Tuesday, June 28, 2005

Quentinhas da Alemanha

"O Riquelme é José Inácio", diz Parreira

Marcelo Xavier/ Enviado especial do PATO MACHO à Alemanha


Está no papo. O técnico da Seleção, Carlos Alberto Parreira, acredita que o Brasil já merece levantar a taça por antecipação. O grande estrategista disse hoje, em Frankfurt, que o time já está nos cascos para a grande vitória e que a argentina (vai em minúscula, mesmo!!!) não passa de uma piada.

"Pode escrever, a taça é nossa, não tem para esses castelhanos. O time argentino é medíocre, lento, indolente e sem qualquer pegada, a verdade é esa: nós vamos encaixotá-los. Iremos repetir a performance de Buenos Aires e assombrar o mundo com nosso futebol-arte", afirmou o brilhante e adudacioso treinador, em entrevista após o jantar, na festiva concentração da Seleção.

Parreira inclusive já destacou os pontos fracos do adversário. "O Riquelme é josé inácio. Ele pega a bola e passa, como se ela queimasse, só engana, isso sem falar no Sorín, que já enganava no Cruzeiro, agora só dá migué".


Vencedor

Consagrado com títulos como da Copa do Mundo e da Copa América, o técnico brasileiro já fala como vencedor e revela que está dando autógrafos como campeão da Copa das Confederações: "eu quero essa Copa das Confederações porque só falta ela para eu ganhar.". Esses castelhanos vão ter que esperar, a época deles já passou".

Como disse em Porto Alegre, antes da gloriosa vitória por 4 a 1 em Buenos Aires, pelas Eliminatórias do Mundial, Parreira voltou a desdenhar a próxima partida: "se antes foi um amistoso de luxo, amanhã nós vamos liquidá-los como Ulisses fez com os pretendentes de Penélope", riu. Questionado a respeito da propalada precariedade da zaga, Carlos Alberto desdenhou: "meu filho, eu tenho Cicinho, Adriano, Robinho, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, vou me preocupar com zaga? Alôooooo!".

Parreira reitera que o Brasil vai entrar para matar o jogo. "quando eu aposto contra a Argentina, eu já gasto o dinheiro de véspera", disse o treinador. "É jogo jogado".

O técnico já fez também uma análise da Copa das Confederações. Para ele, o torneio, que gerou polêmica por interromper as férias dos jogadores "estrangeiros", foi bastante produtivo.
"Acho que tudo aqui foi extremamente proveitoso, o saldo foi muito positivo e a vitória sobre a Alemanha foi fácílima. Conseguimos observar 20 jogadores e eliminar o santos tirando o Robinho", brinca. "Fazer o quê, dura é a lei, mas é a lei.


Babado!
Roque Júnior elogia Galvão Bueno em treino
Um dos jogadores mais elogiados após o jogo entre Brasil e Alemanha, que terminou com a vitória da Seleção por 3 a 2, o brioso zagueiro Roque Júnior não escondeu a sua alegria e apreço com o narrador Galvão Bueno, da TV Globo, após o treino desta segunda-feira.

O zagueiro viou de longe seu amigo, deixou o gramado quando os atletas faziam alongamento, depois de trabalharem por cerca de 45 minutos. Caminhou em direção ao jornalista e, de braços abertos, teve uma rápida conversa antes de voltar para o campo.

Na opinião do jogador, segundo sua assessoria, os elogios feitos por Bueno durante o primeiro tempo da partida contra os alemães foram pontuais e justos. E o tom de sua reciprocidade foi para que o Galvão: "não se esquecesse dele, nem no smomentos mais fugazes".

Procurado pelo PATO MACHO, Galvão Bueno disse, a respeito dos elogios: "Vocês sabem que eu sou suspeito para falar dos amigos. Não fiz mais do que a minha obrigação como amigo e como brasileiro. O Roque sabe que nós somos muito amigos".

Após o treino desta segunda-feira, Roque Júnior ganhou o apoio do técnico Carlos Alberto Parreira. "O Roque Júnior é o maior zagueiro que já botou chuteira pela Seleção", afirmou o comandante do Brasil. "O Bellini não amarra as alparcas dele".

" Eu só não quero açodá-lo demais, a ponto que ele venha a ter algum mal desempenho nas partidas ", completou Parreira. "De qualquer maneira, já ganhamos".

Sunday, June 26, 2005

31 Canções (versão brega!)

O último livro de Nick Hornby, 31 Canções, é muito bom — quem não leu, leia. Na obra, ele fala de diversas canções pop que fizeram a sua cabeça. Ao contrário dos sucessos anteriores, o lançamento é totalmente despretensioso. Trata de uma lista (óbvio) das suas músicas preferidas, e a forma como elas se confundem com sua vida de trintão cool e desassombrado. A despretensão reside no fato de que, assim como ele, todos e qualquer um pode fazer o mesmo, talvez não com a mesa intensidade, ao relacionar músicas com estágios de vida cujos critérios são esses inefáveis laços sentimentais que nos prendem à vida e suas idiossincrasias. Como o ponto de partida de sua lista é o seu gosto pessoal, ele pode bater na trave do leitor em determinados momentos — por conta de artistas pop mundialmente conhecidos — quanto passar longe da meta, devido ao ecletismo de Hornby.

A história da nossa vida e músicas: é um tipo de meditação que só não passa pela cabeça dos inimigos do botão play e do auto-falante. E, para quem gosta de música, sempre tem aquela história para contar envolvendo você e alguma faixa — nem que seja pelo menos uma. Claro, não se trata de ser a música que mudou a vida, mas aquela que, sempre que a ouvimos, bate alguma coisa. O cara que estava perdido na vida, na porta da miséria, desempregado e descornado, mas tinha aquele disco do Jimi Hendrix que salvou a sua vida e que foi o seu fiel confidente; a menina que chorou muito ouvindo "Vento No Litoral", da Legião Urbana, a rapaz que se lembra do seu pai sempre que ouve "Velho Realejo" com o Sílvio Caldas; o cara que lembra daquele porre de vinho de garrafão ao escutar "I Wanna Be Sedaded", dos Ramones; do sujeito que resolveu pintar a cara de graxa e protestar nas ruas de pois de ouvir Caetano em "Alegria, Alegria", na naquela minissérie; da dona de casa que achou que a Vanusa cantava "Manhãs de Setembro" especialmente para ela; da ex-ardorosa fã do Menudo que sempre sente fica vermelha ao ouvir "não Se Reprima" e alguém jogar na sua cara que ela tinha ataques de histeria ao vê-los no Viva a Noite; ou aquela vovó que sempre se lembra do falecido ao curtir o "Besame Mucho" com o Ray Conniff. OK, sei que se eu espremer mais o cérebro, eu vou escrever um pequeno evangelho sobre o assunto. Voluntariamente ou não, elas sempre acabam invadindo a nossa mente e assombrando nossas memórias como o chá com bolinhos do Marcel Proust.

O segredo de 31 Canções, no caso do autor de Febre de Bola, é surpreender o leitor sendo profundo dentro de uma proposta aparentemente reles. Tudo passa pela sua análise isenta de preconceitos de ocasião, pelo menos, no sentido qualitativo de escolher "as melhores" mas, sim, aquelas que representaram algo na sua vida, ou seja, sentimentais motivações. Isso naturalmente não transforma a lista de Hornby numa verdadeira colcha de retalhos, que inclui Patti Smith, Teenage Fanclub, Santana, Rod Stewart, Ani DiFranco, Aimee Mann, Paul Westerberg, Suicide, J. Geils Band, Ben Folds Five, Badly Drawn Boy, The Bible, Van Morrison, Soulwax, e por aí vai. Ou seja, se a lista segue alguma lógica, essa passa longe de um gênero específico.

Claro, nem tanto. Por exemplo, quando ele fala de "Rain", ele banca o cronista musical, e acerta na mosca. "Rain" é uma canção maravilhosa dos Beatles, de um ano maravilhoso da carreira deles, o ano que o Oasis ficou tentando viver nos últimos dez anos, e é maravilhoso escutar uma canção de Lennon-McCartney que não teve praticamente todo o seu sumo sugado". Nesse caso, eu devo concordar que realmente existe uma fixação no ano de 1966 e, principalmente pelo experimentalismo do rock daquela época. Na verdade, o que o Oasis faz é viver parado naquele cânone; nesse sentido, eu até conseguiria, junto com Hornby, escolhê-la em detrimento de qualquer outra do quarteto de Liverpool. Ou então o fato dele se achar tão velho para uma música tão primordial, como "Heratbraker", do Led Zepplin, ou se sentir cada vez mais renovado sempre que ouve a mesma música, como "Thunderoad", do Bruce Springsteen...
Enfim, lista de músicas preferidas como uma espécie de egotrip quase como um inventário de nossas, vidas, uma recherche do tempo perdido com trilha sonora, todos podem fazer. Ótimo. Portanto, eu humildemente pensei que poderia, aqui, nesse humilde espaço, ajuntar uma lista pessoal das minhas canções preferidas. Mas não se trata de uma lista comum. Eu queria, na verdade, é montar um inventário das melhores canções brega de todos os tempos e dar subsídios à este gênero tão renegado pelo Brasil dândi, encasacado de tão bem vestido e coberto de pó-de-arroz. Chega de popices e seus congêneres. Eu quero os trovadores do Brasil bodum, molambento e suburbano.
Mas brega, BREGA! Então vamos lá:

O Telefone Chora – Márcio José: considerado pelos especialistas como o brega mais globalizado de todos os tempos. Original de Claude François, ganhou versões em espanhol, italiano. Márcio José foi o responsável por vertê-la para a língua de Camões. Metade falada, metade cantada, ela narras as peripécias de um homem que tenta em vão falar com a sua mulher, com quem havia rompido há sete (ou oito) anos, desde que a filha do casal veio ao mundo. Pois o diálogo todo é travado por ambos, pai e filha, sem que este se dê conta da desdita. "O telefone/chora/e ela não quer/ falar...".

Torturas de Amor– Waldick Soriano: precisa falar alguma coisa? Essa música é simplesmente FODA!

Fuscão Preto – Almir Rogério: uma dor de corno motorizada. A maior de todas, tendo um carro como protagonista fala da mulher que "foi vista com outro", "cheirando a álcool e fumando sem parar" e que trocou o poeta por um Fusca. Soberba.

Deixa de Banca – Reginaldo Rossi: o Pai de Todos. O Abraão do brega. Antes dos outros existirem, ele já existia. Salve, Reginaldo Rossi, o padroeiro da turma do goró.

A Desconhecida – Fernando Mendes: acharam que eu ia esquecer dele? O Leonardo gravou "A Desconhecida", do cara que também é o inventor do "Cadeira de Rodas" e "Você não me Ensinou
a Te esquecer". Mas não adianta: a original é muito melhor. "De onde ela vei/Prá onde ela vai?". Emoboy em pessoa.

Tango Prá Teresa – Ângela Maria: ela que é a highlander da música brasileira. Essa cantou na Primeira Missa. Ângela, teu povo te ama. A Ângela cantando tango é simplesmente de fazer o Gardel ter tremilicos lá na tumba.

Meu Grito – Agnaldo Timóteo: Agnaldo é um cara esquecido pelas novas gerações. Fiquem sabendo que ele foi um dos maiores, dos maiores. O cara cantando "The House Of The Rising Sun" bota o Eric Burdon no chinelo, nem se apresenta. "Meu Grito", por sua vez, foi feita pelo Roberto Carlos especial mente para o deputado Timóteo. Esta foi um grande sucesso da Jovem Guarda. O disco, de 1967, foi presente do Dia dos Namorados que meu pai deu para aquela que viria a ser a minha mãe. Meu pai também era brega. E a minha mãe não sabia o que lhe esperava...

Aparências – Márcio Greyck: "quantas vezes nós deitamos lado a lado, tão somente prá dormir?", dia a letra. "Quantas vezes nós dissemos ‘eu te amo’ prá tentar sobreviver?". Greyck discute a relação e vira mito.

Costa del Sol – Sônia Rocha: ah, você não sabe quem é a Sônia Rocha? Então voc6e não sabe nada!

Telefone Mudo – Trio Parada Dura: Antológico, com o Barrerito nos vocais e como s errinhos de concordância verbal na letra. Era o auge da guarânia na música sertaneja. "Cansei de ser o seu palhaçoooooo/ Fazer o que sempre quis/ Cansei de curar sua fossa/ Quando você não se sentia feliz".

Eu, Você e a Praça – Odair José: Ele é o bardo das gadosas, o minnesinger do Brasil bodum, o cantor dos amores impossíveis, o cronista do cotidiano rés-do-chão. O maior entre os maiores. Autor de frases memoráveis como "se eu soubesse o que iria acontecer/ nao teria acostumado minhas coisas com você" ou "se eu fosse uma lágrima eu não te deixaria, ficaria em seus olhos como poesia e todo amor do mundo seria para nós dois". "Eu, Você e a Praça" parece um ajuste de contas do poeta apaixonado e sua musa, de prontidão, na calçada. Impressionista, ela começa assim: "encostei meu carro na praça/E você/ Um tanto sem graca/ Sorriu pra mim...".
Tudo Passará – Nelson Ned: quem não conhece? Te ouvir tomando umas e outras, no rádio do boteco. Hors Concours.

Secretaria da Beira do Cais – César Sampaio: essa é estilo "A Bailarina", pelo título delas, dá para entender onde o eufemismo quer chegar.

Se Amar é Viver – Altieres Barbiero: "se amar é viver, eu vivo porque amo você". O refrão é cantado com um coro feminino, estilo chansoneur francês. Já o Altieres é um Leonard Cohen "bodum", canonérrimo. Outra daquelas declamadas. Aqui, o sujeito é um coitado que encontra um vulto do passado, dos tempos do colégio. Ao ver a sua amada transformada em mulher, ele se esgueira e tenta revelar o seu amor pela mulher que ele encontra na praça, enquanto faz o inventário de sus investidas. Eis que, de repente, uma criança corre aos braços da bela senhora, gritando "mamãe". Para quê! Nosso herói foge, envergonhado: é tarde demais. E canta: "se amar é viver, eu vivo porque amo você...".

Feriado – Gizele, a Madoninha Capixaba: ela não parece com a Madonna, é fanha, não canta nada, é a maior sem noção, mas é a minha musa. Nada melhor para levantar o astral. "Feriado" é, na verdade, "Holiday", numa tradução quase literal da letra. "Seriadão (sic)..leee-gal! Vamos comemorar pelo munduuuuuuuu!".

Seu Amor Anda É Tudo – Moacir Franco: mais um dos patriarcas do brega, Franco também foi chique. E um grande compositor, criador de grandes sucessos, como "O Milagre da Flecha", "Balada # 7".
Ainda Ontem Chorei de Saudade – João Mineiro & Marciano: coincidência. A música é de Moacir Franco, também. Clássico dos clássicos. "ainda ontem/Chorei de Saudade/ Relendo a carta/ Sentindo o perfume/ Mas que fazer com esse amor/ Que me invade/ Mato esse amor ou me mata/ O ciúme".

Prometemos Não Chorar – Barros de Alencar: É aquela do cara que vai abandonar a concubina, e faz um show de histrionismo sádico tentando conformar a pequena inconsolável num restaurante, fazendo-a se humilhar diante dos clientes. "lembra a tarde em que nos conhecemos? Ele: "Foi lindo que aconteceu entre nós. Mas já passou. Já passou. Agora é preciso que nos separemos". Ela: "Chuif! Eu Te amo!" Ele (frio): "O seu café está esfriando, páre de chorar, o garçom está vindo!".

Ainda queima a Esperança – Diana: "todo dia é o mesmo dia/ Toda hora é qualquer hora....Eu não sei por quanto tempo/Vou esquecer o seu amor (...) "está feliz agora, depois que tudo acaboooou". Pior, só churrasquinho grego com cerveja uruguaia quente. Soleado – Francisco Cuoco: Carlão não é propriamente um mentor brega, mas entrou para a história no gênero ao gravar esta canção como recitativo, com uma voz rouca de conhaque vagabundo e cigarro Caporal. A música gira em torno de um corno enigmático, que teria perdido o amor de sua mulher para um certo "bobocudo", e se consola em exclamações como "porque te amo. Te quero! Como te quero!". O babado é que, a despeito do sucesso, Cuoco não ganhou nada como disco. Resolveu botar a antiga Ariola na Justiça, e acabou ganhando a causa, recebendo R$ 100 mil. Pelo menos, de bobocudo, o "Carlão" não tem nada.
Retalhos de Cetim – Benito di Paula: autor de pérolas do cancioneiro, tais como "Tudo está No seu Lugar", a lírica "Eu Amei" e a bucólica "Amigo do sol, Amigo da Lua" , sambista "EMO" revela a tocante história da cabrocha enganadora que o deixou chorando na avenida no meio do desfile de Carnaval.

Quarto de Pensão – Paulo de Paula: em grande estilo, dotado de um precioso senso de narração e descrição, Paulo de Paula é voyeur em "Quarto de Pensão". "Pelo vitrô dentro de um quarto em minha frente/ Vejo um vulto diferente/Mal posso compreender/ Me aproximo com tanta curiosidade/ Porque o vulto na verdade/ Chega a me surpreender/ E por detrás de uma cortina transparente/ surge uma luz fosforescente/ Vejo um corpo de mulher/ que aparenta/Vinte anos mais ou menos/ Pelo que eu estou sabendo/ Meu carinho ela não quer".
Nosso Amor Virou Um Lixo – Carlos Alexandre: está para nascer um "poeta sonhador" como Carlos Alexandre. Bodum total. Ninguém é brega com tanta convicção quanto ele. Depois de "Mulher Traiçoeira", nada como exorcizar um amor perdido com "Nosso Amor Virou Um Lixo".
O Grande Amor da Minha Vida – Bartô Galeno: profeta do goró, Galeno é o cara da música do toca-fitas. É o Jim Morrison do brega. Daqueles que canta três números e desaba no palco, como o líder dos Doors. Desde então, tem conquistado hordas de fãs ardorosos e sequiosos de sua lírica. "O Grande Amor da Minha Vida" é se não a maior, a mais representativa de seu inefável talento: "Amor/ Você não sabe o quanto eu/ Estou sofrendo Amor /Na sua ausência/A solidão me apavora/Amor não consegui gostar de mais ninguém Porque /Você é o grande amor da minha vida".

Princesa – Amado Batista: seresteiro das noites, aquele do "hospital, na sala de cirurgia, pela janela eu via, você sofrendo a sorrir". Quem não se apaixonou por aquela princesa, caixeira de supermercado de subúrbio, com olhinhos brilhantes, cabelinhos "toinoinoin" e um tímido sorriso de dentinhos meigamente tortinhos? "Ao te Ver/Pela primeira vez/ Eu tremi todo/ Uma coisa tomou conta/ Do meu coração/ Com este olhar meigo/ De menina? Me fez nascer no peito/ esta paixão..."

Menina de Trança – Antônio Marcos: emoboy e profeta do goró, o saudoso Antônio Marcos encarnou o romântico evangélico (lembram de "O Homem de Nazaré"), mas ficou menos datado mesmo nas canções de amor como "Volte, Amor" e, principalmente "Menina de Trança", a mais "emo" de todas, com seu arranjo de berceuse. É a história da menina que virou mulher e "esqueceu" de amá-lo. "O tempo tão lindo/ Ficou na lembrança/ Menina de trança/ que falta me faz". É o eterno príncipe dos "emos".

A Cruz que Carrego – Evaldo Braga: ninguém sofreu mais do que ele. Evaldo Briga cantava "sorria" mas, por dentro, copiosamente ele chorava. Ninguém cantava como Evaldo Braga. "A Cruz que Carrego" é a sua maior interpretação. Evaldo Braga sofreu até a morte. "Quem de mim tanto gostava/ Agora me odeia". Foi um gênio em seu curso espaço de tempo.
Dois Sem Vergonha – Lindomar Castilho: lista brega sem Lindomar não é lista brega. Castilho, o cantor que, como diria Ortega Y Gasset, era literalmente o homem e as suas circunstâncias. O rei do bolero trash: "Todo dia a gente briga/ Por ciúme ou por intriga/ Sempre temos que brigar/ Você diz que vai embora/ E eu com raiva nessa hora/ Não lhe peço prá ficar/ É um problema de quem gosta/ quando você vira as costas/ A tristeza me acompanha/ É mesmo um caso sem jeito/ Você vai e volta e eu aceito/ Isso é uma pouca vergonha". Vai encarar?
Índia – Paulo Sérgio: ainda mais com as baquetinhas e o backing do regional mexicano, nada mais cafona, na interpretação viril do inolvidável Paulo Sérgio que, como alfaiate, era um grande cantor.

A Namorada que Sonhei – Nílton César: uma declaração de amor. "Receba as flores meu amor/ E em cada flor um beijo meu/ são flores lindas que eu lhe dou/ Rosas vermelhas com amor/ amor que por você nasceu. Do ex-ídolo da Jovem Guarda tardia, quando ainda vigorava o orgãozinho Lafayette, César, autor de "Férias na Índia" e "Amor, Amor, Amor" canta uma profissão de fé dos casais enamorados na irretocável "A Namorada que Sonhei". "Querida ml vezes querida/Deus na terra nascida/ A Namorada que sonhei".
Coração Materno – Vicente Celestino: o primeiro brega no Brasil, do tempo da Chiquinha Gonzaga. Aliás, ele era ator dos teatros de revista da maestrina. Nos cinemas, virou "O Ébrio". Foi redimido pelos tropicalistas – Caetano e Duprat recriaram essa mesma canção, um tango-canção inspirado num poema popular francês. A voz de barítono de Celestino foi um símbolo do bregão (o termo, aliás, não existia). Quem nunca ouviu Vicente não sabe o que é brega. Nem O Nick Hornby. Hehe.

Wednesday, June 08, 2005

É chato ser brasileiro!


ESPORTES
Argentina desaba diante do Brasil: 4 a 1
Seleção levou 1 a 0 no começo, mas mostrou que amistoso de luxo mesmo é Boca e River. Time de Parreira está classificado para a Copa do Mundo 2006

Marcelo Xavier / enviado especial do PATO MACHO à Buenos Aires

Com um desempenho irretocável nas duas etapas, o Brasil meteu quatro sonoros golaços na fraca Argentina e deu goleada de luxo em pleno Monumental de Nuñez, para o delírio dos 10 mil brasileiros que lotaram o estádio do River. Com a vitória, a Seleção Brasileira distancia-se da Argentina na liderança das Eliminatórias Sul-Americanas ao Mundial de 2006, com 30 pontos contra 28.

O festejado e propalado "quarteto fantástico" (Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Robinho e Adriano), que tanto sucesso fez no Beira-Rio contra um apático Paraguai, quase deu mostras que iria ruir diante de 70 mil espectadores argentinos, como queriam os "cretinos fundamentais" da imprensa. Tudo começou quando Crespo recebeu a bola livre na entrada da área e chutou rasteiro no canto esquerdo para fazer 1 a 0.

Mas a verdade veio à tona: a esperança de que, a partir dali, começasse a aparecer o talento dos craques brasileiros realmente deu as caras quando brilhou a estrela de Robinho, de excelente atuação em campo. Ele aproveitou falha da defesa e empatou o jogo, aos 15 da primeira etapa, com um belo arremate de fora da área.

Desestabilizado, o time de José Pekerman que, antes do jogo, havia chamado a partida de "amistoso de luxo", sentiu que a alma castelhana soçobrava diante da vultosa alma brasileira. Aos 40 minutos, Adriano ganhou a disputa com Ayala e desviou de cabeça para fazer 2 a 0. Foi o que bastou para perturbar completamente a equipe argentina. Dois minutos depois, em desespero, um covarde e pífio Sorín acertou um tapa escandaloso em Ronaldinho, após uma disputa no meio de campo. O árbitro uruguaio Gustavo Mendés mostrou que não era caseiro, e expulsou o lateral, que precisou ser retirado coma ajuda da Polícia. Em seu lance seguinte, Ronaldinho brilhou ao driblar quatro adversários e chutar a gol: era o terceiro. O primeiro tempo terminou com alguns princípios de briga. Desestabilizado, o time da casa esperava o pior.

A Argentina bem que tentou, e jogou excepcionalmente bem no segundo tempo, tentando encurralar os briosos visitantes em seu campo defensivo. Mas foi tudo em vão. Tensos, os "castelhanos" não conseguiam acertar três passes no meio de campo. Foi quando Robinho, novamente ele, depois de muita insistência, liquidou a fatura, aos 26min, com um gol de placa. A Argentina lutou até o final, continuou pressionando, já fazendo por merecer o segundo gol. Aos 39, quando Crespo chutou uma bola prensada na trave. Nem a entrada do cabrón Carlito adiantou alguma coisa. No meio da humilhação, a hinchada brasileira entoou os versos de Cuesta Abajo, tango de Gardel e Le Pera: "me arrstré por este mundo, la verguenza de haber sido y el dolor de ya no ser". Coitados. É que não adianta: esses castelhanos não ganham nem campeonato de cuspe.

A Argentina tenta, tenta, mas só o Brasil que é Penta.

Argentina: Abbondanzieri; Ayala, Coloccini e Heinze; Kily González, Mascherano, González (Zanetti), Riquelme e Sorín; Saviola (Tevez) e Crespo. Técnico: José Pekerman.

Brasil: Dida; Cafu, Juan, Roque Jr. e Roberto Carlos; Émerson, Zé Roberto, Kaká e Ronaldinho; Robinho (Renato) e Adriano. Técnico: Parreira. Árbitro: Gustavo Méndez (Ur.)

Tuesday, June 07, 2005

Não acredite. É verdade

Em 2002, Noel Gallagher, líder do Oasis, disse que, quando a banda concluir a sua obra-prima, vai terminar. Para o bem ou para o mal, tudo indica que a resposta é definitivamente talvez: se não é pois o zênite da carreira deles, pelo menos permite um primeiro lugar nas paradas e refrões interessantes.

Gravado nos estúdios da Capitol em Los Angeles, por sugestão do produtor do disco, Dave Sady. De acordo com Noel, o material produzido até 2004 não apresentava qualidade suficiente para vir à luz. Resumo da ópera: o novo disco levou quase dois anos para "deslanchar", agora em sessões de gravação que contaram dois meses e meio.

Como no álbum anterior, Heathen Chemstry (2002), Don’t Believe The Truth abre o repertório à participação de seu irmão, Liam, mais Gem Archer e Andy Bell. Se antes Noel dizia : "I write the song that make the whole world sing". Agora ele mesmo admitiu, em entrevista à revista Q: "Ele [Liam] está em um estágio em que eu só me encontrei há vinte anos atrás, onde você escreve uma canção atrás da outra". Pode ser um elogio. Segundo ele, seu irmão havia apresentado cerca de vinte canções, das quais foram selecionados números como "Guess God Think I’m Able" e "Love Like a Bomb". Lógico, isso não significa dizer que o próprio Noel esteja entregando os pontos. A sua participação no disco, mais do que vital, demostra que ele e a banda definitivamente passou aquela fase de saber se está vivendo o primeiro dos seus anos de glória ou o fim de um curto período de genialidade, como no auge do Britpop. Mais do que tudo, Don’t Believe The Truth mostra o amadurecimento do Noel compositor. De longe, as canções dele valem os três anos de espera.

O ponto negativo para a imensa e inconsolável legião de fãs é a saída de Alan White. O que se espera, ao menos, é que o processo de downsizing a cada lançamento diminua — senão, Liam e Noel irão, inexoravelmente, fundar a sua solidão num duo estilo Everly Brothers...

Para muitos, o acréscimo de Zak Starkey tem a ver com o momento da banda, outros entendem que a sua sonoridade é limitada com relação ao seu antecessor. A avaliação sobre Zak pode ser precoce, mas o interessante em seu trabalho no disco é que, involuntariamente ou não, ele imprimiu um novo formato às canções. Se o velho logotipo voltou à capa, a sonoridade é menos padronizada do simbolismo "beatle" em favor de um teor mais híbrido nas faixas com relação à referências musicais. O próprio guitarrista aponta para um ecletismo lapidar, indo de Kinks a Dylan ou Elvis Presley, muito embora o objetivo do Oasis não seja montar um quebra-cabeça para os seus ouvintes. Até porque muitos deles talvez não saibam sequer quem é Ray Davies...

Apesar da diversidade tendências e influências, pelo menos é possível notar que eles encontraram um padrão dentro dos clichês que o próprio Oasis fomentou. Pelo menos, em termo de letra, se restaram incompreendidos nos últimos discos, eles provam que estão se superando a cada álbum. Longa da torrente de guitarras em profusão e da bateria heavy de Be Here Now (1997), Don’t Believe The Truth busca a medida estóica do rock, modulando entre canções mais acústicas e arranjos mais "cerebrais". Um exemplo é "Turn Up The Sun", composição de Andy Bell, que abre o disco de leve, parece um blues "espacial": "I carry madness/ Everywhere I go / Over a border/ And back to the snow".

Para "Mucky Fingers", parece que Noel gastou a voz a ponto de deixá-la irreconhecível, como John Lennon cantando "Twist And Shout" no Please Please Me. Resultado: sui generis, ficou rascante e mercurial como Bob Dylan. Se a voz lembra o cantor de "Just Like a Woman", a gaitinha entrega de vez. Já a letra sai martelada com a bateria insistente: "you get your mucky fingers burnt/ You get your truth or your lies you have learnt/ And all your plastic believers they leave us and they won't return".

"Lyla" bem que poderia se chamar algo como "Variações sobre "Street Fightin’Man", dos Stones. Até o pianinho no fim provoca uma furtiva lembrança. "Calling all the stars to fall/ And catch the silver sunlight in your hands/ Call for me to set me free/ Lift me up and take me where I stand. Já a moça da canção bem que poderia ser parente da musa inspiradora de "She’s a Rainbow". Não querendo usar a expressão clichê, a já a usando, é a típica faixa de "levantar estádio", como foram antes "The Hindu Times" ou "Go Let it Out. Em "Love Like a Bomb", uma espécie de valsa folk, a voz de Liam está diferente. Quem toca piano é Martin Duffy do Primal Scream.
Noel retorna em "The Importance of Being Idle", título que brinca com Oscar Wilde. A música varia tempos de fox-trote com bolero.

Obra-prima: um pequeno tratado sobre o ócio, de letra deliciosamente irônica: "me dê um tempo, todo homem tem limite, voc6e não consegue uma vida se seu coração não está nisso, não me importo, enquanto houver um leito sobre as estrelas que brilham, estarei bem". "The Meaning Of Soul", já conhecida dos que ouviram a apresentação do Oasis no Glastonbury em 2004, tenta ser um bluescore ou, nas palavras de Noel, "soa como Elvis cheio de crack. "Zak a tocou numa caixa de Weetos com duas colheres de madeira", diz o guitarrista. Para ele, seria Stooges tocando Elvis. Talvez seja Oasis mesmo. Descontando a furibunda harmonica no fim, inimaginável num disco do Oasis, até então.

"Part of The Queue", puro Noel Gallagher. Outra novidade de Don’t Believe The Truth, de sonoridade inusitada. É quase um duelo entre violão e bateria, outra diferente de tudo o que poderia ser taxado como Oasis. "Keep The Dream Alive", no entanto, é tão familiar quanto possa parecer. Lembra algum lado B da banda, daqueles que realmente não soam como lado B. Liam soa como o velho Liam de sempre. "A Bell Will Ring", que segundo Noel soa tão parecida com a fase "Revolver "dos Beatles que seria até possível emendá-la com "Paperback Writer". Senão, no fim, pegue o mote e cante você mesmo de memória: "Dear sir or madam will you read my book it took me years to write, will you take a look?"...

"Guess God Think I’m Abel" pode parecer como um chiste, ou um enigma. Liam usa a m,etáfora para pagar o preço por ser o irmão mais novo: "You could be my enemy/ I guess there's still time/ I get round to loving you/ Is that such a crime?". Já "Let There Be Love" poderia ser "Champagne Supernova", mas não é: até a coda provoca uma lembrança. Poderia ser uma outra "Stop Your Criyng Your Heart Out". Soa como uma daquelas baladonas do John Lennon carreira solo. Mas é melhor sendo ela mesma, e é ótima para terminar um disco. Como aconteceu em 2002, as faixas do novo disco também vazaram indiscriminadamente pela Internet afora.

A diferença é que, se antes, os usuários do Napster tiveram os seus acessos bloqueados, hoje isso se faz sem maiores problemas e deliberadamente. Não são poucos os blogs e sites que espocam pela rede com faixas. O curioso nisso tudo é que o mesmo Noel Gallagher que, à época, disse que isso tirava a "magia das músicas", hoje pensa diferente. Quer lançar o próximo álbum na rede. Mesmo distante dos tempos gloriosos de Deninitively Maybe (1994) e What’s The Story Morning Glory (1995), o Oasis fez um trabalho com luz própria. Comparações à parte podem ficar à cargo dos puristas de plantão. O resto é o bom e velho rock, ou o que ainda resta vivo dele. Mas Noel disse que, se criasse a sua obra-prima, o Oasis terminaria: quem não deve acreditar na verdade?

Piadas na Argentina

— Brasil x Argentina é o Tango da Morte Anunciada ou o Samba do Criolo Doido?
— Maradona virou tiete de Ronaldinho Gaúcho. Será que isso significa que os nossos negros são melhores que os brancos deles?
— Se Pelé é Rei e Maradona é Deus, o que sobra para Ronaldinho, Ronaldo e Robinho?
— Eles falam em Dream Team da Seleção Brasileira. Mas nós estamos desfalcados. Já pensou se o Grafite começa a partida?
— Depois que tiver uns 3 x 0 para o Brasil vai ter argentino pedindo substituição no Brasil ou asilo esportivo.