Friday, October 22, 2010

Teté e o telefone


Larri e Bodinho


Meados da década de 50. semana de Gre-nal.

Os jogadores do Inter estavam concentrados nos Eucalíptos desde quarta. O técnico, Teté, o Marechal das Vitórias controlava seus pupilos: chegava até a procurar obsessivamente macumba em alguma esquina do estádio para ver se não tenha nenhuma amarração, como um sherlock do batuque.

Mais: ninguém podia falar ao telefone. Vai que alguma mala preta falante resolva combinar algo com algum.

Na sexta de tarde, o telefone tocou. Do outro lado da linha, o sujeito, que se recusava a dar o nome, queria porque queria falar com o La Paz (Florindo, Oreco, Chinesinho, Bodinho, Larri, etc), o goleiro.

— Meu amigo, o La Paz não pode atender, meu amigo — respondeu Teté — só passo recado, o que você quer falar com ele? Diz aí que eu transmito o recado.

— Mas eu preciso falar pessoalmente com ele — gemeu o sujeito do outro lado.

— É, mas não dá. disse o treinador. e bateu o telefone.

Duas horas depois, o telefone toca. É a mesma voz, o cara queria falar com o La Paz.

— Mas quem raios é o senhor, o que o senhor quer tanto falar com ele — indignou-se Teté.

— È...bem...eu sou um amigo. É que, olha só, este é um assunto particular, sócom ele mesmo...

— E o telefone não parava. O sujeito talvez quisesse que outra pessoa que não Teté atendese e ele conseguisse falar com o La Paz. Chamadas caiam por toda a noite de sexta e o sábado. quando atendia, era sempre a mesma coisa, e o sujeito não queria se identificar de jeito nenhum.

Domingo de manhã: a mesma coisa. Dirigentes do Inter estavam começando a trocar olhares significativos. O que estava acontecendo?

— Mas eu preciso falar como La Paz! Eu preciso falar com ele! — dizia o angustiado interlocutor de Teté.

— Eu dou o recado — respondeu Teté, com uma paciência insuportável.

— Poxa, mas tem que ser com ele mesmo. É particular! Olha só, é o Teté, né? seu Teté, não tem como o senhor me fazer esse favor e arrumar um jeitinho? Pelo amor de Deus, seu Teté, faça isso por mim! Por favor! Olha só, eu, ele nem tem que sair dos Eucaliptos, é só ir até o portão da Silveiro, eu falo bem rápido com ele e aí o La Paz pode voltar para a concentração, não tem problema nenhum!

Meio-dia, toca o telefone. Teté inexpugnavelmente bloqueia o sujeito.

Vencido, ele diz:

— Tá bom.... Mas o senhor me promete que vai dar o recado para ele, seu Teté?

— Prometo. Fala aí, rapaz.


— Então....então diz prá ele que já tá tudo acertado, conforme o combinado, viu? Tá tudo OK. Tchau!

No comments: