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Lou Diamond Philips como Ritchie Valens |
Valdez fala que o corolário de La Bamba o
impressionara: ele revela que Hollywood parecia não acreditar que um filme “chicano”
fosse capaz de render um grande box office – ainda mais dirigido e interpretado
por figuras não hegemônicas no campo cinematográfico. O filme, que custou pouco
mais de seis milhões de dólares superou todas as expectativas, rendendo quase
dez vezes mais. Philips acredita que o longa é, ao mesmo tempo, único por
encapsular muitas significações como referência e modelo a ser seguido enquanto
não foi capaz de gerar uma moda latina, embora, como destaca Valdez, a
perspectiva de um filme além dos estereótipos chicanos - como mostrá-los filmicamente como bêbados e violentos ou associados a gangues - é um grande legado da
trajetória de La Bamba.
Como anota Philips, após a experiência de Valdez, o
que se viu nas últimas décadas é um movimento descolonizador do “cinema étnico”,
O que temos visto nos últimos 20 anos é uma comunidade afro-americana se
expressando abertamente e produtores, diretores e roteiristas muito motivados e
determinados”, diz.
Já a matéria de hoje da Rolling Stone norte-americana, citando os 80 anos de Valens, traz entrevista com os integrantes dos Los Lobos. O texto mostra que, assim como o filme mudou tantas vidas a partir do seu lançamento, em 1987, a carreira do grupo, iniciada em 1973, está cifrada no legado musical de Valens. Mesmo depois da prematura morte do guitarrista, em 1959, sua música nuca deixou de ser ouvida e cultuada na região onde ele viveu.
Os membros da banda lembram que, nos anos 70, tanto o
rock dos anos 50 quanto os singles dos raros sucessos de Valens circulavam pela
região, desde através de cópias piratas de discos e fitas cassete quanto por
conta de rádios chicanas, como as borderblasters, na fronteira de Ciudad Juarez
e que, com sua potência característica, fazia ressoar aquelas canções antigas
no imaginário daquelas comunidades latinas. David Hidalgo revela que o contato
com a música de Valens não apenas formou o conjunto quanto fez com que a
família de Ritchie travasse contato com eles. Hidalgo conta que passou a
conviver de forma cotidiana com os parentes do músico, passando a conhecer
detalhes da vida do autor de “Donna”. O corolário dessa relação veio com a
colaboração dos Los Lobos para interpretar as canções do músico no filme de
1987.
Falando em “Donna”, eu lembro de estar ouvindo rádio
lá por 1988, lembro perfeitamente que morava com minha avó e, enquanto
estudava, uma emissora começou a tocar “Donna”. Lembro de ouvir aquela balada
sentimental sem entender qual era a origem daquilo. Naquele tempo, não era o
tipo de música que se ouvia em rádio, ainda mais as de segmento jovem da época.
Não só aquela, como “La Bamba” seria uma das mais tocadas. Foi quando eu
descobri que o filme em questão iria estrelar no Scala – embora a tevê externa
do Cacique anunciasse o filme, como era novidade aqueles telões de calçada. Eu
sempre parava para ver o vídeo de “Lonely Teardrops” e, naturalmente, fiquei
louco para ver. Enfim, eu assisti ao filme e corri atrás dos discos com a
trilha sonora.
Eu lembro que, naquele tempo, eu estava descobrindo
o FM e meu gosto musical anterior ainda era o que eu ouvia no AM e alguns
tentativas como músicas de cinema clássicas ou big bands. Ao mesmo tempo, eu
não gostava lá muito do tipo de música jovem que se fazia, então eu me sentia
totalmente marginal no tocante à música. Acho que foi o impacto do filme e da
trilha sonora que fez com que eu quisesse um walkman e depois passasse a ouvir,
quase que diariamente, rock dos anos 50. Em suma, o filme foi o meu batismo no
rock.
Referências:
Ritchie Valens' birthday legacy
https://www.rollingstone.com/music/music-latin/ritchie-valens-birthday-legacy-1168221/
La Bamba, the lifes it changed
https://www.nytimes.com/2021/05/03/movies/la-bamba-lou-diamond-phillips-luis-valdez.html
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