Wednesday, April 04, 2012

O Imbatível


Aírton

Salim Nigri, um dos maiores torcedores do Grêmio, contou que, certa feita, quando o Grêmio perdeu o Cameponato Municipal de 1955 para o Internacional (que, por sua vez, decidiu o título com o Brasil de Pelotas, sendo campeão gaúcho daquele ano), um amigo dele apontou das arquibancadas do Olímpico para um zagueiro do clube tricolor que saía de campo depois do jogo:

- Com esse negrão em campo, nós nunca vamos ser campeões em cima deles!


O zagueiro era Aírton Ferreira da Silva. Aírton foi parar no Grêmio porque, num Grenal de 55, o colorado Salvador quebrou a perna do ponteiro esquerdo Xisto.

Sem saída, os dirigentes do clube tricolor foram procurar um substituto para Xisto na Timbaúva. Lá treinava o aspirante Aírton, que defendia as cores alvirubras do Força e Luz. Como seu ídolo maior, Tesourinha, ele queria ser ponta. Foi trazido para o Olímpico como jogador nessa posição.

No entanto, ao vê-lo jogar, o treinador Oswaldo Rolla achou que ele era lento e alto demais para jogar como ponteiro. Foguinho o via correr, e dizia:

- Seu Aírton, o senhór vai estragar essa grama bonita do Olímpico correndo desse jeito!

Foguinho tomou uma drástica decisão: resolveu recuá-lo para a zaga. Aírton se descobriu ali. E Oswaldo Rolla conseguiu o que queria. Jogadores altos e corpulentos, que jogassem pelo futebol-força, como o Honved que ele viu em campo quando viu o escrete de Puskas fazer misérias nos gramados da Europa, quando Rolla era treinador do Cruzeiro de Porto Alegre, que fez uma mitológica turnê pelo Velho Continente, em 53.

Com o imbatível Aírton na zaga, mais Ênio Rodrigues e Calvet, um meio campo com um jogador técnico como Mílton Kuelle e um velocista como Élton Festenseifer (o alemão de Rocca Salles), um lateral insuperável como Ortunho e um ataque com Juarez (o Leão do Olímpico), mais um meia goleador como Gessi e Vieira, o Grêmio enfeixou um penta campeonato, de 1956 até 1960.

Na temporada em que Aírton passou uma temporada no Santos, em 1960-61, O Internacional quebrou a sequência de campeonatos tricolores e a possibilidade do clube tricolor de ser hexa, como o seu rival, que conseguiu seis títulos seguidos, nos anos 40.

Mas Aírton voltou para Porto Alegre. Ele acabou não se adaptando ao futebol de lá. Aírton era burlesco demais parta o futebol politicamente correto do centro do país.

Todos tremiam quando ele chamava o atacante para a linha de fundo prendendo a bola, até driblá-lo com uma desconcertante chaleira e sair tocando a bola de volta. Confundiam talento com irresponsabilildade. Mas dizem as más línguas que, na verdade, Aírton voltou porque tinha medo de andar de avião.

Aírton voltou para o Olímpico e os títulos também. De 1962 até 1968, o Grêmio mandou no Rio Grande, superando o Inter com um Hepta.

...

Salim Nigri conta que, dez anos depois daquele campeonato de 1955, depois de mais uma vitória do Grêmio sobre o Internacional, um amigo colorado foi desabafar com ele:

- Com esse negrão em campo, a gente nunca vai ganhar deles!


Quem era ele? Aírton Ferreira da Silva, que partiu para o Wahalla do futebol. O maior zagueiro gaúcho de todos os tempos. Se não tivesse medo de avião, teria sido o maior do mundo.

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