Saturday, September 17, 2011

Porto Alegre e a Revolução de 1835


A antiga ponte do Chico da Azenha

Pouca gente sabe, mas foi ali na esquina da Ipiranga com a Avenida da Azenha que, na madrugada de 20 de setembro de 1835 que se travou o primeiro combate do movimento revolucionário farrapo, na antiga Ponte da Azenha, ou do Chico da Azenha.

A primeira batalha foi comandada pelo intrépido Cabo Rocha que, pegando uma guarnição imperial desprotegida, pôs a trupe em retirada.

No dia seguinte, as tropas de Gomes Jardim e Onofre Pires antravam Porto Alegre adentro. Rodrigues Braga, então presidente provincial, fugiu de barca para Rio Grande, deixando a cidade acéfala.

O novo presidente nomeado pelo Império, José de Araújo Ribeiro, por sua vez, teve que tomar posse de forma clandestina, em Rio Grande. Após um golpe dado na cidade pelo também intrépido oficial Manoel Marques de Souza, então feito cativo pelos farrapos, conseguiu fugir e montar uma milícia disposta a libertar a cidade do jugo farroupilha.

Araújo Ribeiro assim resistiu e, de Rio Grande, mandou cercar Porto Alegre, a retomando em 15 de junho de 1836. A população apoiou o contragolpe imperialista porque, devido ao ambiente de guerra, os recursos rareavam e não havia nada para comer.

A situação piorou depois, já que os farrapos continuavam atocaicados nos arredores de Porto Alegre, que se viu obrigada a viver sob racionamento de alimentos.

A nova presidência, de José Ferreira de Britto, mudou as eleições para a Câmara para quatro em quatro anos. Porém, os membros eram exclusivamente imperialistas, já que os farrapos haviam sido expulsos e mandados para a Côrte.

Nessa época, a Câmara teve que tratar dos promlemas de iluminação na cidade, pois ela ficava totalmente às escuras quando a noite chegava. No entanto, roblemas provocados pelo estado da guerra mantiveram Porto Alegre às escuras até o fim da Revolução.

Foi nessa época que, por motivos de segurança por conta da guerrilha, o Governo criou por decreto,m em 1837, a Força Policial, mais tarde denominada Brigada Militar.

Mas a Revolução afetava a vida da capital indiretamente: uma insurreição de escravos, insuflada pelos ideais farrapos causou grande confusão na cidade. Alguns foram detidos, mas a maior parte fugiu e passou a integrar a cavalaria dos lanceiros.

Em 1839, o grande dilema aqui foi o excesso de leigos exercendo ilegalmente a função de médicos ou boticários, problema que iria perdirar por muito tempo. Também se esperava a tal maioridade de Dom Pedro II: muitos achavam que tal fato seria o fim dos combates no Rio Grande do Sul.

Com a posse do novo Imperador, assumiu nova Câmara em Porto Alegre. Câmrra, essa, que se destacou por sua total indolência: de toda a asembléia, só dois chegaram ao fim do mandato.

Em 1840 começou a ser erguida o Convento do Carmo, que existe até hoje, entre a Lima e Silva (então rua da Olaria) e a José do Patrocínio. Uma rua foi aberta para servir de acesso ao convento carmelita, a Travessa do Carmo, que perdeu a sua função original mas existe até hoje.

No ano seguinte, em novembro, a Câmara recebeu o Decreto n° 103, dando à Porto Alegre o título de "Leal e Valorisa", em memória do feito épico de 1836, quando Manuel Marques de Sousa, depois denominado Conde de Porto Alegre, mandou os farroupilhas embora da capital.

Em 1842, ou seja, quase no fim da guerra, foi construído o primeiro prédio do Mercado Público. A construção original tinha aberturas que permitiam a entrada de carroças para a venda de secos e molhados dentro do próprio prédio. Mais tarde ele seria demolido em favor de outro, bem maior, e construído com quatro torreões, e inaugurado em 1869.

Com a eleição de 1844 para a Câmara, chegava a Porto Alegre o Barão de Caxias para se tornar o presidente da Província, disposto a dar um termo à revolução dos farrapos, cuja inssurreição chegava quase a uma década.

Foi durante a gestão do futuro Duque na capital que vieram a retomada (pelo arquiteto Phillip von Normann) da construção do Theatro São Pedro, a construção da Casa de Correção, na ponta da península do hoje Centro Histórico (onde hoje fica o Aeromóvel), o lançamento da pedra fundamental do Asilo Padre Cacique (antes Asilo Santa Teresa, ou colégio de educação das meninas órfãs, cujo nome original acabou batizando o morro que fica às suas costas), fora o calçamento de ruas, urbanização e calçamento das ruas da cidade.

Caxias também mandou reformar a antiga Igreja da Matriz, que sequer havia sido concluída (só tinha uma das torres sineiras) e já estava em ruínas. Ele também mandou que o cemitério antigo, que ficava atrás da Matriz, por questão de higiene pública, fosse mandado para fora dos portões de Porto Alegre. Para tanto, ajudou na criação da Irmandade de São Miguel e Almas e a da Santa Casa, com o deslocamento dos féretros para as novas catacumbas construídas nos altos da Azenha.

Falando nos portões, o futuro Duque foi quem decidiu ampliar os limites urbanos de Porto Alegre, mandando derrubar os muros que, por muito tempo, protegiam a capital. O portão, por sinal, que ficava onde hoje está a praça Conde de Porto Alegre, também foi posto abaixo.


Antiga Santa Casa, com a fachada original da Capela do Senhor dos Passos.
O prédio maior, ao fundo, é a segunda fase das obras na instituição,
que começou naquela casinha ao lado da capela


O Duque também foi o responsável pela urbanização da Cidade Baixa, com a criação do Caminho da Azenha (depois rua da Redenção e, mais tarde, avenida João Pessoa), República (antes do Imperador) e a Venâncio Aires (antes rua da Imperatriz).

Para ligar o contato com os arrabaldes do sul, o Barão construiu a famosa Ponte de Pedra, num tempo em que o Arroio Dilúvio desaguava na frente do hoje Colégio Pão dos Pobres. O engenheiro que idealizou a pinte, João Batista Soares da Silveira, também ergueu a nova Ponte da Azenha, de pedra, em substituição àquela, do tempo do Cabo Rocha, que era de madeira.

Aliás, à guisa de conclusão, um fato curioso: a rua Freitas e Castro, primeira transversal depois da esquina da Ipiranga, foi batizada, por longos anos, como Cabo Rocha, em homenagem ao comandante do primeiro combate farroupilha, naquela longíngua e profunda noite de 20 de setembro de 1835.

No entanto, com o correr dos anos, depois de criado o nome do logradouro, a ruazinha virou o mais famoso ponto de prostituição de Porto Alegre. Com obras de melhoramentos, a partir do fim dos anos 50, toda aquela população do bas fond foi evacuada do local. E como o nome da rua estava eternamente associado ao "pecado", um decreto municipal tratou de mudar o nome daquela rua, a despeito do fato da homenagem histórica relacionada ao sítio e e atávica importância daquele local.

No comments: