Saturday, September 15, 2007

Gre-Nal é Gre-Nal (e vice-versa)

Meados da década de 50, semana de Gre-Nal. Como se sabe, naquelas priscas eras, o medo da mala preta se transformava numa jucunda paranóia. Os jogadores do Internacional se concentravam no antigo Estádio dos Eucaliptos desde a querta-feira. astuto, o exótico treinador colorado, Teté ("quem mora na aldeia é que conhece os caboclos") controlava os telefonemas dos atletas, pois salomonicamente não gostava que seus pupilos falassem com estranhos, ainda mais em semana de clássico.

Recusando-se a revelar o nome, na sexta-feira (o jogo era no domingo), alguém ligou e pediu para falar com o goleiro do Inter:

- O La Paz infelizmente não pode atender - atalhou o treinador colorado. - Se você quiser, eu posso transmitir o recado.

- Mas é que eu preciso falar com ele!

- É, mas não dá, não vai ser possível! - bradou Teté.

Horas depois, a mesma voz voltava a tocar, querendo falar de qualquer maneira com o goleiro La Paz.

- Mas afinal de contas, quem é o senhor, o que o senhor deseja ter com ele - perguntava o Teté.

- É um amigo particular, só eu posso falar com ele... - dizia o sujeito, do outro lado da linha.

As chamadas seguiam, de maneira insistente, por todo o sábado, com o sujeito sempre dando um jeito de evitar de revelar o nome. Já na manhã de domingo, o homem demonstrava uma inenarrável e inefável angústia, fazendo os dirigentes do Inter trocarem olhares significativos.

- Mas eu preciso urgentemente falar com o La Paz! Eu preciso falar com ele! - dizia o homem.

- Deixa comigo que eu dou o recado - resumia o laborioso Teté, entre sério e desconfiadíssimo.

- Não, não. Olha só, o negócio é o seguinte. Eu fiquei incumbido de dar ese recado para ele, não foi ninguém, fui eu mesmo, escute seu, seu...

- Teté.

- Isso, seu Teté, olha, não daria para o senhor dar um jeitinho? É um assunto particular. Olha, nem é preciso sair dos Eucaliptos, basta ele ir até o muro, eu falo ligeirinho com ele e ele pode voltar para a concentração em seguida. É só uma escapadinha e duas palavras. Duas únicas e escassas palavrinhas. Deixa aí, seu Teté!

- Não, meu amigo, - responde Teté - não há a mínima possibilçidade de alguém flar com os atletas do Inter em momento de concentração, são ordens da Diretoria, o que eu posso fazer? Eu sou apenas um funcionário do clube, o senhor há de entender, ou não?

Ao meio-dia de domingo, o derradeiro telefonema. Depois de outra negativa, o interlocutor de Teté se resigna. Diz:

- Tá bem, então. Mas o senhor me promete que dá mesmo o recado para o La Paz?

- Sim.

- Então diga para ele que já rt tá tudo acertado, conforme o combinado, viu? Tá tudo cem por cento, como a gente combinou! Abraço! Tchau!

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