Monday, May 30, 2011

The Revolution Will not be Televised


Gil Scott-Heron


Nem a morte do genial Gil Scott-Heron serviu para que salientassem o papel seminal dele como agitador cultural, crítico voraz da realidade adversa das minorias raciais e do seu papel como contestador de um futuro sombrio deglutido pela geléia geral da cultura instantânea da televisão e dos meios de comunicação modernos. The Revolution Will Not Be Televised hoje choca mais pela sua atualidade do que nas palavras cruentas que Gil versejava, parodiando slogans, frases feitas, clichês, toda a superficialidade da comunicação midiática. Scott-Heron morreu mas a sua voz vulcânica ainda ecoa nos ouvidos surdos de um mundo de neuróticos. E tudo isso quando chegamos a um estado de coisas em que o próprio protesto acabou sendo esvaziado pela liturgia de pessoas que protestam pelo prazer fútil do protesto, e não vêem as suas vidas sendo consumidas pela gratuidade com que suas vidas acabam se transformando em simulacros ambulantes, ou como diria Exupèry, como se o comodismo das nossas vidinhas embaladas a vácuo e guardadas em caixotes e valises, tudo em nome do bom tom e da ordem e do progresso da nação, todos nos tornamos, com o tempo, em seres de barro, com um hedonismo longa vida, una sua patética impotência de ser, no seu cansaço, na sua falência da mente. A revolução não passará na tevê, não será composta por músicos brancos, não será lida pelo presidente da Academia de Letras, não será comentada no artigo de fundo de jornal, não será discutida em programas dominicais de variedade, nem em transmissões de jogos de futebol.



Também não passará no lixo cultural do Twitter, nem no Facebook, não vai passar em nenhuma rede social e, mesmo que passasse, ninguém ia se importar: se uma bomba cai sobre uma cidade, o sangue de gente inocente, de corpos em pedaços, sem braços, sem perna, e com as vísceras rubras saindo ventre afora, como acontece com os cachorros atropelados, de crianças morrendo de fome, de tanta miséria mental, de tanta falta de vergonha, de toda a inversão de valores, de como o inútil é entronizado e o essencial vai para a bacia das almas, a revolução não passará na tevê, caro Gil Scott, ela simplesmente não vai passar.

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