Wednesday, November 21, 2012

50 anos de Bossa Nova no Carnegie Hall


O Cartaz

A  Bossa Nova se apresentou nos Estados Unidos com uma trupe brasileira há exatos 50 anos. A histórica apresentação ocorreu por conta de uma parceria entre o Itamarati e a Audio Fidelity, na figura de Sidney Frey.

Tudo começou em setembro, quando o executivo da gravadora desembarcou no Rio de Janeiro querendo levar Tom Jobim e João Gilberto para uma apresentação no famoso auditório da rua 57. Claro que o exexutivo da Fidelity não estava querendo divulgar a música brasleira na América. Na verdade, Frey queria editar as músicas no Tim Pan Alley e, claro, transformar a gravação em disco, para vender igual xuxu.


Além disso, ele já era um iniciado no gênero: conhecia toda a turma do Beco das Garrafas, de Sérgio Mendes até Roberto Menescal e Oscar Castro Neves. Numa coletiva no Copacabana Palace, anunciou que alugara o Carnegie para um show dia 21 de novembro e iria fazer uma lista de possíveis artistas.


Matéria do JB do dia 22 de novembro de 62

Como a escolha ia ser difícil, até porque até quem não tinha nada a ver com a bossa ia querer se candidatar, Frey contou com a ajuda de  Mário Dias Costa, chefe da Divisão Cultural do Itamaraty. Costa, assim como o homem da Audio Fidelity, queria pelo menos manter o nível das estrelas que deveriam se apresentar.

Aloyisio de Oliveira, por sua vez, por isso mesmo, bancou o Velho do Restelo: tinha medo que o concerto estragasse tanto a imagem da nossa música no estrangeiro quando afundar promissoras carreiras no exterior. Ele queria que o o show ocorresse em outra data e apenas com Tom e João. Oliveira até tentou, mas não conseguiu demover ninguém disso. Ao contrário, muitos sentiram que essa manobra era para tentar separar o primeiro do segundo escalão. No fim, foi a licença para que fosse quem quisesse - e pudesse.



Disco lançado pela Audio Fidelity

Já que ia quem quisesse, quem achava que ia o concerto ia virar vexame nacional acabou tirando o pé. Por isso, gente como Sylvia Telles, Maurício Einhorn e o Tamba Trio não foram.

Parte da trupe foi subvencionada pelo Itamarati. Outros, como Caetano Zama e Agostinho dos Santos, foram respectivamente patrocinados pela Di Giorgio e a RGE, selo do cantor.

Sérgio Mendes batou pé e queria ou abrir ou fechar o show. Abriu porque Frey naturalmente queria João Gilberto para fechar o concerto, que ocorreu naquela noite chuvosa do dia 21 de novembro de 1962. A Bandeirantes de São Paulo, com Walter Silva como correspondente, transmitiu tudo para o Brasil.

Muita controvérsia encheu páginas e páginas de jornal. Foi um sucesso ou um fracasso? Para alguns, havia gente talentosa mas muito inexperiente. Ao mesmo tempo, era o debut de Tom na América e era quem mais tinha a ganhar ou a perder naquela noite.  Stan Getz havia vendido 1 milhão de compactos de Desafinado. Pois foi justamente o ponto alto do concerto, pau a pau com Agostinho dos Santos, que virara celebridade nos Estados Unidos como o intérprete de Manhã de Carnaval, que cantou naquela noite, axompanhado de Luiz Bonfá.

A apresentação de Jobim - que, curiosamente, acabou ficando de fora do disco, foi impecável. Já outros mementos hoje geram boas risadas, como Roberto Menescal desafinando ao vivo o seu próprio Barquinho, em pleno Carnegie Hall lotado - tudo minuciosamente registrado em disco.

No palco, passaram Sérgio Mendes e seu Sexteto, Carmen Costa e Bola Sete, Sérgio Ricardo, Ana Lúcia, Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, Luiz Bonfá, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Caetano Zamma, Chico "Fim de Noite" Feitosa, Normando Santos, João Gilberto e Tom Jobim.


E muita gente se fez por lá depois daquele 21 de novembro: Oscar Castro Neves ia seguir carreira internacional, como Sérgio Mendes, por exemplo. Tom, por sua vez, conseguiu editar músicas suas nos Estados Unidos. De forma prudente, guardou Garota de Ipanema para um momento oportuno. João Gilberto foi contratado pela Verve. Um ano depois, Jobim, João e Getz iriam transformar Garota de Ipanema no momento número 2 da Bossa Nova na América. Mas isso é outra história...


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