Tuesday, July 09, 2019

O Primeiro disk-jockey

Martin Block, o pai dos DJ




É comum relacionar o trabalho do disk-jockey a um apresentador de segmento musical jovem — mais precisamente associá-lo a partir do nascimento de um gênero específico, o rock’n roll. No entanto nem a expressão DJ nasceu com o rock e muito menos os programas de música gravada surgiram nessa época. É importante destacar, nesse caso, aquele que foi o primeiro disk-jockey da história, Martin Block.


Martin Block começou a carreira no rádio como office-boy na General Eletric. No começo dos anos 30, ele se muda para Nova Iorque. Lá, ele consegue um emprego como locutor, enquanto trabalhava como radioamador em Nova Jersey. Em 1934, encontramos Block como apresentador na WNEW. Enquanto apresentava um programa durante a transmissão do julgamento do assassino de Charles Lindbergh Jr, Block colocava música nos espaços vazios entre os boletins. 

A ideia de fazer um programa com discos viria logo depois, com o Make Believe Ballroom. Como sugere o título, o programa consistia em imitar algo que era comum no rádio norte-americano nos anos 30: transmissões de big bands ao vivo. Com uso de sonoplastia, Block criava a ilusão de uma transmissão de um baile com os maiores sucessos de swing da época. Para isso, ele mesmo precisou arranjar os discos: a WNEW não dispunha de uma discoteca. O tema de abertura do Make Believe era “Sugar Blues”, mega-sucesso de Clyde McCoy, de 1931. 

Contudo, o departamento comercial da emissora advertiu a Martin que ninguém se interessaria em patrocinar um programa de música gravada, ainda mais imitando um baile ao vivo (Chacrinha teria a mesma ideia original com a Boate do Chacrinha, na rádio Tamoio, nos anos 50). Ele mesmo correu atrás de um anunciante, uma empresa que fabricava pílulas para emagrecer. Em uma semana de programa, o retorno foi positivo o suficiente para deixar os executivos  da WNEW perplexos. Block também inovava ao adotar um estilo peculiar de ler os reclames. Ao invés de apregoar aos brados, como era comum na época, ele lia o texto com voz sóbria, como se estivesse conversando com o ouvinte. 

Anos depois, o Make Believe Ballroom já tinha uma espécie de bolsa de anunciantes do programa que, a essa altura, em 1941, já havia consolidado o formato, e transmitido para todo o país. Nessa fase, o Make Believe já apresentava atrações ao vivo, de Tommy Doorsey a Count Basie. Na divisão do jazz, aos sábados, Martin criou o "Saturday Night in Harlem", apenas com as estrelas do bairro de Manhattan: Cab Calloway e Duke Ellington, entre outros. Durante a Segunda Guerra, quando o sindicato dos músicos promoveu uma paralisação e o mercado fonográfico retraiu-se em decorrência dos esforços de guerra, Block sustentava o Balroom através de discos que ele recebia da Inglaterra. 

Joe Franklin, considerado o criador do talk show, começou sua carreira nos anos 40 como discotecário na WNEW, co-produzindo o Ballroom com Block. Ainda jovem, aos vinte e dois anos, ele era uma espécie de “assessor de assuntos aleatórios”. Posteriormente, Joe seguiria uma carreira no rádio e na televisão, que se estenderia por décadas. Nos anos 50, o Make Believe possuía duas edições: uma no fim da manhã e outra, no cair da tarde. Ao mesmo tempo, produzia uma edição especial que era transmitida para todo o mundo através da Voz da América. No auge do Ballroom, os grandes nomes do jazz desfilavam pela então 1130 AM, “where the music lingers on”: Dianah Shure, Glenn Miller, Artie Shaw, Rosemary Clooney, Pattie Page, Bing Crosby, Tony Bennett no começo da carreira.

Além do Ballroom, nesta fase Martin Block apresentava também o Columbia Record Shop, retransmitia o programa da WNEW na costa oeste pela KFWB, produzia filmes curta-metragens para a MGM e ainda estrelava outro, o Block Party. Como era prática comum com relação à disck-jockeys (Alan Freed também não seria o pioneiro), muito antes do escândalo da payola, ele possuía editoras musicais — a Martin Block Music and Embee Music, assinava parcerias em canções de sucesso, entre elas o tema do Balroom, creditada junto com Glenn Miller.

Em 1955, Block foi para a ABC Radio, depois WABC, apresentar o Martin Block Show, onde fazia a parada de sucessos, já fa fase do rock, anunciando Fats Domino ou Elvis Presley. Enquanto William B. Williams tomava seu posto no programa da WNEW, transformando o Ballroom na resistência dos grandes cantores e compositores norte-americanos do Tim Pan Alley e arredores, de Lena Horne a Frank Sinatra, quando este havia reencontrado o sucesso ao assinar com a Capitol. Nessa fase, Sinatra e o Ballroom cerravam fileiras em torno de um culto pelo swing e a canção americana. 

No entanto, quanto Block não via restrições com relação a tocar rock, Williams politicamente se colocou contra o gênero. Mesmo assim, quando a própria WNEW percebeu que o rock era algo incontornável, mesmo a contragosto, o DJ foi obrigado a mudar sua posição. Já no final dos anos 70, a emissora retornaria ao formato adulto contemporâneo, revivendo o Ballroom (nos anos 80, com Steve Allen no microfone), pouco antes de tornar-se definitivamente all news. Martin Block morreu em setembro de 1967.



Referências:

HINCKLEY, David. Future of the radio: Martin Block makes Believe. New York Daily News, 17 mar 2004. 


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