Num 29 de janeiro de 1895, nascia Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (ídolo, MITO!), o Barão de Itararé – o gênio da sátira e patrono do humor em terras brasileiras.
Ainda no Sul, passou a se dedicar ao jornalismo. Com a experiência adquirida em sua terra, Aporelly (como costumava abreviar seu nome) se mudou para p Rio. Começou no Globo, depois passou para A Manhã, este que o inspirou a criar a antológica A Manha, “órgão de ataques...de riso e quinta-feirino", mas que, no entanto, só saía às sextas. A publicação, que marcou época na imprensa brasileira, durou até 1946, quando fechou, por problemas financeiros. Mas deixou a série de Almanhaques, que você deve ler. A edição de 1955 foi reeditada em 1989, porém infelizmente esgotou. Não sei por que raios ninguém reedita esse que é o evangelho do humor brasileiro. Nem que seja para se dar umas boas gargalhadas.
A fama do Barão veio com a provocação com que, com engenho e arte, ele dispensava á ditadura Vargas. Foi quando resolveu entrar para a nobreza, ridicularizando todo aquele que se atribuíam imaginários títulos heráldicos – algo que era comum naqueles tempos. Se investiu como Duque. Depois, renunciou ao ducado e se proclamou barão, a despeito da “inversão nobiliárquica”. Surgui assim o Barão de Itararé, o Brando. Também se dizia o Brigadeiro do Ar Condicionado, ou os incontestáveis títulos na Praça.
Como era esquerdista ferrenho, era constanstemente perseguido pela repressão política. Acabou sendo preso inúmeras vezes. Numa dessas, o delegado então perguntou:
- Sou Aporely, o senhor sabe por que está sendo preso?
- Sei sim, por não seguir os conselhos da minha mãe.
Ante a surpresa do homem, ele continuou:
- É a que mamãe sempre me dizia para não tomar cafezinho, não era bom para a saúde, ela sempre me dizia. Razão tinha ela, veja o senhor. Era exatamente isso que eu estava fazendo quando o seu pessoal entrou no café e me prendeu.
Deixou várias máximas (ou mínimas, como ele dizia):
Milagre de santo não faz casa.
De onde menos se espera, é daí que não sai nada.
Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.
Quem empresta, adeus...
Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.
Quem só fala dos grandes, pequeno fica.
Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.
Depois do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. ( Ge-gê: apelido de . .
Getulio Vargas. Ga-gá: referia-se às duas primeiras letras no sobrenome do novo presidente, Eurico Gaspar Dutra).
Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga.
Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Os juros são o perfume do capital.
Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro que já gastamos.
Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
A gramática é o inspetor de veículos dos pronomes.
Cobra é um animal careca com ondulação permanente.
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.
É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.
A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.
Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.
O advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.
Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
Mulher moderna calça as botas e bota as calças.
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
Pão, quanto mais quente, mais fresco.
A promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte.
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
O homem é um animal que pensa; a mulher, um animal que pensa o contrário. O homem é uma máquina que fala; a mulher é uma máquina que dá o que falar.
1 comment:
Maravilha, Marcelo. Aliás, não esperava outra coisa. Vale lembrar que ele é um dos personagens do livro "Memórias do Cárcere", no qual Graciliano Ramos relata uma passagem memorável de Aporeli, em que ele fala que a prisão tem duas coisas, uma ruim e a outra boa. E de cada coisa ruim tem duas coisas, uma ruim e a outra boa. E por aí ele destila sua veia cômica. Sem falar daquela passagem pela Faculdade de Medicina, na qual o professor lhe perguntara: "Quantos rins temos?" "Quatro professor", respondeu. O mestre então consertou, dizendo: "nós temos dois rins", emendando "tragam uma porção de feno". Mais que depressa Toreli rebate: "E para mim um cafezinho". O professor expulsou Toreli da aula e ele respondeu na saída: "eu tenho dois rins e tu outros dois, portanto temos quatro".
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