Saturday, September 18, 2010

Cidade Baixa Blues

Dinheiro não é tudo. Mas para sair com um amigo, de noite, sem grana, ou seja, sob o mecenato de um amigo, é complicado. Ainda mais se você souber que ele é um galanteador nato e, na verdade, não é bem amigo de verdade.

É aquele tipo de amigo que te procura para não sair sozinho, ou para não ficar sozinho num boteco da moda caso não ache nenhum parceiro no meio do pessoal. Claro que, sendo um galanteador nato e tenho grana, ele logo logo consegue puxar conversa com um trio de meninas que, com efeito, não estão ali a trabalho.

Tinha um chapa meu que um dia me achou na rua, e me pediu o Messenger. A gente trocou uma conversa ou duas e, dias depois, ele marcou uma balada ali na João Alfredo. Jantamos num restaurante ali perto e depois zarpamos para um bar em frente, que todos conhecem. Rolou conversa com umas minas, a gente achou uns conhecidos, o show começou e estava tudo bem.

Só que ao contrário dele, eu não tinha como oferecer cerveja para nenhuma delas. O cara achou mais um parceiro e como elas eram três, havia alguma relativa possibilidade de todos se darem bem.

Mas naturalmente eu me conheço e, nessas situações em que você fica na obriga, ou elas são lindas demais para você ou você é feio demais para elas, ou quase todas elas.

Fora que não havia como conversar com aquela música toda e eu, sem beber nada ou, por outra, simplesmente bebericando um copo de chope há pelo menos duas horas e meia para dar a entender que eu estava bebendo, eu sabia que a noite dependia de dinheiro. E eu era apenas um pajem de merda naquela noite triste.

A tendência era piorar, e foi o que aconteceu. O bar lotou, as meninas foram para outro canto do bar de tão entediadas, enquanto o meu amigo estava quase conseguindo um esquema com uma delas. Eu pensei rápido: é lógico, ele pega a mina, me deixa um troco para a consumação mínima e vai embora.

Numa progressão fulminante, ele apareceu. Disse: “bah, Marcelão, tu vai me desculpar, mas eu vou ter que sair. Aqui tá a grana da consumação”. Ele ainda estava lá dentro conversando com a garota quando eu discretamente peguei o porteiro e ganhei a rua. Devia ser ainda umas onze e vinte da noite.

Podia de repente esticar a noite, subir a República e tomar um engradado de Polar e depois voltar para casa para dormir o sono dos justos. Pior é que como convite surgiu no fim da tarde, pelo telefone, não pude colocar a minha melhor roupa. E não tinha dinheiro.

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