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Fitinha do OMD |
Domingo passado eu estive no Colégio das Dores para votar. É sempre
curioso voltar a um colégio que você estudou há tanto tempo que tudo o que
aconteceu lá mais parece um sonho, quase pura ficção se misturando com
lembranças que, quando eu as tento evocar, me parece que eles saem melhor
agora, ainda mais quando confronto as impressões do passado com minha
interpretação no presente, quase uma testemunha imaginária mas falando do real
vivido. Gostaria de lembrar de mais coisas, de ter tido quem sabe uma vida
escolar mais interessante para contar mas, na verdade, acho mesmo que todas são
iguais para todo mundo. Porém, quando algo ou alguém se reporta aos anos de
escola, sempre se desfralda para cada um enorme pavilhão azulado de memórias
inoluntárias.
Olhei para o pátio, enquanto estava nas filas de minha zona eleitoral.
Lembrei da hora do recreio. É incrível pensar se é delírio ou se era verdade,
mas eram muitos alunos, eram muitas salas de aula, muita gente no pátio, outros
na cantina, mais ali alguns jogando vôlei do lado das escadas. Lembrando hoje,
parece que as Dores tinham alunos demais. A hora do recreio era cheia de alunos
para todos os lados.
Lembrei também que o SOE tinha um daqueles aparelhos de som 3 em 1 e um
sistema de som relativamente potente, então as horas do recreio eram quase
sempre embaladas com música. Contudo, eu lembro que a maioria dos discos e
fitas que eles tocavam, muitos eram cedidos por alunos que levavam fitas e
discos para a senhora do SOE, à guisa de
DJ, botava o som para rolar naqueles serões de intervalo.
Aquela época era engraçada: era o boom do rock nacional dos anos 80, havia a moda dos io-iôs da Coca-Cola, havia as comemorações do sesquicentenário da revolta de 1835. Eu lembro do pessoal da Coca-Cola dando show com os io-iôs, só eu que nunca consegui aprender a brincar com ele, e vivia enrolado as cordas. A música que tocava, em geral, eram os sucessos do rádio: RPM, Ultraje a Rigor. A gurizada medonha preferia Camisa de Vênus. Havia a gurizada que, cor incrível que pareça, levava discos do Pink Floyd. Eu nunca levei nada porque meu gosto musical estava mudando naquela época, e eu acho que eu não gostava de nada daquilo. Eu perdi as contas de recreios com música. Mas lembro de tocar Scorpions com aquele sucessão do “Still Loving You”. Eu achava aquilo a barbárie em termos de música. Gostava de rock mas com moderação. Em 85 eu não tinha walkman e não ouvia FM. Essas músicas tocavam por aí mas eu não ouvia.
Só
quando comecei a colecionar discos, ali por 1987, que eu comecei mesmo a
prestar atenção em música para valer, como algo que tivesse a ver comigo. Até
porque o walkman japonês que eu tinha um som ótimo e gravava bem. Eu tinha uma
tomada então vivia ouvindo ele. Ali foi o começo do telefona para o pessoal da
rádio tal e pede tal música e, depois, aquela grande epifania quando você se
apaixona por um determinado artista ou banda. É como gostar de futebol. Em
geral, as pessoas gostam de futebol a partir de uma identidade particular.
Enquanto a gente ouve por ouvir, não consegue diferenciar eus e outros na
música, tudo parece igual. Quando a gente vira fã, aí veste literalmente a camiseta,
o som que você gosta é tudo e o que os outros gostam é ruim ou quadrado. É a
partir daí que a gente começa a desenvolver teses, e estabelecer fronteiras de
gostos, enfim, nós construímos toda uma identidade a partir desse
reconhecimento. Enfim, o Jon Savage saberia explicar isso melhor para você do que eu nessas memórias num velho computador, como diria o Ritchie.
O que eu ia dizer e esqueci e lembrei agora era que, lá por 85, teve a
famosa febre o RPM. E era incrível porque nós, garotos, odiávamos eles, por
qualquer razão; mas a maior delas era que, sempre que tocava RPM no intervalo
das Dores, a meninas urravam, era tipo uma beatlemania. Era só tocar RPM que
era uma gritaria geral. Eu ouvia por tabela todo aquele movimento de rock
nacional desde o começo mas só fui gostar mesmo quando os Paralamas lançaram o
Selvagem. Era uma as poucas coisas que eu curtia naquele mar de sucessos
espontâneos que apareciam o tempo todo na tevê e no rádio. Era uma coisa
difícil de explicar hoje que música como audição se transformou numa coisa
quase que totalmente on demand: todo mundo escutando de fonezinhos. Naquela
época, shows de bandas de rock atraíam milhares de pessoas, shows com
divulgação de FMs e que lotavam ginásios e mobilizavam tanta gente que gostava
de coisas e bandas, cenas comuns. Não quero ser saudosista, não existe forma de
voltar ao passado mas, naquele tempo, não sei se éramos felizes e não sabíamos,
como diz a frase, mas a vida era eterna.
Bom, eu lembro que quando veio aquela onda eurodance, tipo Fancy, OMD,
eu não podia acreditar que aquele pessoal não tocasse um violão, era tudo eletrônico,
bateria eletrônica. Era um suplício ouvir OMD e coisas do tipo. Pra mim, aquilo
não era música. E isso que, naquele tempo, do auge desse tipo de música, eu
ainda não era roqueiro fanático. Na verdade, ao contrário que pareça, nunca fui
e do muito pouco que eu sei, se eu
pareço ser, a farsa sou eu. Na verdade, eu gosto mesmo é de música clássica.
Nesse caso, eu abro uma exceção à minha chatice.
Mas o engraçado dessas lembranças, voltando ao começo, é que eu acabo confrontando meu gosto musical daquele tempo, que era algo quase nulo com hoje, e tenho que discordar de mim. Acho que, em primeiro lugar, eu era um chato porque não gostava de nada, então não havia forma de me enturmar. Em segundo lugar, quando eu comecei a gostar de um determinado artista – descontando ritchies e Michael jacksons que foram chuvas de verão – mas quando a gente começa a gostar de música e virar fã, vira chato, chato demais.
Não tem nada
mais chato que estar naquela fase do que eu gosto é bom e o resto não existe. Enim,
tem gente que morre pensando assim. Mas eu, de certa forma, tenho vergonha daquele
chato que eu era. Mas é da vida, a gente nunca vai ter o discernimento eo
pensamento aberto e estar aberto para ouvir outras coisas, descobrir que vai se
apaionar por outras coisas enquanto estivermos por aí vivendo, e essas mudanças
são tão incríveis numa duração que é a longa duração da vida que lembranças
imemoriais como essas parece que falam de outra pessoa. É engraçado porque
parece que os anos 80 musicalmente fizeram de tudo para esquecer a década
anterior. Depois, nos 90, era como se todos nós estivéssemos com desejo de expurgar
lembranças dos anos 80, de lembrar que éramos fãs do Menudo e arredores. Os
anos 80 era aquela coisa totalmente camp, como os Titãs no Chacrinha. Porém, os
anos 90 foram tão heterogêneos e os 2000 foram tão vazios para nós que fomos
daquela geração de parada de sucessos, de walkman, de música no recreio e
outros alhures e é inevitável olharmos com olhos dardejantes de saudade daquela
caixinha de música maluca dos anos 80. Eu já anistiei os anos 80, e espero que
eles me anistiem também. E o OMD também.
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