Friday, March 15, 2013

Necrofilia


Hendrix

O disco People, Hell and Angels, lançamento póstumo de Jimi Hendrix, lançado no último dia 5, subiu ao topo das paradas da Billboard em apenas uma semana. O álbum chegou a segunda posição, chegando a 72 mil cópias. Desempenho excelente para um artista desaparecido há mais de quarenta anos.

O problema reside nessa peculiaridade. Hendrix hoje rende, aos detentores dos direitos sobre o espólio do guitarrista morto em 1970, mais do que rendia ao seu vampiresco empresário, também falecido, Michael Jeffrey. Ou seja, a família do autor de Purple Haze ganha muito mais do que qualquer picareta que se montou nas costas do guitarrista de Seattle em todos os tempos. Isso porque, segundo o ex-produtor do músico, Eddie Kramer, há mais discos na fila a serem lançados pela Legacy, que detém os direitos de comercialização da obra de Jimi.

Hendrix tinha controle e autonomia em tudo o que ele fazia em estúdio. Quando morreu, havia deixado horas e horas de ensaios, esboços e improvisos em tape - desde pré-produção, ensaios aleatórios e sessões de gravação, como a do que seria o seu quarto disco, First Rays of New Rising Sun. Parte disso saiu oficialmente como Cry of Love.

O resto, depois da morte do músico, capitaneado por um produtor, Alan Douglas, saiu espremido em doses homeopáticas em álbuns editados ao longo dos anos 70, em seleções com capas de mau gosto e mixagem idem, a fim de satisfazer à súcia dos seus empedernidos fãs. Os discos saíam como novidade, sem nenhum contexto aparente, como se Hendrix estivesse vivo.

Em 1997, décadas depois que a discografia hendrixiana estava esgotada e fora de catálogo, a família do músico conseguiu pôr as mãos na obra de Jimi para relançamento. Foi quando começou o reembalsamamento do trabalho do guitarrista norte-americano. Embora lançada de forma coerente, em edições críticas e coordenadas pelo próprio Eddie Kramer, a picaretagem continua.

Se formos ver, o material de três dos últimos discos de estúdio lançados em CD, South Saturn Delta, Valleys of Neptune e People Hells And Angels é composto de sobras de estúdio que, musicalmente, não vão a parte nenhuma. Isso sem falar de músicas que aparecem com nomes diversos mas, na primeira audição, nos damos conta de que são as mesmas de sempre.

Para vocês verem: Lullaby for The Summer é Ezy Rider; Crash Landing é Freedom. O outtake de Little Wing é Angel instrumental; Hey Gypsy Boy é Hey Baby (New Rising Sun); Mr. Bad Luck e Look Over Yonder e Easy Blues e My Friend. É tudo sobra do último disco dele, porém relançado pela Legacy de forma menos obtusa. Mas não menos oportunista. As tais faixas inéditas são versões alternativas do First Rays

A despeito de toda a produção, a excelência desse impressionante desempenho reside no talento do próprio Hendrix, já que tudo o que ele fazia virava ouro. Mas o melhor do músico Jimi Hendrix está nos seus discos oficiais.

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