Friday, June 09, 2006

Mitu

Ah, vocês nunca ouviram falar da história do Mitu? O Stanislaw Ponte Preta escreveu uma história muito engraçada que aconteceu durante a Copa da Inglaterra, em 1966. É o seguinte: quando a seleção brasileira chegou a Liverpool, um grupo de jornalistas veio a reboque. O problema é que havia um deles que não sabia nada de inglês, no máximo, ensaiava um "Hello" ou um "Good Bye". Depois do jogo da Bulgária, foram todos comemorar num restaurante. Um deles pegou o cardápio, e o dissecou, diametralmente. Chamou o garçom, pigarreou, alçou a fronte, e fez o pedido. O jornalista ao lado olhou para o garçom, e respondeu: "me too". Assim foi, um a um: "me too", "me too". Até chagar no rapaz que não sabia inglês: foi surpreendido pelo olhar curioso do mâitre. Suspense total. Sem pestanejar, respondeu:

- Mitu.

Foram prontamente atendidos. Então aparece o garçom, com o prato: bife com batatas fritas. O tal jornalista "bilíngue" sorri, aliviado. Assim foi, depois de cada jogo do Brasil. Todos iam juntos ao tal restaurante. Um dos repórteres lia o cardápio, pedia, e todos respondiam: "me too", "me too", e nosso herói respondia: "mitu".

E em minutos, aparecia o prato: suflês, macarronadas, carne de porco, panquecas, filés. Em pouco tempo, ele já se sentia um Poe, um Wilde, um Dickens. O "mitu" lhe abriu as portas da língua. E cada dia era um prato diferente. Ele dizia a palavrinha mágica e,de repente, desfilavam cardápios cada vez mais exóticos. Mas se a comida era de primeira, o futebol da seleção brasileira nem tanto. Uma casa de irene. Foram convocados 44 jogadores, 4 times, para a copa. Além disso a seleção promoveu um supersticioso "culto aos antepassados" e vários veteranos das copas passadas foram convocados por conta desse tolo sortilégio. Não podia ter dado certo. Após vitória inicial sobre a Bulgária por 2 x 0 o Brasil perdeu para a Hungria, 3 x 1. No fim, não passamos da primeira fase, depois do vexame do 3 a 1 de Portugal, sem contar com a cena do Pelé sendo caçado pelo gramado afora, como uma adúltera bíblica.
No dia seguinte à derrota, a maioria dos jornalistas brasileiros retornou ao Brasil. Nosso herói bilíngue, porém, resolveu esticar a viagem. Na manhã seguinte, ele resolveu almoçar no restaurante de sempre. sentou-se na mesa como um dândi, com um perfil de César e ar de desdém. Eis que aparece o garçom. Arrumando o guardanapo na gola, como um Mazzaropi (o do filme), encarou o homem e pediu, triunfante:


- Mitu!

E nada. Ele insistiu:"Mitu, pliz!". O garçom chamou o mâitre. Este também não entendeu o pedido do ilustre cliente. Envergonhado, nosso herói bateu em retirada.


Conclusão dele: depois que o Brasil perdeu a Copa, o mitu também acabou.

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