Saturday, February 09, 2019

Um Inimigo do Povo

Allan Freed



Revi recentemente a cinebiografia do mítico Allan Freed. O cara é conhecido como o maior DJ da história do rock e influenciou todo mundo que veio depois.

O filme não entra em polêmicas. Então ele pega leve nessa parte, que é - a não ser, de forma simbólica. O cara foi o maior DJ da história do rock e que foi pego pra Cristo numa espécie de CPI do Jabá, o "Escândalo da payola".

No começo dos anos 50 o número de DJs subiu de 5 pra 250 mil, o mercado de música jovem aumentou, compactos 45 vendiam como água. Ou seja, virou um grande negócio, e a aurora do que seria uma cadeia produtiva da economia da música no rádio. O filme mostra bem esses bastidores do que era o começo da música no rádio como negócio.

As gravadoras apostavam na identificação da gurizada com DJ como Freed. Eles vi o alvo dos donos das gravadoras que não entendiam nada de rock - continuam não entendendo. O nome DJ é porque o cara era o que dava a informação de cocheira de quem ia virar sucesso.

Só que aí nasceu o jabá, essa relação entre o DJ e o cara da gravadora. Os músicos de rock, que assinavam com a editora BMI, Broadcast Music Inc - que era mais nova e abocanhara boa parte do cast do pop nascente e agora do Rhtyhm and Blues, o country e da fusão deles, o rock, vendiam disco de 4 pra 1 de artistas de outras editoras como a ASCAP, a American Societky of Composers, Authors and Publishers, que representava o pessoal grande do Tim Pan Alley Viram que estavam perdendo a guerra. O Tim Pan Alley era o começo do mercado na música nos Estados Unidos a partir da Broadway e eram donos de todos aqueles grandes nomes de compositores da América, todos aqueles que eram interpretados pelo Sinatra. Então se eles não eram, eles se achavam os donos do mundo. Aí esse pessoal pica da ASCAP tava por trás do que virou a CPI, acusando radialistas de ganhar por fora pra tocar disco. Uns confessaram, ganhavam 22 mil dólares pra tocar um disco. Era uma puta grana, cara nem precisa de salário. E com o escândalo, muitos foram demitidos.

As rádios corriam o risco de perderem a concessão do governo. Depois caíram nos dos DJ mais famosos, Dick Clark e o Allan Freed. Mas o Clark foi colaborativo, era bonitinho, o Freed era um fanfarrão, e ferraram com ele. Todos faziam mas ele foi o Cristo, só tocava música negra, ou seja, aquela que a América branca boicotava nas rádios brancas.

Freed falava a linguagem da gurizada, rejeitava cantor branco que fazia cover de negros como o Little Richard. Eles odiavam o rock, e ele representava tudo o que o rock era. Então fuderam com ele mas fuderam bem fudidamente, a carreira dele acabou.

O curioso é que Clark, pelos serviços prestados à CPI, teve a sua então obscura carreira de radialista em Drexey Hill e virou o queridinho da América, com o American Bandstand, na ABC, um programa de sábado à noite. Apresentando todos aqueles artistas que Freed não tocava nem pagando, como Pat Boone, por exemplo. Depois da caça às bruxas, o que aconteceu foi que, aos poucos, a ASCAP passou a correr atrás desses artistas brancos, e os Estados Unidos foram inundados por uma febre promovida por essas editoras, promovendo teen idols, como Neil Sedaka, Paul Anka, Frankie Avalon. Uma moda que ia acabar anos depois, com uma invasão provocada, por ironia do destino, por bandas influenciadas por Freed e suas estrelas.

Nos cinco anos seguintes, ele só conseguiu emprego em rádios pequenas e mesmo assim ficava pouco. Ele virou um nome perigoso, o Inimigo do Povo. Morreu de beber, com pouco mais de quarenta anos esquecido, no auge da Beatlemania. Enfim, Freed foi o bode de uma briga de cachorro grande e que hoje parece ridículo, e da pressão do estabilishment contra o rock.













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