Friday, May 12, 2017

Love or Confusion


A capa original

Parece que foi ontem que eu ganhei o meu primeiro disco do Jimi Hendrix — cujo álbum de estreia faz 50 anos esta noite.

Lembro que foi na época que os remasters dele estavam aparecendo em CD (depois de um primeiro lançamento, em formato digital, pela Polydor, nos anos 80, mas que não chegou a aparecer muito por aqui). Os CDs estavam aparecendo com uma mixagem excepcional para a época (1997) e, o que era melhor, em versão brasileira.

Quando eu era piá, lembro-me de assistir aleatoriamente na tevê a famosa cena do Jimi tocando o star Spanned Banner naquela manhã visceral e nublada em Woodstock. Achava que ele fosse um músico instrumentista apenas, e essa foi a impressão que ficou comigo por anos.

Fora que, vivendo naqueles tempos em que a internet era mais do que uma utopia, não havia nada mais esquecido do que artistas dos anos 60. E mais do que isso: parecia que o objetivo dos anos 80 era que aquela gente fosse esquecida mesmo. E quase foi.

Um disco do Hendrix, por exemplo. Disputado a manotaços e cachaçadas em sebos, muitas vezes nem paravam nas estantes. Na maioria das vezes, algum colecionador já combinava com o dono da loja que, se aparece o "disco aquele", ele queria e 1 certamente — pagaria a quantia que fosse pelo bolachão.

Por isso que coisas de artistas como o Jimi eram tão escassos que pouco podíamos conhecer. Não havia publicações a respeito. Isso foi por anos, até 1997.

Recordo que o Contracultura, da FM Cultura, fez um especial enorme com aqueles discos. Era a primeira vez que eu certamente ouvia no rádio um cara como o Jimi. Não prestei muita atenção, porém, gravei o programa na época.

Aliás, minto: a primeira vez que eu escutei o Experience foi quando recebi de doação a trilha do Sem Destino. Tinha lá o "If Six Was Nine" (música que eu amigo meu, beatlemaníaco, detestava, como detestava o Experience). Na verdade, aquele disco mudou meu gosto musical: até então, eu não escutava nada de rock que fosse além de 67 (além dos Beatles e Stones, só até a fase Brian Jones, ora veja só que bobagem).

Gostei da loucura dionisíaca de "If Six Was Nine", mas era a única faixa que eu tinha ouvido naquele sentido de colocar o disco na minha própria eletrola e ouvir (essa experiência, com efeito, é essencial para assimilar a música, mais do que a do rádio).

Lembro que pedi de presente de Natal daquele ano a coletânea Experience Hendrix (o Smash Hits só foi relançada recentemente). Não sei o que aconteceu, mas, por um surpreendente delay de um ano, eu acabei ganhando o CD em dezembro do ano seguinte.

Botei o disquinho no meu estéreo e viciei. Fiquei reouvindo aquilo pelos meses seguintes, pensando: meu Deus, isso aqui é o futuro". Não fosse o bastante, fui obrigado a corer atrás de todos os discos. Por sorte, achei num sebo um Are You Experienced (por incrível que pareça, naquele tempo o vinil, mesmo valorizado, valia menos que o compact disc, ainda mais lançamento, porque era um produto ainda muito caro nas lojas.

Lembro de inúmeras chapações e bebedeiras abastecidas pelo Are You Experienced. Aquilo me abriu a cabeça para aquele tipo de rock visceral, que dialogava com outras expressões, como o jazz, até por conta de que Mitch Mitchell, a despeito da idade, era um músico de estúdio experimentado (desculpe o trocadilho) e era totalmente influenciado tanto por fusion quanto por Ronnie Stephenson.

O resultado foi, e é, uma das maiores parcerias da história da música, que é a de Mitch com Hendrix. Mesmo que eles não tivessem nada na cabeça para tocar, qualquer jam furada com ambos era uma experiência (desculpe) profunda, de cabeça limpa, imagine sob influência de outras coisas. Gostava de ficar trancado no quarto ouvindo repetidas vezes o Are You, de preferência, tomando talagaços de vodka (tanto que eu não conseguia escutar aquilo de cara).

O tempo passou, vendi meus discos (cheguei a ter o Band of Gypsies americano, capa linda, provavelmente uma prensagem dos anos 80, selo vermelho). Com a Internet, aí comecei a ouvir muitas outras coisas (muita coisa do tempo dele, e que a gente não tinha acesso). Mas, desde aqueles tempos imemoriais, em que uma informação era quase uma mensagem numa garrafa, hoje é ótimo saber que os anos 60 não foram devastados pelos anos 80 (que também não foram devastados pelos anos 90), e que tem muito guri com a camiseta do Hendrix andando por aí, e isso é realmente um milagre da vida.

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