Wednesday, April 27, 2005

Troféu Maria Antonieta

Me lembro quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso disse que aposentado era vagabundo. Claro que ele não disse que aposentado era vagabundo, mas sim que, quem se aposentava sem motivo aparente, seria uma espécie de vagabundo. Não sei se foi isso bem o que ele quis dizer, claro, mas todo mundo entendeu que aposentadoria era coisa de vagabundo, era uma espécie de blague aos prontos da terceira idade. Foi um vagabundo carinhoso.

E as pessoas não entenderam o que o presidente quis dizer, em sua briosa e furibunda catilinária contra a vagabundagem. A frase, a despeito do seu real significado, ganhou merecidamente o troféu Maria Antonieta de declaração mais infeliz da década. Mas o que os idiotas da objetividade não entenderam foi que ele disse apenas isto: para quê se aposentar se você pode morrer trabalhando? Falou a voz da experiência. Afinal, ele era senador da República. Um senador pode morrer trabalhando dignamente — embora ganhando muito mal, como todos.

Claro que eu não me preocupei com essa potoca. Afinal quando FH proferiu esta libelo ao trabalho, eu eu era um pobre e imberbe estagiário gauche na vida, vivendo numa maré de mijo inominável e interminável: desempregado, na rua da amargura, vivendo de despejo em despejo, descornado, sem dinheiro e com o meu time caindo pelas tabelas. Logo, não iria me preocupar com essa polêmica: afinal, havia muito ainda o que correr de vaga em vaga até conseguir — quem sabe um dia — um emprego estável, uma vida digna com uma mulher bela, simpática, afável, caseira, com filhos ao colo e — é claro — um troféu no armário.

O tempo passou, e o presidente hoje é outro. Esta semana, ele resolveu também concorrer ao Troféu Maria Antonieta. Disse: "o brasileiro não levanta o traseiro do banco ou da cadeira para buscar um banco mais barato". O presidente está certo! Esta é uma pátria de vagabundos! Não querem achar o banco mais barato, querem se aposentar antes do tempo. Vocês não têm, vergonha, seus vagabundos! As armas, cidadões! O que importa não é o que o País pode fazer por nós,mas sim o que nós podemos fazer pelo País! Quem for brasileiro que me siga! Eu continuo desempregado, na rua da amargura, vivendo de despejo em despejo, sem dinheiro, descornado — embora o meu time tenha se classificado para a segunda fase da Emídio Perondi, atrás do Guarani.

Mas não tem problema, não! O Lula tá certo! Tem mais é que tirar o traseiro do banco! Onde já se viu, bando de vagabundo! Eu não tenho dinheiro, mau cartão foi cancelado, estou devendo uma frota de táxi em dinheiro para cobrir o buraco da conta corrente, mas se ninguém quer mudar o Brasil, eu quero! Fora Banrisul! Bank Of Boston, aqui vou eu!

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