesouro musical que era aquele rock sônico e cênico dos Doors, com o teclado
espacial do Ray Manzarek e o vocal de crooner do Jim Morrison. Já devo ter
falado aqui diversas vezes isso que eu
vou falar agora mas, naquele tempo (1991), a nossa cultura musical era a
cultura musical do rádio. Sem a internet ainda, éramos induzidos a ouvir e
apreciar o que havia no rádio e só. A Ipanema tocava tantas vezes a música dos
Doors que era incrível para não dizer bizarro. Bizarro porque eu lembrava de
ver alguns álbuns deles na parede da Free discos usados, no Viaduto da Borges.
A loja era engraçada porque nunca havia ninguém olhando os discos, os álbuns
eram vendidos sem capa de plástico e havia aqueles discos dos Doors na parede.
Eu tinha as capas de memória, o L. A Woman e o Morrison Hotel. Mas só pude ter
acesso à música deles por causa da moda que surgiu em torno do filme do Oliver
Stone.
Quase no fim, quando Robbie Krieger se despede de Morrison e fala: “eu fiz música com Dionísio”, o diálogo certamente é fictício, mas serve ao mito do filme, o diálogo da estrela de rock que foi representado, no seu caracter fílmico, como uma versão repaginada do deus grego, deus do vinho, deus da noite, deus do desmedido, como Morrison em The Doors. Esse foi o grande wit de Oliver Stone, articular o mito com outro mito, atualizando-o. E, de quebra, é interessante ver que o diretor teve a astúcia de representar os Doors miticamente como um contraponto à toda aquela cultura pop que existia quando eles surgiram. Diferente do pop solar do rock californiano dos Beach Boys, o rock experimental, cênico, trágico e noturno dos Doors. No papo entre Jim e Ray, em Venice Beach, quando eles começam a discutir sobre a possibilidade de montar uma banda de rock, Oliver Stone faz magicamente o dia virar noite quando Morrison canta “Moonlight Drive” (“Let's swim to the moon, let's climb through the tide, penetrate the evening that the city sleeps to hide”).
Essa é a chave para a contextualização do mito de Dionísio-Jim. Por isso, é importante entender o projeto da adaptação biópica do líder dos Doors como uma tragédia, e compreender as sutiliezas do mito e das formas como Stone trabalha com esses motivos ajudam a enriquecer as possíveis interpretações do filme. Mas, mais do que isso, o filme serviu, num momento singular, de veículo para que o rock dos anos 1960 fosse, digamos assim, recuperado e reagendado no circuito do pop a partir dos anos 1990. De repente, o mundo descobriu que a música dos 1960 eram interessantes, prá não dizer melhores e mais duradouras do que tudo aquilo que tentaram massificar nos anos 80, vendendo aquelas novidades e sucessos como se fosse a melhor coisa do mundo, numa estratégia (consciente?) de apagar ou de jogar para o passado todo o passado em favor do presente acima de tudo.
O cinema foi pródigo nos anos 80 em furar esse bloqueio e reavivar esses apagamentos. Vários filmes no final da década trouxeram o pop dos anos 1960 de volta. Dirty Dancing, La Bamba, Stand By Me, Ferris Bueller's Day Off, Jumpin' Jack Flash, Full Metal Jacket, Good Morning Vietnam. Quem promoveu o levante foram essas trilhas. Foi o cinema o responsável por descongelar essa cultura apagada. Hoje nós temos a disposição, no streaming, a um século de gravações em catálogo em processo de digitalização. Naquele tempo, isso era impensável. Logo, movimentos como o da difusão cultura de música antiga a partir da sétima arte foi um momento importante no sentido de redimensionar a produção musical através do tempo. Os Doors – via Oliver Stone, tomou conta do rádio a partir de 1991. Em pleno auge da implantação massiva do CD, os discos da banda foram disponibilizados em catálogo. E a partir de então, nunca mais saíram das estantes das lojas (apenas quando o CD morreu). Enfim, se houve um momento em que esse processo de redescoberta do rock dos anos 1960 para um a nova geração se deu no final dos anos 1980 e o paroxismo foi justamente o filme do Oliver Stone. Afinal de contas, não era apenas um filme com uma trilha sonora do passado. Era a própria cinebiografia de uma banda dos anos 1960, falando daquela época para o presente. E o filme foi The Doors, que completa três décadas esse ano.
1 comment:
A quantidade de besteiras escritas neste texto demonstram total ignorância.
Fui me dar o trabalho de ver o ano dos meus álbuns do Doors(que já tocavam na Ipanema e na Bandeirantes muito tempo antes do filme, que de resto só colocou a trilha sonora na Atlântida FM).
Lançados em 86/87 muito antes da crônica do ouvinte da Atlântida(que também não são muito melhores que os da Ipanema). Devo dizer que na época já tinha sido um grande evento o lançamento de todos os LP's do Doors, o que restou do filme lançar essa coletânea que a capa é cópia do cartaz do filme, já que público vindo de filme não suportaria nem 1/10 da obra completa.
Vou iluminar sua burrice com uma palavra: Apocalipse.
Esse tipo de leitura é que nos faz entender as pessoas acreditarem em terra plana.
Post a Comment