Me contaram uma história muito engraçada esses dias.
Um senhor já de meia idade estava apressado para pegar o ônibus na rodoviária para Itaqui, para as bodas da filha. Ele estava parado na gare quando, de repente, vem um homem soltando fogo nas ventas em direção a uma moçoila que, ao lado dele, esperava a porta do carro abrir.
O homenzarrão chegou na frente da chinoca e bradou:
- Sua vaca, você não vai me escapar assim!
E desferiu-lhe um soco. A mulher, bufando de raiva como um bode, montou no sujeito como se montasse num porco, dendo cocadas violentas na cabeça dele, até que ambos desabaram, engalfinhados e fora de si.
Apareceu a turma do deixa-disso, entre eles o nosso herói que, como testemunha ocular, foi parar na delegacia com os dois brigões.
Lá estavam os três diante do delegado. Irado, o casal continuava batendo boca violentamente. Na hora do depoimento, o homenzarrão disse que a mulher foi com começou, cravando as suas unhas nas costas dele.
Contrariado, a testemunha ocular meteu a colher torta:
- É mentira, delegado, eu vi tudo, quem começou tudo foi ele.
- CALE ESSA BOCA DE MERDA! - atalhou o delegado.
- Mas doutor, eu vi tudo desde o come...
- CALE ESSA BOCA DE MERDA!
Ele afundou na sua cadeira, lívido de espanto. Ficou mais lívido quando ouve a versão de mulher que, em dado momento, fulmina nosso herói com o dedo e vocifera:
- Se esse palhaço não tivesse se metido na nossa discussão, a gente não estava aqui nessa situação.
- Mas o que foi que eu fiz? - gemeu.
- Você nos colocou nessa situação, seu palhaço.
- Mas foi ele quem começou, não foi, seu guarda? - tentou apelar ao brigadiano que os trouxe ao distrito.
- CALE ESSA BOCA DE MERDA! - fulminou o delegado.
- É mentira - pigarreou o homenzarrão, de olhos vidrados. - Só por causa de uma brigunha de merda que ela fez escândalo, pegou o primeiro táxi e disse que ia voltar para a saia da mamãe em Butiá. Não seja assim comigo, sua vaca, eu te amo.
Nisso ela começou a chorar. E eles se abraçaram languidamente. Perplexo, se tivesse um buraco diante de deus pés, nosso herói teria prontamente se atirado fosso adentro.
O delegado então salomonicamente falou:
- Vocês dois, tenham juízo e parem de fazer besteira em público.
Os dois pombinhos então deixaram o distrito alegres e felizes, de mãos dadas - não sem antes a mulher olhar para trás, em direção à nossa testemunha ocular e mostrar-lhe a língua, como uma criança.
Atônito, ele tentava ainda se justificar:
- Mas seu delegado, eu só quis ajudar...
- CALA ESSA BOCA DE MERDA E SUMA DAQUI ANTES QUE EU TE PRENDA POR DESACATO A AUTORIDADE!
Quando ele desceu as escadarias da delegacia, ela a pura e excelsa imagem do desespero. Além do pito, nosso herói ainda perdeu a viagem para Itaqui naquela noite. Mesmo que pegasse o próximo ônibus, ia chegar só no outro dia, depois do casamento e da festa. não teve outra saída: foi para casa dormir.
.........
Acordou cedo no dia seguinte. Antes de pegar o táxi para a rodoviária, porém, ele resolveu tomar um café no bar ao lado do prédio. Quando estava no meio da xícara, brincando distraidamente com a colherzinha no pires sujo de café que transbordara, ouviu o anûncio:
- Isso é um assalto!
O bandido foi direto ao caixa que, com a arma apontada para o seu nariz, esvaziava toda a féria numa sacola. Como único freguês, nosso herói foi o próximo. Com o cano encostado na orelha ouviu o pedido:
- A carteira e o relôgio, seu trouxa.
Ato reflexo, o facínora fugiu da lanchonete, dando tiros para o ar, como um Tom Mix, para sumir rua afora, dentro de um carro sem placas. Numa progressão fulminante, apareceu o populacho, formando um cordão na calçada.
Uma patrulhinha apareceu, tentando dar conta do episódio. No recinto, o caixa, um atendente e nosso herói. Um popular aponta o dedo para ele e diz, olho rútilo e lábio trêmulo:
- Ele viu tudo, seu guarda, pergunte a ele, seu guarda!
Os brigadianos avançaram diante de noso aturdido herói:
- O senhor viu a cara do assaltante da lanchonete? - esbravejaram, ávidos e sequiosos de uma elucidativa resposta.
Ele, entre patético, aturdido, estupefato, distraído e debochado, respondeu:
- Assaltante? Que assaltante?
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