Saturday, June 08, 2013

Vargas e a Gravata Colorada


Getúlio Vargas

O amigo leitor sabe o que é a gravata colorada? Para quem não conhece o termo gauchesco, é como se chamava a degola por aqui, mais ou menos nos tempos da Revolução Federalista, de 1893.

No levante farroupilha houve degolas, mas na Federalista, esse terrível expediente foi largamente utilizado. O historiador Décio Freitas diz que ela foi a mais cruenta de todas as guerras civis no continente sul-americano. Os quase três anos de luta deixaram um saldo de 10 mil mortos.

Um episódio foi exemplares: em Hulha Negra´, a vinte quilômetros de Bagé, mais de 300 homens rendidos foram degolados friamente numa mangueira. O chamado Massacre do Boi Preto lançou o mito do coronel maragato Adão Latorre. Com uma adaga de quinze centímetros, ele foi o executor. Entre as vítimas, estavam o oficial chimango Manoel Pedroso - acusado de ter mandado matar a família de Latorre em Bagé, meses antes.

Quatro meses depois, os Legalistas devolveram o banho de sangue, matando, à base de faca 370 maragatos, capturados numa emboscada, em Palmeira das Missões.

A guerra deixou marcas e um rastro de ódio que levou anos para se apagar, e respingou na outra revolução, a de 23, dos maragatos partidários de Assis Brasil, contra os desmandos do chimango Borges de Medeiros.

Na época, vivia se a era dos coronéis provisórios. Sesmeiros em geral, eles controlavam pequenas comunidades e tinham em séquito de centauros à sua disposição que, na maioria das vezes, lutavam por seus chefes políticos respectivamente, que se dividiam filosoficamente entre os governistas e os oposicionistas, ou seja, entre chimangos e maragatos. Era o atavismo de 93.

Na refrega de 23, mesmo em menor escala, a degola ainda campereava pelos pampas. O famoso coronel provisório Vazulmiro Dutra, de Palmeira das Missões, tinha os pés-no-chão sob sua chefia. Chimango, ele sempre foi acusado por assisistas de ser degolador. Ele, por sua vez, não se importava com a pecha que acabou ganhando. Pior: Dutra inclusive gostava de ser chamado como tal.

Pois numa das viagens do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas (isso durante o Estado Novo), alguns coronéis e pecuaristas resolveram homenagear o ditador com um grande churrascada no Country Club. Nessas idas e vindas um tanto fisiológicas, uma década depois, o chefete agora fora nomeado delegado regional do Instituto Nacional do Mate.

Por coincidência, o coronel estava ao lado de Vargas na imponente mesa quando trouxeram o espeto com a costela para servir o presidente. Aproveitando a ocasião, Vazulmiro puxou da cintura um facão enorme, oferecendo-se para servi-lo. Getúlio, ao ver de quem se tratava, fitou o coronel com uma cara marota - que entendeu perfeitamente a brincadeira. E respondeu, entre risos gerais:

- Calma dr. Getúlio, essa faca o senhor não precisa se preocupar não foi usada ainda.










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