Saturday, January 22, 2011

O Caso Dreyfus e o espírito de manada


O livro

Esses dias eu estava pesquisando sobre o Caso Dreyfus e, eis que de repente, me caiu nas mãos um livro excelente sobre o episódio. É "O Caso Dreyfus: Ilha do Diabo, Guantánamo e o Pesadelo da História" (Companhia das Letras, Louis Begley, 232 págs., R$ 45).

A história é conhecida, porém não muito conhecida por todos. A idéia de Begley foi fazer o que todo jornalista faria para rerquentar um assunto antigo: criar um gancho entre o fato pretérito e a atualidade, e essa é a grande sacada do livro.

O autor pegou o caso do oficial judeu do exército francês que foi injustamente acusado de espionagem. Alfred Dreyfus foi apontado como autor de uma carta suspeita encontrada no gabinete do tenente-coronel Schwarzkoppen, então adido militar alemão.

Alguém fazia espionagem para os alemães. Dreyfus seria o único suspeito de ter escrito o borderô, foi levado a um tribunal e condenado ao degredo na Ilha do Diabo.

O caso dividiu a opinião pública entre os "dreyfusistas" e não-dreyfusistas". Begley pega o caso para comparar com a querela dos condenados à morte em Guantanamo pelos atentados de 11 de setembro.

Ao compará-los, ele nota uma semelhança entre o antissemitismo que grassava na França no fim do século XIX e o preconceito contra muçulmanos perante a opinião pública norte-americana.

Ou seja, se para muitos franceses, na época da degradação de Dreyfus, ele foi parar na Guiana porque merecia, muitos americanos (segundo pesquisa mencionada no livro), independente de qualquer lisura no julgamento dos suspeitos, eles estariam presos por algum motivo, mais precisamente esse pré-julgamento é motivado pelo fato de serem muçulmanos.

Louis Begley faz um paralelo genial entre o clima de antissemitismo francês e a forma como Marcel Proust retrata aquele momento histórico em sua obra, inclusive na Recherche.

Em Em Busca do Tempo Perdido, ele demonstra que a cocote Odette de Crècy, pafra conseguir estabelecer um núcleo de diletantes e artistas em seus soareés, ela fazia questão de demosntrar que era contra Alfred Drayfus.

Logo, perente a opinião pública, a questão acabou saindo dos meandros bizantinamente judiciais para uma esfera totalmente diversa. Enfim, tratada com toda a superficialidade que qualquer tipo de preconceito requer, mesmo no caso dos prisioneiros de Guantanamo. Louis fala: é claro que existem de fato criminosos que merecem estar ali, mas o julgamento a que eles são submetidos é tão torpe quanto à do tribunal militar que transformou Dreyfus num inimigo do povo. É judeu? Então é culpado.

Proust, (que era ascendência judaica por parte de mãe), também comenta que, após a compovação que o ofocial era inocente, a história cuidou de apagar o episódio nos anos seguintes.

Emile Zola foi quem resolveu jogar a carreira de escritor pelo alto e escreveu uma carta aberta a Felix Fauré, presidente da França, no L'Aurore. O texto, hoje notório, foi o ápice da carreira do escritor de Germinal e a sua desgraça. Zola acabou virando tão mártir quanto Alfred Dreyfus. Bergley salienta que o que Emile Zola mais queria era se tornar membro da Academia Francesa. Depois de publica o seu implacável "Eu Acuso", se tornou um pária: se candidatou enão recebeu nenhum voto.

O clima era exasperador: o tema acabou dividindo o país de tal forma que criou uma cisma onde judeus eram perseguidos, ao mesmo tempo em que o Caso Dreyfus virou um mote para que republicanos e monarquistas rilhassem os dentes. Um julgamento de um oficial abalou a França na última década do Século retrasado.


O libelo de Zola

Zola mudou os rumos do processo contra o oficial francês mas pagara o preço de sua bravura: foi condenado por difamação e se viu obrigado a exilar-se na Inglaterra. Além da injusta degradação à Ilha do Diabo por cinco anos, a revisão do processo provou, quase uma década depois que o autor do borderô era o major Walsin Esterhazy. Ele não foi condenado, fugiu da França e continuou a combater os dreyfusistas.

No fim das contas, o livro de Louis Begley mostra pelo menos uma evidência: a história gagueja e que o calor da hora dos acontecimentos é a moldura ideal para que fatos, instituições e pessoas sejam corrompidas pelo espírito de manada de todos nós em julgar a sorte de tudo e de todos.

Wednesday, January 19, 2011

Três Apitos *


A antiga Confiança, hoje um supermercado


Nos seus tempos de estudante de Medicina, em 1931, Noel Rosa estava dividido entre dois amores. De um lado, Clara, a Clarinha, de Vila Isabel, que se dava com a mãe do poeta, e era vizinha do jovem sambista. Ela e Noel tinham um relacionamento de quatro anos, mas a cada ano, ela tinha cada vez mais dúvidas com relação aos reais sentimentos dele. Ela sabia de uma outra menina de quem o poeta gostava — Josefina. O curioso é que, sempre que achava que tudo estava perdido entre os dois, a jovem tinha o apoio de alguma irmã, que lhe inspirava confiança.

Enquanto a relação com Clarinha era do tipo “namorou, é pra casar”, Josefina não lhe exercia qualquer pressão. Mas Josefina era a mais ciumenta das duas, e não gostava dos famosos “sumiços” do compositor pelo Rio de Janeiro. Enquanto Clara suportava o poeta com uma paciência de Jó, Fina ameaçava quebrar o violão de Noel se não se explicar. Fina e Noel faziam cena, mas se gostam.

Viramundo — Um dia, dona Iracema, a mãe de Fina, decidiu que todas deviam trabalhar. Ela e sua irmã, Bazinha, se empregaram em fábricas do Andaraí. A primeira, na Hachiya, indústria de botões, e a segunda, em numa fábrica de tecidos, a América Fabril — então, uma das mais importantes da velha Capital Federal.

Constrangida com o emprego e com medo da marcação cerrada do Poeta da Vila, Josefina pediu aos seus familiares que não revelassem ao namorado o seu local de trabalho — até porque ela gostava de se sentir livre. Mas Noel era implacável: agora ele tinha comprado um carro, um velho Chandler preto, que apelidou com o singelo nome de Viramundo.

Na verdade, o automóvel foi uma aquisição interessante. Para quem não sabe, além de cantor, Francisco Alves era agenciador de veículos. Aliás, o “Rei da Voz” foi o primeiro marqueteiro da nossa música. Como a parceria dele com a insuperável dupla Ismael Silva-Nílton Bastos (“Adeus”, “Se Você Jurar”) havia acabado, ele decidiu “alugar” Noel por uns tempos. Para tanto, o poeta assinaria um contrato segundo o qual teria que pagar as prestações do Chandler em... sambas fresquinhos!

Cada samba composto era apresentado a Chico Viola, que abatia as prestações como promissórias. Agora, com o calhambeque, Noel podia estar mais perto de Fina. Só faltava descobrir em qual fábrica ela trabalha.

Um dia, andando pelo Andaraí e suspirando debruçado sobre o volante do Viramundo, ele encontrou a jovem na multidão, caminhando como se corresse contra o tempo, na hora do almoço com a marmita debaixo do braço, próxima à entrada da Companhia América. Sem saber que Fina levava a marmita para Bazinha, ele concluiu que sua musa trabalhava na tal fábrica de tecidos.

A partir de então, o poeta bateu ponto diariamente ali, no fim do expediente. Em seus arroubos apaixonados, Noel parecia ouvir silvos de um apito de fábrica. Na verdade, não eram nem da Hachiya, nem da América, mas sim da Confiança (de propriedade do pai de João de Barro, o Braguinha, amigo de Noel e parceiro musical em “As Pastorinhas”), que ficava perto da casa do compositor, em Vila Isabel. E foi com o silvo matinal da fábrica que o apaixonado sambista compôs uma de suas mais belas composições, “Três Apitos”:

Quando o apito
Da fábrica de tecido
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
Ou está interessada em fingir que não me vê
Você que atende ao apito
De uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina
Do meu carro?



Na verdade, o som do apito é licença poética de Noel, que utiliza o estrépito para enfeixar em sua memória a lembrança da amada sempre que o som “vem ferir os seus ouvidos”. Segundo Carlos Didier e João Máximo, biógrafos do compositor, a confusão toda se deve ao fato de que ele achava que Fina trabalhava na América, e ainda incluiu o apito da Confiança. Como muitos associavam a fábrica pelo toque do apito, pensava-se (e pensa-se) que ela trabalhava na Confiança.

O caminho entre a casa de Josefina e Bazinha e a fábrica era longo, o que obrigava as duas a madrugarem para chegar a tempo no trabalho. Elas percorriam todo o percurso juntas, às cinco da manhã, e às cinco da tarde, quando Fina voltava sozinha. Para um trabalho simples, elas usavam roupas simples, sapatos de salto baixo e sem meias — detalhe que não passou desapercebido a Noel, que as via passar, com os olhos cerrados sob o chapéu, observando de longe e quase incógnito, dentro daquele carro velho e com a pintura descascada, o longo e tortuoso passeio que sua namorada fazia de casa até o trabalho.

Ele se enterneceu de vê-la tentando esconder dele que a jovem trabalhava numa reles fábrica de botões de osso e madrepérola e a entendeu. E escreveu:

Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé com agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo
Artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz réclame de você



Poeta Soturno — Mais aflito do que o grito da buzina do Viramundo era Noel, ao ver Fina desacompanhada e quase sempre à mercê do assédio de um certo contramestre da fábrica, Jerônimo da Encarnação, que sempre tentava puxar conversa com a moça. Noel tanto insistiu com a jovem que ela finalmente cedeu, e contou onde trabalhava. Então ele se deu conta do engano. Era na Hachiya e não na América!
Aqui, ele anotou mais quatro versos ao samba:

Nos meus olhos você lê
Como eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens
A você


O contramestre cercava Josefina com indisfarçada insistência, com propostas e galanteios. Ela se esquivava, apontava para aquele calhambeque parado longe, no outro lado da esquina, e dizia ao homem: “Olha lá o seu poetinha. Ele está te esperando...”. Era Noel, o “malandro medroso”, mas sempre vigilante e quase incógnito, cuidando os passos da menina em marcação cerrada, por detrás do volante do seu inefável Chandler.

Sou do sereno
Poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe por quê
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Esses versos pra você.



No fim, ele permaneceu no equívoco em favor da rima pano/piano, já que ela fazia botões. Porém, mesmo com tanta confusão, o certo é que “Três Apitos” foi dedicada a Josefina. Noel Rosa revelou, em 1936, que este samba resumia o “romance mais sincero de minha vida gloriosamente romântica”.



Ele diz “que outra operária de fábrica se encaixaria nesta canção”. O dado curioso sobre “Três Apitos” é que, talvez por ser confessional demais (ou romântica demais. Ou confusa demais), Noel resolveu pôr defeitos na canção. Mesmo com achados poéticos diversos (até para uma época em que o gênero samba ainda lutava para se livrar de versos simplórios), o poeta acreditava justamente o contrário. Já o piano em questão também era mais uma licença poética de Noel, que como “pianeiro”, era um grande violonista.

Por conta do “desprezo” do poeta por “Três Apitos”, ela permaneceu inédita por muitos anos. Chegou a ser gravada na época em acetato por Orlando Silva (verdadeiro achado, catalogado na coletânea Noel Rosa — O Poeta da Vila, da gravadora Revivendo) em 1936, mas com versos a menos. A primeira versão “oficial” ocorreria apenas em 1951, na voz de Aracy de Almeida — cantora para quem ele dedicou a música, na época. Localizada por uma emissora de TV em 1984, Josefina disse: "Noel para mim fez apenas o 'Três Apitos', apesar de, em um dia de pileque, ter dito que eu tinha um riso de criança" (“Riso de Criança” era outra composição do Poeta, também supostamente inspirada por Fina). Aracy, que teve a primazia de levar o nostálgico samba em disco, revelou:

— Noel fez esse samba na Taberna da Glória, na hora, e me deu. Foi para mim que ele fez esse samba. Ele também fez música para mim.

Contudo, para alguns críticos, a mais bela versão de “Três Apitos” é a de Maria Bethânia, gravada em 1965, com Rosinha de Valença ao violão, em estilo intimista, bem como pede a letra.

Mas, e quanto aos tais três apitos? O maestro Homero Dornellas (aquele que botou na pauta o primeiro sucesso de Noel, “Com que Roupa?”, já que o compositor não sabia ler música), contou que, ao invés de três, a fábrica apitava nove vezes ao dia. Carlos Didier e João Máximo explicam: certamente que o título se refere aos que a Confiança soava pela manhã.

O primeiro, às quinze para as seis, para acordar os operários da redondeza. O segundo, às sete, o mais longo, que marcava a hora da entrada. E o terceiro às quinze para as oito, para os retardatários...



* Texto publicado originalmente por este escriba em 2004. Sinceros agradecimentos ao Museu da Canção (http://museudacancao.multiply.com) que o reproduziu: eu já não tinha mais o original...

Monday, January 17, 2011

Soul Men







No domingo, de madrugada, vi um filme que jamais tinha ouvido falar: Soul Men - Homens do Soul, com Bernie Mac e Samuel L. Jackson e participação especial de Isaac Hayes. Também foi o último filme de Hayes e Mac. A história é uma grande sacada. Com a morte da lenda do Soul Marcus Hooks (John Legend), a VH-1 promove uma festa de despedida para o ídolo e convida seus antigos parceiros Louis Hinds e Floyd Henderson para cantar, o The Real Deal. Só que os dois não vivem mais da música há muitos anos. Floyd Henderson (Bernie Mac) é gerente de um lava-rápido e Louis Hinds (Samuel L. Jackson) é um ex-presidiário. Os dois vivem em Los Angeles e têm que viajar até Nova Iorque, já que o show será no tradicional Apollo Theater. Como Hinds se nega a ir de avião, os dois atravessam os Estados Unidos num Cadillac, misturando exibições e confusões. O diretor Malcom D. Lee conduz o filme com mão segura, transformando a história numa excelente comédia. Bernie Mac está extraordinário, talvez seja o seu melhor filme. Samuel L. Jackson é o mesmo de sempre, seguro e competente. A trilha sonora também é um espetáculo. Para começar, tem Isaac Hayes. Abaixo, a lista das músicas e o link para download. Vale a pena. Alugue o filme, procure na programação da Net, baixe o álbum e curta. Eu curti.

Link: http://depositfiles.com/pt/files/3oom21qet

Song Title Artist Time
1. Soul Music Anthony Hamilton 2:58
2. I'm Your Puppet Bernie Mac 4:05
3. Private Number Chris Pierce 3:08
4. Water Me'Shell Ndegeocello 3:14
5. Never Can Say Goodbye Isaac Hayes 5:16
6. Boogie Ain't Nuttin' (But Gettin' Down) Bernie Mac 4:10
7. Just Dropped In (To See What Condition My Condition Was In) Sharon Jones and the Dap Kings 2:59
8. Memphis Train Ryan Shaw 2:53
9. Comfort Me Sharon Leal 2:31
10. You Don't Know What You Mean (To a Lover Like Me) Sugarman 3 3:30
11. I've Never Found A Girl (To Love Me Like You Do) Eddie Floyd 2:44
12. Do Your Thing Bernie Mac 13:54

Saturday, January 15, 2011

Leia o Livro (3)


Ronnie Spector


Uma das curiosidades do Vida, do Keith Richards é um singelo romance de estudante entre o guitarrista dos Rolling Stones e a líder das Ronettes, Ronnie Spector. Ele diz que eles se conheceram durante a primeira turnê britânica do trio, em 1964 — quando o póprio quinteto liderado por Brian Jones também iniciava a sua carreira nos palcos, após o lançamento do primeiro álbum homônimo, lançado naquele ano.

Keith diz que eles se conheceram e foi amor à primeira vista. Era uma paixão tão pura que eles nem sabiam o que fazer com aquele sentimento. Se encontravam às escondidas, principalmente porque entre eles estava ninguém menos que Phil Spector.

O produtor norte-americano namorava Ronnie à época, e como é notório, ele fazia uma marcação cerrada sobre a garota. O idílio teria turado pelo menos um mês. O curioso é que, a despeito disso, através de Andrew Loog Oldham, Phil estava trabalhando regularmente com os Stones (ele co-produz o primeiro álbum da banda, e o Out Of Our Heads, de 1965, inclusive tocando baixo em Play With Fire, lado B de Satisfaction).

Mas a fábula em torno disso é que, em sua autobiografia, Eric Clapton também menciona um possível amor de carnaval entre ele e a líder das Ronettes, inclusive com riqueza de detalhes; contudo, assim como Keith, era uma paixão de estudante. Como o Clapton fala, naqueles tempos, todos era realmente muito inocentes, e não sabiam o que era levar um amor a sério. E Ronnie, uma garota na flor do tesão dos seus dezenove aninhos, mulata jambo, com ancas intransponíveis, seios de granito, pele de seda, voz de boneca e um rosto desesperadamente lindo de cherokee e cabelo bolo-de-noiva, era o maior partido do show-biz. Quando cantava Be My Baby, então...

Com o tempo, Spector transformou-a numa prisioneira. Mantinha a garota presa em sua mansão, sob a mira de um revólver, com um caixão dourado no porão, esperando uma possível infidelidade. Loucura é pouco.

Mas voltando ao Slowhand: ele diz que Ronnie gostava dele porque Eric era, segundo ela, parecido com Phil. Clapton achava isso estranho, mas não deu muita bola. Tipo "se ela gosta de mim porque eu sou parecido com ele, o azar é dele".

E Eric e Phil não se conheceram na época do idílio. Ele só foi conhecer o famoso produtor durante as gravações do All Things Must Pass, em 1970. Foi quando ele se recordou das palavras de Ronnie: realmente, ele e Phil tinham uma mórbida semelhança — mas só por fora, é claro.

Leia o Livro (2)



Sobre o seu aprendizado com a guitarra, Keith aponta dois momentos cruciais: a primeira, quando ele aprendeu todo o seu repertório possível de riffs e acordes para começar a se sentir um músico profissional. Sobre isso, Richards diz que formou o seu caráter tocando violão acústico. e diz:

— Acredito piamente que, se você quer ser guitarrista, é melhor começar tocando violão acústico e depois passar para o elétrico — revela. — Não acho que você vai virar outro Townshend ou um Hendrix só porque pode fazer uíí uíí uah uah, e todos aqueles efeitos eletrônicos dos guitarreiros. Primeiro, vá conhecer direitinho o instrumento. E vá dormir abraçado com o seu violão. Se não tiver uma gata à mão, você dorme com o violão. Tem o formato certinho.

O outro momento crucial em sua carreira foi quando ele começou a perder a colaboração seminal do fundador dos Rolling Stones, Brian Jones, durante as sessões de gravação. Ao mesmo tempo, enquanto ele vivia a entressafra de shows, em meados de 1968, Keith passou a se interessar por slide e por afinações abertas, mais especialmente em Sol aberto.

Isso fez com que Richards passasse a tocar com uma corda a menos na guitarra. O corolário disso tudo foi que o guitarrista dos Stones criou um timbre muito particular para os seus riffs. Em Vida, ele salienta que isso acabou se tornando uma forma de deixar uma marca registrada nas músicas. "se você ver, quando alguém tenta tocar um riff meu numa afinação normal (standard tuning), nunca sai a mesma coisa", explica.

Um exemplo típico de timbre característico do Keith Richards num riff clássico:

Leia o Livro (1)


A capa


Se você tem alguns morlacos sobreando e gosta de rock, faça um favor a si mesmo: compre a biografia do guitarrista dos Rolling Stones, Vida. O livro é simplesmente um dos depoimentos mais interessantes do gênero, além de larçar uma luz particular sobre a obra da maior banda de rock de todos os tempos e, ao mesmo tempo, servir de evangelho a todo aquele que quiser um dia empunhar uma guitarra e seguir os passos de um gênio da raça, nascido em Dartford, Inglaterra, há 67 anos.

Aliás, a rigor, a história todos vocês conhecem: o detalhe do Vida é, justamente, as histórias e a forma bem-humorada em que Keith revela vários episódios pitorescos de sua carreira.

Uma delas: Keith Richards na biografia diz que, durante um recesso numa turnê australiana, ele morou dez dias com uma mulher com um bebê em Melbourne. O Keith então diz que ficava em casa de babá com a criança enquanto a mulher passava o dia fora, trabalhando. No fim, arremata:

— Tem um cara de seus 35 anos que anda prá lá e prá cá em Melbourne que não sabe que eu limpei a bunda dele quando ele era criança — diz.

Friday, January 14, 2011

É o Amor



Quem disse que o dinheiro não traz a felicidade, meu caro hipócrita leitor?

Wednesday, January 12, 2011

Ficha Suja

Para fins de uma possível admissão, o RH me solicitou que eu retirasse no Tudo Fácil (aquele serviço de atendimento integrado do governo estadual, prá quem não sabe) um atestado de bons antecedentes. Eu nunca tinha feito nada disso antes. Aliás, eu nem sabia que existia esse tipo de coisa.


E lá fui eu. Não entendo nada desse tipo de coisa. O que me ocorreu durante o trajeto do RH até o posto de atendimento foi: será que eles sabem alguma coisa que eu fiz e que eu acho que tenha permanecido encoberto, obscuro, apócrifo?

E se eles na verdade eles sabem de tudo o que eu sei e eu não sei que eles sabem e nem desconfio, sei lá? Se porventura sabem de todos os meus pensamentos, de todas as coisas sórdidas que eu tenha feito? Eu acho que não fiz nada — não deva ter feito nada que ficasse registrado em alguma coisa. Claro que, a rigor, toda a minha incúria estava em jogo: não sei como se verificava esse tipo de coisa. Mas é aquela coisa: nunca se sabe...

Fui atrás da tal fila. Cheguei lá, quase não tinha fila. Tinha só duas pessoas na minha frente.

Vi o rapaz quando chegou a minha vez e entreguei-lhe a minha cédula de identidade. "Não leva muito tempo", assegurou-me a moça do Recursos Humanos. Eu: "bom, tudo bem".

De fato, o expediente era simples: o rapaz lia o número do registro, digitava no teclado e aparecia o tal documento para impressão. Ele clicava o Ctrl+p e mandava para a impressora.

O cara da frente não levou mais de um minuto para pegar o atestado dele. O outro também. Chegou a minha vez.

O rapaz pegou a minha identidade, leu o RG, digitou o número. Ficou estatelado olhando para a tela — que, com efeito, estava contra mim. Absorto, ele começou a fazer uma aterradora cara de estupefação.

Eu fiquei apreensivo. Meu Deus, o que diz ali? Ele parecia correr a vista em alguma coisa pavorosamente extensa. Esbugalhava os olhos, batia a Bic ritimadamente na mesa. Levou a mão ao rosto: pelos olhos dele, ele lia algo enorme, algo estarrecedor, sabe-se lá o quê. Mandou para a impressora.

Foi-se a primeira folha. Mais uma, outra mais. Eu achando que era só uma folha, quando eu comecei a contar a partir da quarta, fiquei silenciosamente desesperado. O que tem ali de mim, meu Deus? Puta que pariu. Queria um emprego e vou para a cadeia? Maldita hora! Prá quê eu fui pedir um atestado de bons atnecedentes? O c ara tá é imprimindo a minha ficha corrida no crime!

Me lembrei de atraques no Bomfim, em balbúrdias em balneários, numa vez que eu arranquei um cavalete na Mauá, outra que eu mijei na cabine telefônica, caramba, eles descobriram tudo, estou perdido! Me lembrei da vez que a Brigada me parou no meioi da rua em frente à Rodoviária de Capão da Canoa porque eu estava podre de bêbado brincando de guarda de trânsito. Eles me recolheram e me mandaram para a emergência. Meu Deus Nosso Senhor, eles sabem de tudo de mim, tudo, tudo!

Já tava na décima quinta (ou décima sexta. Ou sétima. Sei lá) folha e eu imaginando dois Pedro e Paulo imaginários me pegando pelo braço ali mesmo na fila do Tudo Fácil direto para um saia-e-blusa da Salgado Filho direto para a Área Judiciária! Já sei! Foi tudo uma cilada! O pessoal do RH orquestrou tudo isso para que eu fosse preso, eles estão dentro da conspiração contra mim!

— Tô fudido... — gemi em surdina.

— O que o senhor disse? — perguntou o rapaz.

— Eu? Nada — ri amareladamente. — É que são quase duas e meia e eu vou perder o Vale a Pena Ver de Novo! — despistei.

— Ah.

A impressão terminou. O cara pegou o maço de papel, emparelhou-as na mesa, grampeou e — surprendentemente — chamou um outro funcionário. Eu já estava com as mãos crispadas no balcão, a típica imagem do desespero.

Veio o outro cara. O balconista pegou as folhas e deu para ele:

— Taqui as tablaturas do Pantera que tu me pediste.

Eu: hein? Olho de soslaio para a impressora, ela ejeta uma singela e solitária folha de papel. O rapaz pega ela com delicadeza, aponta para mim e diz:

— Aqui está senhor.

Ato reflexo, eu peguei com violência o papel das maos dele e corro a vista: Cosntatamos que o senhor fulano de tal está etc. Não tinha nada!

Fui embora lívido, nem agradeci ao pobre diabo. Quando eu desci as escadas até a Borges e ganhei a rua, respirei fundo.


Eu era um novo homem.

Monday, January 10, 2011

O Jogo do Século

A "Barriga" é um jargão do jornalismo para designar deslizes cometidos por repórteres e jornais quando eles não checam uma informação e acabam franqueando uma pseudonotícia. Ou quando divulgam uma notícia como certa antes do tempo — na ânsia de ter a primazia do fato consumado e levam um capote das ciscunstâncias.

Poderia citar dois exemplos recentes: em julho do ano passado, a imprensa deu como certo o nome do Muricy Ramalho na Seleção. Saiu reportagem, perfil, primeira página para o Muricy, que jamais iria negar o convite — e negou.

O outro exemplo — o do sábado passado — bom, deixa para lá.

Ao invés de citar o mais recente, vou recordar a mais clássica das barrigas jornalísticas da imprensa gaúcha de todos os tempos — conhecida como O Jogo do Século.


Na tarde do dia 23 de junho de 1972, um conhecido jornal de Porto Alegre recebia um curioso e instigante telex.

ATENÇÃO DIRETORIA DE ESPORTES DE ZERO HORA. AQUI É DA TRIBUNA DO ESPORTE, DE SALVADOR, BAHIA. GOSTARÍAMOS DE SABER SE TEM FUNDAMENTO A NOTÍCIA DE QUE A SELEÇÃO DA CONCACAF VAI JOGAR CONTRA O FORTES E LIVRES DA CIDADE DE MUÇUM, CAMPEAN DO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL. FIZEMOS ESCUTA NA RADIO BANDEIRANTES E ESTA NOTÍCIA FOI DIVULGADA. EIS O TELEGRAMA:

Salvador (Sucursal) Depois de encerrar a sua participação na Mini Copa, promovida pela CBD, a Seleção da Concacaf (N.E: Confederação de Futebol da América Central) prepara-se agora para uma série de jogos amistosos no território nacional. A primeira partida, segundo os dirigentes da delegação, será realizada na até agora desconhecida cidade de Muçum, no Rio Grande do Sul, "numa homenagem dos povos do Caribe àquela cidade irmã, uma vez que temos em nossas ilhas uma localidade chamada "Muzzum". No Rio Grande do Sul, a Seleção da Concacaf enfrentará a equipe do "Fortes e Livres", de Muçum, e a renda será destinada a instituições beneficentes. Mesmo assim, a Seleção do Caribe receberá uma quota de 5 mil Dólares.


LIGAREMOS MAIS TARDE A FIM DE SABER A RESPOSTA. GRATOS, LUIZ CARLOS MAIA - EDITOR DE ESPORTES.


Ao tomar ciência da história, o jornal tratou de destacar repórteres para entrevistar o presidente do Fortes e Livres, que também era o prefeito da cidade, localizada a 52 quilômetros de Porto Alegre. Ao saber da boa nova relatada pelo jornalista, o homem aceitou o convite, incontinente. Embalado pela espectativa, a Zero Hora berrava, na capa: "MUÇUM ACEITA JOGAR COM CONCACAF". A matéria terminava assim: "O prefeito de Muçum já telegrafou ao diretor de futebol da CBD (antiga CBF, para quem não sabe), Antônio do Passo, confirmando o interesse pelo Fortes e Livres em disputar uma ou duas partidas amistosas com a Seleção do Caribe, atualmente na Bahia participando dos jogos classificatórios da Taça Independência...".

O Estado de São Paulo da mesma data, por sua vez, detalhava a história sobre o telegrama e a CBD: "pedindo sua intercessão junto ao caso e explicando que os centro-americanos não recusarão o convite, porque deverão jogar na cidade onde o nome é idêntico ao de uma cidade do Caribe, de onde três dirigentes são naturais..."

Dia 24, mais um telex aparecia. Dessa vez, na redação da Folha da Tarde:

BOM DIA. PRECISAMOS DE UM FAVOR AÍ DOS AMIGOS DA CALDAS JÚNIOR. FICAMOS SABENDO AQUI NA BOA TERRA QUE A SELEÇÃO DA CONCACAF ESTARÁ NO RIO GRANDE DO SUL NA PRÓXIMA SEMANA PARA JOGAR CONTRA O CAMPEÃO DO INTERIOR DO ESTADO, FORTES E LIVRES DA CIDADE DE MUÇUM. A INFORMAÇÃO FOI TRANSMITIDA ONTEM POR UM REPÓRTER DE UMA EMISSORA CARIOCA QUE ENTREVISTOU O SENHOR ANTÔNIO DO PASSO. ELE RECEBEU TELEGRAMA DESSA CIDADE GAÚCHA PEDINDO PERMISSÃO PARA O JOGO E FICOU TUDO ACERTADO. PRECIDAMOS SABER ALGUMA COISDA AÍ DOS AMIGOS DA 'FÔLHA DA TARDE', POIS QUEREMOS FAZER UMA BOA MATÉRIA COM A SELEÇÃO DA CONCACAF UMA VEZ QUE O FATO ABRE UM PRECEDENTE NO ESQUEMA DA CBD.

CARLOS RICARDO, EDITOR DE ESPORTES DO JORNAL 'TRIBUNA DO ESPORTE', SALVADOR, BAHIA.

No outro dia, José Inácio Werneck (que hoje trabalha na Gazeta Esportiva), então no Jornal do Brasil, comentou o fato em sua coluna diária: 'o prefeito de Fortes e Livres de Muçum existe. É um time de futebol. De Muçum, no Rio Grande do Sul. Acaba de convidar a Concacaf para um amistoso. A idéia do prefeito, que justificou a iniciativa dizendo haver na Nacarágua uma cidade com o nome de Muzzum. Como se vê, uma trágica coincidência. Mas, senhor prefeito, que culpa tema torcida? A homofonia não devia dar à Concacaf e ao Fortes e Livres o direito de conspirar contra a bola. Eles não são da bola e nem a bola é deles. A bola, há muitos anos, é de Pelé'.

A 'Folha' do dia 26 de junho complementava o telegrama da CBD, e repercutia a goleada sofrida que o Fortes e Livres havia tomado, após cair de quatro diante do Guarani de Garibaldi, pela Copa Governador do Estado. Já Zero Hora destacava uma página inteira com o presidente do afortunado clube, que à estas alturas, já ganhara destaque nacional. A matéria, intitulada 'O SONHO DE UM PREFEITO, VER A CONCACAF EM MUÇUM', ainda documentava reprodução do fonograma urgente remetido pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF), à época presidida por Rubens Hoffmeister, ao Fortes e Livres, onde se garantia a cota de US$ 5 mil e o custeio de todas as despesas do clube por parte da entidade. Ao ser interpelado sobre aquele que seria o 'jogo do Século', o presidente anunciava melhoramentos no estádio do Fortes e Livres, incluindo gramado e novas arquibancadas

— Será uma recepção que eles jamais esquecerão — garantia.

Já o diretor de futebol do Fortes, mesmo a despeito da goleada sofrida pelo Rio-Grandense, semanas antes, polemizava:

— Talvez a gente não ganhe o jogo, mas posso adiantar tranqüilamente que iremos complicar — desafiava, orgulhoso de seu exuberante escrete. — O time nunca esteve em tão boa situação como agora.

No fim da entrevista, o prefeito de Muçum, que já fazia correr um livro de ouro angariando verba para a reforma do 'fortim' do Fortes, contabilizava:

— É possível que a gente receba deles um convite para realizar uma gira pelos países da América Central. Isto acontecendo, e se tivermos todas as nossas despesas pagas, é bem provável que a gente aceite.

Foi quando a diretoria do Fortes e Livres recebeu ligação de um jornal paulistano pedindo a confirmação do jogo. Em seguida, a FGF despachou telegrama ao clube de Muçum, avisando que a CBF, na figura de Antônio do Passo, iria tratar pessoalmente da questão, e que tudo era apenas questão de tempo.

No outro dia, a coluna Sem Pulo da Folha avisava:

VERBA

Se depender da Câmara Municipal de Muçum, sai mesmo o jogo entre a Concacaf e Fortes e Livres. Foi aprovada a verba necessária para trazer a seleção da América Central.

A edição do dia 27 do pelotense Diário Popular, também se referia ao jogo e aproveitava para dar uma corneteada no time: "assim, pode ser que a Seleção do Caribe saia do Brasil com uma vitória, porque na Minicopa ela só perdeu". No mesmo dia, o carioca Correio da Manhã trombeteava que só faltaria decidir a data do "Jogo do Século".

E confirmava: "A Federação Gaúcha de Futebol está tratando de todos os detalhes do jogo e pagará todas as despesas da vinda da seleção, mais a cota de US$ 5 mil".

Na manhã de 28 de junho de 1973, a Zero Hora mancheteia: "FEDERAÇÃO NEGA JOGO DA CONCACAF E FORTES E LIVRES NA CIDADE DE MUÇUM".

A matéria explicou: primeiro o supervisor pensou que fosse gozação e procurou dentre os fonogramas que a Federação enviou e não encontrou nenhum dirigido ao Fortes e Livres. Resolveu então telefonar para Antônio do Passo da CBD, que nada sabia da partida e até indicou o secretário de futebol, Abílio de Almeida, para tratar do assunto. O prefeito de Muçum e presidente do clube já havia enviado telegrama à CBD pedindo conformação das datas.

Depois de tudo, e da explicação de que o Fortes estava já encaminhando as reformas do estádio para receber a Concacaf, foi difícil convencer os dirigentes do clube que os fonogramas eram falsos e que os telefonemas que ele havia recebido eram trotes. Colérico, o prefeito foi à Porto Alegre tratar pessoalmente do assunto. Já o supervisor da Federação avisou que a brincadeira já havia ido "longe demais", até porque haviam inclusive falsificado a sua assinatura.

Também solicitou à CRT (ex- Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações, hoje Brasil Telecom) que tentasse descobrir a origem dos fonogramas, a fim de que se tomassem as devidas providências.

O Sem Pulo do dia 30 dizia:

PREFEITO

E para complicar mais a situação de [Rubens] Hoffmeister a CRT forneceu o número que solicitou o fonograma com trote. O número é 24.87.33, telefone da Federação Gaúcha de Futebol. Por causa disso, o prefeito de Muçum anunciou ontem que processará a entidade.

Pressionado pela oposição de sua cidade, o cartola-edil até contratou advogado para acionar os autores da brincadeira, movendo ação na Justiça Civil da cidade. Enquanto isso, sucediam-se notícias e comentários. MUÇUM NÃO QUER MAIS JOGAR COM A CONCACAF¿, ¿FORTES E LIVRES NÃO ADMITE BRINCADEIRAS COM SEU NOME". Na charge da Zero Hora de 26 de junho, um repórter pergunta: "prefeito, e o jogo contra a Concacaf?". Ao que o homem responde: ¿se eles não aceitarem o desafio, eu vou convidar o Igrejinha".

As notas que haviam sido enviadas por uma fonte um tanto obscura ganharam tamanho corpo e repercussão na sociedade esportiva gaúcha que o anti-clímax foi inefável. Isso sem falar na imprensa regional, que embarcou bonitaço na potoca. Se os editores não sabiam onde se enfiar, de tanta vergonha por ostentar tamanha barriga (no jargão jornalístico, significa plantar notícia), o que dizer do pobre prefeito-cartola, que não sabia o que falar para a sua população, sobre o "Jogo do Século", que aconteceu por não ter acontecido? E se a oposição usasse esta mancada nas próximas eleições?


Tempos depois é que se soube: esse trote — que marcou época foi criado por tres jovens repórteres, que utilzaram a sucursal porto-alegrense de O Estado de São Paulo, então pioneira em operar por telex, novidade nesses pagos, naquela época, para despachar a insubmersível "barriga".

De qualquer maneira, estiver realmente interessado nessa surreal, rocambolesca e estapafúrdia história sem fim pode perguntar (segundo o falecido Renato Maciel de Sá Júnior) ao Rogério Mendelski, ao Roberto Appel e ao Antônio Pinheiro Machado onde raios fica aquela tal cidade de Muzzum, nas Antilhas....