Wednesday, February 11, 2015

A Guerra Fria do Mp3



Meme rindo do Macartismo virual


Deu no Globo: O RapidShare será fechado em 31 de março. De acordo com o site, o conteúdo armazenado na plataforma será "apagado automaticamente".

A empresa não especifica qual é o motivo da decisão, mas é óbvio que vai acabar certamente por conta de processos judiciais e, principalmente, por causa da concorrência de outras páginas especializadas em upload de arquivos de forma virtual.

Um exemplo é o WeTransfer. Sediado em Amasterdã, um serviço online que possibilita aos usuários compartilharem arquivos de até 2 Gb, gratuitamente ou 10 Gb, isso na versão Plus. Num único link com o arquivo zipado, por exemplo, você pode passar todo o BWV do Bach para um amigo.

Processos judiciais à mão cheia também devem ter matado o Rapidshare aos poucos. Não era o único site, mas era o mais visado pelos tubarões da indústria fonográfica em geral.

De certa forma, ele indiretamente matou o Orkut. Lembro-me que, no começo, quando entrei na comunidade Acervo Brega da extinta rede social do Google, a única forma de trocar música por lá era através de comunidade de e-mail, graças ao advento do Gmail. Agora, ao invés de inscrever uma lista interminável de membros para mandar um Mp3, bastava fazer o upload e passar o link num tópico da comunidade.

O Rapidshare mudou o Orkut. A possibilidade de troca de arquivos de música remoldou as comunidades, possibilitando o surgimento da maior delas, a Discografias, que foi a corrida do ouro do download ilegal na Internet.

A Discografias foi o ápice do Rapidshare. A maior parte dos links usados para transferência na comunidade era deles. Depois viria o Megaupload que, além de gratuito, foi um dos primeiros a possibilitar ao usuário o armazenamento virtual gratuito.

Os blogs também mudaram com o Rapidshare e o compartilhamento de música. Até 2003, a ferramente era desacreditada, tida como um diário sentimental e as pessoas logo iriam enjoar da novidade. Com o Rapidshare, proliferaram os blogs musicais.

Curioso é que, em 2010, a indústria fonográfica caiu em cima do Megaupload, e não do Rapidshare. Foi uma espécie de macartismo da Internet. De repente, como no tempo da Guerra Fria, havia os bons e os maus e, bem, os maus a gente sabe quem eram (ou não?).

A Caça às Bruxas virtual cortou cabeças, fechou blogs, acabou com o Megaupload. Mas houve o refluxo. Nesse meio tempo, apareceram os genéricos do Rapidshare. E, junto com a guerra fria do Mp3, o Orkut, que catalizava aquela corrida do ouro do download, também passou a ser visado.

Da mesma forma que o Orkut, o Rapidshare morreu. Foi morrendo aos poucos. Mostraram um caminho, e perderam-se nesse mesmo caminho. Abriram a caixa de pandora. Criaram uma solução que criou um problema. Pagaram o preço por serem precursores de algo que, se formos pensar em matéria de produção e difusão musical, não sabemos como vai acabar.

Tudo o que é sólido... O Rapidshare vai acabar dia 31 de março. Podiam ter deixado para o dia seguinte, o dia dos bobos. Seria uma forma de cair de pé, rindo da cara da turma do macartismo.



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