Friday, April 20, 2012

De caso com a Máfia


O livro


Anthony Summers e Robbyn Swan assinam a mais recente e mais completa biografia sobre o cantor norte-americano Frank Sinatra. A despeito do preço salgado do lançamento (R$ 70, em média), o livro vale a pena, muito embora o número de páginas é transcendente pelo fato de que boa parte das páginas são dedicadas à extensa bibliografia e incontáveis citações da obra. Mas o livro vale a pena por vários motivos.

O que chama a atenção é que a presença da Máfia na vida de Frank, que a ajudou e foi ajudado por ela, e de forma ostensiva. Um gângster que conviveu com ele nos primeiros anos, quando sua família recém havia chegado à Nova Jersey, certa feita havia dito: "ele sempre quis ser um mafioso". E o autor assevera: "se ele não tivesse se tornado cantor (também com a ajuda de sua mãe), teria sido um mafioso.

Sua carreira teve o primeiro impulso com a ajuda de Harry James e, no começo dos anos 40, quando ele conseguiu se tornar crooner de Tomy Doorsey. O famoso maestro foi figura central na sua transformação em fenômeno da massas, a partir da segunda metade dos anos 40; porém, a ruptura entre os dois se deu de  forma traumática.

Summers traça um retrato sem retoques de Sinatra, tanto para o bem quanto para o mal. No caso de Doorsey, ele pôs a Máfia na querela para que Tommy abrisse mão de lucrar com um contrato que lhe franqueava um vultuoso valor para a rescisão com abanda de Doorsey.

Na lista de mafiosos que faziam parte do séquito de comensais de Sinatra estavam Bugsy Siegel (morto pela Máfia depois que faliu)) Willie Moretti, Lercara Friddi e Lucky Luciano (também assassinado quando ia depor sobre o crime organizado, nos anos 70). Frank sempre fez de tudo para que seu nome não fosse relacionado à eles e consequentemente ao crime organizado. Durante toda a sua vida, ele não quis entrar em nenhum detalhe sobre essa relação que, no entanto, é esmiuçada durante a biografia.

Lucky Luciano construiu um impédio do crime em Cuba e Sinatra foi o seu imediato, inclusive ajudando no desvio de mais de 3 milhões de dólares para Havana.

Outra questão curiosa sobre sua vida foram os baixos: a frustração e a dificuldade em conseguir chegar ao estrelato no começo. A queda, no começo dos anos 50, amalgamada com a turbulenta relação com Ava Gardner. segundo os autores, o amor de ambos durou toda a vida (e além dela) - a despeito da separação e das sucessivas traições. Sinatra traia e era traído, e ao mesmo tempo, investia de maneira furibunda contra qualquer um que tentasse algo com ela, mesmo depois da ruptura.

Ava pagava as passagens de avião e ele a "gigoleteava" durante as filmagens de Mogambo. ele teve somatizou todo o estresse e quase perdeu a voz, ao mesmo tempo que tentou se matar. Nesse meio tempo, Ava abortou pelo menos três vezes, uma escapada com um ator do filme, outras (nem ela saberia dizer) com Frank. Sobre isso, Gardner alegou, em sua biografia: "se nós não tínamhos condições nem de cuidarmos de nós, imagine cuidarmos de uma prole?".

Nos anos 50, Sinatra deu a volta por cima, deixando de ser um ídolo de jovens alucinadas para abraçar um público de outra idade. Nessa época, ele cuidou de trabalhar de forma mais acurada a sua produção musical, lançando discos (pela americana Capitol) que até hoje são referência, quando ele gravou os maiores clássicos do Tim Pan Alley, o grande repértório das inesquecíveis canções americanas de todos os tempos, indo de Cole Porter até Irving Berlin.

A partir dali, ele fundou um gravadora ( a Reprise) e virou celebridade, com direito a brigas homéricas com a imprensa, desde Hedda Hooper e Louella Parsons, as matronas do gossip news em Hollywood até o dia em que ele mijou na lápide de Lee Mortimer, seu inimigo figadal.

Sinatra continou ligando sua carreira musical com a Máfia até os anos 60, quando ele desbravou Las Vegas e virou figurinha fácil (junto com o Rat Pack, Sammy Davis e Dean Martin, com quem era habitué de orginas iromanas em saunas, rodeados de go go girls) no Sands (onde ele gravou o seu primeiro disco ao vivo, em 1965), que era capitaneado naturalmente pela Máfia.

Antes, ele havia cantado para Lucky Luciano em Cuba. Lucky comandava também o Flamingo. Aliás, a Máfia mandava em Las Vegas.

A história mais cabulosa, e que entra para o rol das teorias conspiratórias se dá na questão do apoio dado por sinatra à campanha eleitoral de John Kennedy. Sempre um democrata, seguindo os passos de sua mãe, ele o apoiou também procurando granjear algum tipo de auspício que favorescesse a situação dos seus colegas mafiosos nos Estados Unidos. Afinal de contas, segundo os biógrafos, a família Kennedy tamém estava medularmente ligada à Máfia.

A questão é que, com a posse de JFK (franqueada pela eleição bico de pena chefiada por mafiosos de Chicago, onde Kennedy venceu de forma mágica ou não tão mágica assim), com o tempo, eles não tiveram as suas demandas atendidas. Para piorar, seu irmão Bob foi nomeado para a Defesa, e este determinou uma caça às bruxas na máfia ianque, o que gerou um descontentamento com os chefões do crime ligados à Sinatra - que também ficou numa verdadeira sinuca de bico por conta disso.

Todas essas questões pareciam (e parecem) pesar no que acabou acontecendo com John Kennedy. Lendo o livro, não restam dúvida a respeito de quem pôr o presidente norte-americano no cadafalso em Dallas. Segundo Summers, o assassino de Lee Harvey Oswald, Jack Ruby, era um laranja da Máfia de Chicago.






Wednesday, April 04, 2012

O Imbatível


Aírton

Salim Nigri, um dos maiores torcedores do Grêmio, contou que, certa feita, quando o Grêmio perdeu o Cameponato Municipal de 1955 para o Internacional (que, por sua vez, decidiu o título com o Brasil de Pelotas, sendo campeão gaúcho daquele ano), um amigo dele apontou das arquibancadas do Olímpico para um zagueiro do clube tricolor que saía de campo depois do jogo:

- Com esse negrão em campo, nós nunca vamos ser campeões em cima deles!


O zagueiro era Aírton Ferreira da Silva. Aírton foi parar no Grêmio porque, num Grenal de 55, o colorado Salvador quebrou a perna do ponteiro esquerdo Xisto.

Sem saída, os dirigentes do clube tricolor foram procurar um substituto para Xisto na Timbaúva. Lá treinava o aspirante Aírton, que defendia as cores alvirubras do Força e Luz. Como seu ídolo maior, Tesourinha, ele queria ser ponta. Foi trazido para o Olímpico como jogador nessa posição.

No entanto, ao vê-lo jogar, o treinador Oswaldo Rolla achou que ele era lento e alto demais para jogar como ponteiro. Foguinho o via correr, e dizia:

- Seu Aírton, o senhór vai estragar essa grama bonita do Olímpico correndo desse jeito!

Foguinho tomou uma drástica decisão: resolveu recuá-lo para a zaga. Aírton se descobriu ali. E Oswaldo Rolla conseguiu o que queria. Jogadores altos e corpulentos, que jogassem pelo futebol-força, como o Honved que ele viu em campo quando viu o escrete de Puskas fazer misérias nos gramados da Europa, quando Rolla era treinador do Cruzeiro de Porto Alegre, que fez uma mitológica turnê pelo Velho Continente, em 53.

Com o imbatível Aírton na zaga, mais Ênio Rodrigues e Calvet, um meio campo com um jogador técnico como Mílton Kuelle e um velocista como Élton Festenseifer (o alemão de Rocca Salles), um lateral insuperável como Ortunho e um ataque com Juarez (o Leão do Olímpico), mais um meia goleador como Gessi e Vieira, o Grêmio enfeixou um penta campeonato, de 1956 até 1960.

Na temporada em que Aírton passou uma temporada no Santos, em 1960-61, O Internacional quebrou a sequência de campeonatos tricolores e a possibilidade do clube tricolor de ser hexa, como o seu rival, que conseguiu seis títulos seguidos, nos anos 40.

Mas Aírton voltou para Porto Alegre. Ele acabou não se adaptando ao futebol de lá. Aírton era burlesco demais parta o futebol politicamente correto do centro do país.

Todos tremiam quando ele chamava o atacante para a linha de fundo prendendo a bola, até driblá-lo com uma desconcertante chaleira e sair tocando a bola de volta. Confundiam talento com irresponsabilildade. Mas dizem as más línguas que, na verdade, Aírton voltou porque tinha medo de andar de avião.

Aírton voltou para o Olímpico e os títulos também. De 1962 até 1968, o Grêmio mandou no Rio Grande, superando o Inter com um Hepta.

...

Salim Nigri conta que, dez anos depois daquele campeonato de 1955, depois de mais uma vitória do Grêmio sobre o Internacional, um amigo colorado foi desabafar com ele:

- Com esse negrão em campo, a gente nunca vai ganhar deles!


Quem era ele? Aírton Ferreira da Silva, que partiu para o Wahalla do futebol. O maior zagueiro gaúcho de todos os tempos. Se não tivesse medo de avião, teria sido o maior do mundo.