Friday, September 02, 2005

O Homem da Mala Preta

O seu time já perdeu ou ganhou alguma partida de futebol, de maneira estranha ou surpreendente? O goleiro adversário foi substituído no intervalo do jogo? O artilheiro do seu clube foi caçado impiedosamente a pauladas, naquele jogo decisivo? O time aquele que iria te rebaixar na última rodada caminhou em campo, e tomou uma goleada do seu famélico time? Pois deu no Correio: o empresário Roberto Tibúrcio denunciou, em entrevista à Rádio Itatiaia, de MG, a prática de 'mala preta' por parte da diretoria do Atlético Mineiro no Campeonato Brasileiro do ano passado. Tibúrcio, procurador do atacante Quirino, disse que foi o operador do pagamento de 'incentivo' financeiro para atletas de Cruzeiro, Corinthians, Coritiba e Ponte Preta, que na penúltima e última rodada da competição enfrentariam adversários diretos do Galo na luta contra o rebaixamento. Tibúrcio garante que tem como provar a mala preta, porque usou cheques pessoais e transferências eletrônicas de depósitos. O empresário fez a denúncia logo após a direção do clube negar o envio de documentos para a transferência de Quirino para o Real Sociedad.


O homem da Mala Preta é um tabu no futebol: todos dizem que isso não "ecziste", mas a verdade é que ecziste. Aliás, não existe nada mais brasileiramente endêmico do que prevaricação: basta dar uma olhada nos jornais e revistas. O curioso é que a matéria de esportes acabou absorvendo até mesmo o jargão da Política. Assim, o tal empresário é "operador" do incentivo financeiro.


Existem várias histórias envolvendo o homem da mala preta e o futebol. Basta lembrar do célebre caso do suposto "engavetamento;" do lateral-direito do Inter, Édison Madureira, às vésperas de um Gre-Nal, em 1970. Isso na época em que a paranóia sobre a prática de mala preta chegava às raias do absurdo. Depois do jogo, descobriu-se que a história teria sido criada no Olímpico. Falando em Grêmio, também virou lenda urbana um episódio envolvendo o ex-técnico tricolor, Adílson Batista, havia suposta e involuntariamente revelado, em 19 de novembro de 2003, todo o esquema de mala preta envolvendo Grêmio e Criciúma, no Bar do Kabrito, na zona da rótula da Nilo Peçanha. Na companhia de seu auxiliar técnico e do vice de futebol do clube, o treinador assistia ao empate da Seleção com o Uruguai por 3 a 3. Pediram massa com perdiz e chope. Cinco colorados ocupavam uma mesa da calçada desde o final da tarde. Quando deixou o bar, encontrou o que previa.

- Vocês tentaram comprar o Criciúma, agora vai ser uma guerra... - um deles desafiou o técnico.

- Mandamos a mala preta para lá - insistiram os torcedores do Inter.

Adilson apenas riu:

- Vamos ganhar de qualquer jeito. Vocês não sabem de nada, o Criciúma já está no papo.

- Duvido, quer apostar que vocês perdem mais uma? - continuaram os torcedores.

A conversa foi gravada, saiu em reportagem do jornal Zero Hora, mas mesmo a despeito de Adílson ter acertado as suas previsões, ela virou lenda, assim como o não menos famoso Paysandu e Inter, na última rodada da primeira fase do Brasileiro de 2002. Em Belém, há setorista que prove em "off" detalhes escabrosos sobre os desmandos do homem da mala preta na capital paraense, num jogo muito estranho, onde o goleiro titular foi substituído no intervalo, e o clube visitante então pôde fazer a festa, escapando do rebaixamento. Tanto esse jogo quanto o Criciúma e Grêmio ficaram no suspense, e hoje rendem apenas alguma corneta de ocasião. Até porque, assim como no caso do famigerado mensalão do nosso laborioso Congresso Nacional, não "eczistem" provas. E fica o dito pelo não dito. Não houve mala preta, dizem os cartolas. Mas, e o fulano, que tomou aquele gol impossível? E aquele volante que caminhou em campo? E aquela misteriosa contusão no centroavante daquele time? O torcedor não esquece...

A diferença entre esses supostos casos de "mala preta" no futebol e este caso envolvendo um empresário e o Atlético Mineiro é que aqueles quase nunca transcendem a esfera do "suposto esquema" (como o mensalão!), enquanto o presente caso tem nome e sobrenome: O STJD vai requisitar a fita com a entrevista concedida pelo empresário. O clube mineiro pode ser enquadrado em artigo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva que trata de corrupção, concussão e prevaricação.

2 comments:

Nildo Junior said...

Será que não era dinheiro do mineiro Valério? O Tibúrcio estava com o dinheiro na mala ou na cueca? Será que se o Paysandu depender de uma vitória sobre o Internacional em uma das últimas rodadas? Vai rolar muita grana se o Flamengo e Vasco estiverem entre os quatro. O que importa é que o meu Grêmio vai voltar sem mala, a não ser o Odone.

Marcelo said...

Haja mala preta para salvar o Papão!!