Monday, May 07, 2012

Oh my God, Am I here all Alone?



Dylan






Clima de boteco, muita gente bebendo e fumando, alguns conversando à parte, o som não estava tão alto, a banda era honesta, não havia telão, o sistema de som era passável, embora muita banda de sambafunk da Cidade Baixa rejeitasse os equipamentos, a iluminação era de teatro universitário (a luz era projetada contra os músicos, dando um ar de peça surrealista ao vermos as sombras deformadas contra o pano cinza), o repertório era interessante, típico blues de Memphis com alguma coisa surrupiada de cançonetas pop, só o cantor que chamou realmente a atenção: um senhor de prá lá dos setenta, usando um chapéu, mais parecendo um redneck aposentado das bandas do sul, com uma voz rascante e opaca, o que se sabia é que você pode não pensar ao olhar para ele, mas ele foi famoso há muito tempo atrás tocando violino elétrico em Desolation Row --- sim, senhoras e senhores, eu estou falando do Bob Dylan.

Achei um tanto peculiar ficar imaginando que ele fez um show que não tem nenhum clichê de apresentação mainstream, nenhuma badalação da imprensa, nenhum apelo visual, ninguém fez qualquer coisa que ousasse sair do óbvio - inclusive com Dylan perfeitamente à vontade tocando suas canções menos arrebatadoras para um público que se não é fá, ficou ou ficaria ligeiramente perplexo, e ficou, até porque a recíproca era verdadeira: não existe nada mais desapaixonado do que m fã de um cara que, mesmo que, em determinadas fases da vida, sempre procurasse o seu público, na verdade, ele pode se dar ao luxo de desprezá-lo, anão ser que ele o queira para fazer o que ele quer que todos façam, que é parar para ouvi-lo.

Eu mesmo, que achei que fosse ter um troço ao vê-lo diante de mim, fiquei perplexo com a sensação que eu tive o tempo todo, e que foi rigorosamente o que eu escrevi naquela pequena frase do primeiro parágrafo. Talvez uma banda coverizando Dylan parecesse impecável, Dylan consegue ser comum. Podia ser um ilustre desconhecido tocando num bar de honky tonk no interior dos Estados Unidos, um artista mambembe da Redenção. é incível ver alguém tão à vontade em ser comum.

Dylan chega a ser comovente pelo fato de que ele está velho, e sabe envelhecer com dignidade - e fazendo o que ele gosta, e o que eu gostaria de fazer quando chegasse na idade dele. Gostaria de ter uma banda para tocar o meu repertório, esquecer família e transformar a estrada profunda em meu doce cotidiano. Digo isso porque fico até sem jeito, até depois do show e de conhecer o velho Dylan, que eu fico sem jeito de me considerar um fã dele. acho que eu introjeto a atitude dele, aquela que ele mitificou involuntariamente, a do vamos todos ficar doidões de Rainy Day Women, e essa, a do Dylan velho, do outro Dylan de voz apagada, e que nós temos que aprender a gostar. Eis o que eu queria dizer: fácil é curtir o Velho novo Dylan; difícil é curtir o novo velho Dylan.

Em tempo: prefiro os dois.


PS: Achei legal que ele tocou canções dos discos que eu mais gosto dele, o Blood On The Trachs e o Highway 61 Revisited. Pena que ele alterou tanto a tonalidade das músicas que era ipossível cantar junto. Mas eu me emopcionei especialmente com Simple Twist Of Fate, que é a minha preferida do disco, lançado em 1975.

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