Monday, May 09, 2011

Crossroads


O rei do Delta Blues


Robert Johnson, cujo centenário é celebrado essa semana, foi entronizado como o maior músico de blues de todos os tempos e definidor de um gênero musical que é a quintessência da alma americana.

No entanto, ele seria apenas uma lenda de um rapsodo do sul dos Estados Unidos e se não fosse por um engenheiro de som visionário chamado H. C. Speir. Como produtor musical numa época em que a Indústria Cultural não se prestava nem como um conceito em sociologia, como diletente, ele saiu à cata de músicos itinerantes que vagueavam pelo Delta do Missisipi.

Speir tinha uma loja de discos em Farnish Street, num bairro negro de Jackson e era uma espécie de descobridor de talentos para selos como a Decca e a Vocalion, numa época em que a virtude de se gravar discos se valia mais pelo exótico do que por um processo ostensivamente ditado pelo mercado.

Para isso, ele usava um equipamento especial para a gravação de demos de artistas que ele achava na rua, registrando tudo em acetato, e mandando para as matrizes dos selos. Foi assim que, sem querer, ele registrou a arte viva e pulsante do blues sulista, de Mississippi Sheiks, Blind Joe Reynolds, Blind Roosevelt Graves, Geeshie Wiley até Charlie Patton, por exemplo.

Muitas dessas gravações foram lançadas em 78 rotações, e mais tarde compiladas em seleções que marcariam época, comono Anthology of American Folk Music, uma seleção desses "acidentes fonográficos" que se tornariam um evangelho para as novas gerações.

O próprio legado musical de Robert Johnson acabou sendo relançado na mesma época do Anthology, porém pela Columbia Records, em 1960, por honra e graça de John Hammond que, assim como Harry Everett Smith, o idelizador da antologia folk que fez a cabeça de gente como Bob Dylan, Dave Van Ronk e o Kingston Trio, se interessou em fazer um revival daqueles discos avoengos.

Talvez Charlie Patton, considerado como o pai de todos os "delta blues singers", seja o maior erxpoente do blues. Contudo, a faustiana lenda em torno da figura de Johnson, como se sabe, é devoradora: o seu carisma viria de sua própria figura transbordante, misteriosa e efêmera, que seria a inspiração de muitos músicos de rock a partir dos anos 60.


Eric Clapton conta que ganhou o King Of Delta Blues Singers de um amigo, e levou tempo para decifrá-lo. No entanto, assim como aconteceu com a maioria daqueles rapsodos do Mississipi, o músico inglês se apaixonou pelo fato de que a genialidade de todos eles era inversamente proporcional à sua reputação. Todos eram subestimadíssimos, e o jovem Clapton se ressentia disso. Por que ninguém dava bola para aqueles gênios do blues?

Robert Johnson, como todos os outros, viveu rápido, foi desassistido, porém misteriosamente aprendeu a tocar violão de forma miraculosa e, graças a um produtor musical maluco, teve suas canções gravadas.

O que seria de Johnson sem H. C. Speir? Depois de ouvi-lo em sua loja, mandou que Robert fosse de mala e cuia para San Antonio, Texas, para uma sessão em San Antonio, no Texas. O contato seria com Ernie Oertle, que o esperaria lá mesmo.

A primeira sessão (de duas) se deu em 23 de novembro de 1936, no quarto 414 daquele hotel, onde a Brunswick (uma subsidiária da Decca) havia improvisado um estúdio. Johnson empunhou seu violão diante do microfone contra a parede e gravou Come On In My Kitchen, Kind Hearted Woman Blues, entre outras.



Um ano depois, ele faria a sua derradeira sessão, já como artista da Bruswick, em Dallas. No total, seriam 12 canções, algumas contando com outtakes (tomadas alternativas da mesma música). Das duas sessões, onze discos foram lançados com Johnson ainda vivo. O material todo só seria relançado, depois de vinte anos de obscuridade, a partir dos anos 60, quando o autor de Crossroad Blues e Me And Devil Blues seria redescoberto.

A Columbia lançou primeiramente dois elepês com parte da produção de Johnson, em 1960 e em 1969. No entanto, uma edição crítica com todas as gravações só viria à lume em 1990, já em formato digital. The Complete Recordings tem as 29 originais, mais 13 outtakes. Junto com aqueles 78 rotações do Hot Five e do Hot seven do Louis Armstrong, dos anos 20, juntos eles compreeendem o evangelho da música negra americana no século XX. O resto é lenda.

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