Wednesday, April 09, 2008

Dancing With Mr. M (ick)

Os Stones no Beacon Theater, em Nova Iorque, em novembro de 2007.


Faça como eu: passe numa liquor store, pegue uma garrafinha de uísque – pode ser qualquer marca - tome umas quatro cervejas antes (pra calibrar, mas não almoce, vá entornando de barriga vazia, só misture um aperitivo, bom, você sabe como é a manha) e vá assistir ao Shine A Light, dos Rolling Stones. De preferência, escolha uma sessão vesperal (a velha matinê), aquela básica, das 16 horas.

Me senti proustianamente o adolescente vagabundo dos seus 17 (nisso eu posso provar que não mudei), no tempo em que a gente lotava sessão de cinema para ver coisas como o Doors do Oliver Stone, em sessão da meia noite, no Vitória, lotada de freaks e junkies, como naquelas sessões aqui no ABC, com filmes tipo Gimme Shelter ou o Rock Remains The Same. Esqueça DVD. Isso não presta. Ver na telona é inexplicável (inefável), melhor, só ao vivo, e na primeira fila - e tem horas que você esquece que tá no cinema, esquece de tudo. Não existe mais audiência como antigamente prá cinema, já que gente como eu está em rápida (auto) extinção.

O que me chamou a atenção: o grau fundo de garrafa do óculos do Scorcese, esqueceram de colocar a bateria em She Was Hot, e aquela platéia parecia a do Viva a Noite. Tinha umas minas ali na primeira fila que nem sabiem quem era o Buddy Guy, quando ele apareceu no palco para tocar Champagne and Reefer.

Aquela parte do Keith de capote fumando bagaraio e cantando a media luz You Got The Silver, fantástico! Parecia um pau d’ água que cataram na rua (a voz detonada pelo goró e pela nicotina ainda agüenta o vibrato) para fazer uma participação especial E fantástico foi ver Far Away Eyes ao vivo (o refrão eu cantava junto a plenos pulmões, haha), ficou linda, linda, e o Mick arrancando um dó e um sol na guitarra, sempre que ele aparecia com o violão ou com a guitarra eu me empolgava. Some Girls ficou legal ao extremo - aliás, falando nisso, eles colocaram 4 desse (underrated)LP no show, excelente AO EXTREMO.

Quase pedi para o tio do projetor passar de novo Live With Me (e botar na pausa para eu ir no Nacional do Praia de Belas pegar um kit de Budweiser gelada para depois voltar à sessão), até agora eu não acredito que eu vi aquilo. E o Jack White com o Mick (Loving Cup, do Exile)ficou muito legal, o cara só pareceu meio assustado de dividir o primeiro plano do palco com o Jagger. Qualquer música do Exile ao vivo é 100%, e eles tocaram (com o Bobby Keys, outro remanescente das históricas sessões da Riviera Francesa) 4 do Some Girls, inclusive a citada Far Away Eyes), que matou a pau. O Scorsese pegou o mesmo lado irônico daquels entrevstas antigas dos Stones, quando o repórter designado ou vinha com as mesmas perguntas de sempre ou não sabia quem era o entrevistado (funcionou melhor no No Direction Home, mas...).

Dessa parte residem as partes mais engraçadas do filme:

Repórter: Qual é a pergunta que mais te fizeram para você nesses últimos anos?Keith: Essa que você acabou de fazer, rá, rá.

Repórter: o que você faria se não fosse o Mick Jagger?
Mick Jagger: Eu seria outra pessoa.

Ponto negativo do filme foi a participação nada especial de Bill Clinton – totalmente desnecessário. Mick, que é um gentil-homem(ao extremo), se submeteu a dar três beijinhos até a sexta geração da família do ex-presidente norte-americano, que ainda abre o show para eles. E não cantaram Shine a Light ao vivo...

Pontos positivos: músicas que apareceram ao vivo pela primeira vez ou que não eram tocadas no palco há muito tempo, e que ficaram melhores que as originais, como She Was Hot. E uma tecnologiia nas câmeras (IMAX), que faz closes de áudio. Se a câmera foca um riff do Keith ou um crash do Charlie, a palhetada ou som dos pratos também entram em primeiro plano.

Keith só não roubou toda a cena (Keith distribuindo palhetas como um pastor demoníaco fazendo uma eucaristia profana ou enfiado num capote como um presbítero de filme de faroeste fumando feito um pai de santo, enquanto o Ronnie fazia a slide de You Got The Silver) porque a Cristina Aguilera e a Lisa Fischer comandaram, cada uma à sua parte, o show. A segunda sacudindo os peitos em She Was Hot e a primeira dando e levando encoxadas do Mick, valeu o ingresso – e principalmente o úisque barato, tudo isso enquanto Deus abençoava os pântanos e as tardes vadias.

1 comment:

Anonymous said...

Ótima resenha, a melhor que eu li até agora, deu mais vontade ainda de ver o filme. Abraço véio, te "conheço" lá da Beatles Brasil.