Sunday, January 29, 2012

A história da Chess Records, berço do blues de Chicago

De tempos em tempos Holywood produz filmes que se tornam cult movies. Tem um que está passando quase diariamente nos canais HBO e que vale a pena ser visto, revisto e curtido. Trata-se de "Cadillac Records". O filme retrata os anos de ouro da Chess Records, selo independente de Chicago que produziu os melhores discos de blues da história. O selo foi responsável pelo surgimento de grandes talentos, como Muddy Waters, Holin' Wolf, Little Walter, Chuck Berry, Etta James, entre outros. Todas as interpretações são maravilhosas, mas a de Mos Def (Chuck Berry) e Beyoncé Knowles (Etta James) matam a pau. Por sinal, acho que é a melhor coisa que a Beyoncé já fez. Ela canta maravilhosamente as músicas de Etta. É impressionante que a Beyoncé jamais tenha gravado um disco de blues, já que canta o blues como se Etta James fosse. Mos Def incorporou o espírito Chuck Berry ao fazer o filme e imitou o passo de pato e demais trejeitos do roqueiro. Outro destaque é o desconhecido Columbus Short, que fez o Little Walter, que parecia o próprio músico. A vida de Little Walter é cheia de altos e baixos. O cara, além de ser feio, teve a cara toda arrebentada de tanto que apanhou e se meteu em brigas. Mas ele foi o primeiro gaitista a tocar com amplificação e a usar as distorções do som amplificado a seu favor. Algo que Jimi Hendrix acabou fazendo com a guitarra. Não sei como esta produção de 2008 não fez uma carreira melhor no cinema. Vou deixar para vocês o trailer, a Beyoncé cantando "All I Could Do Is Cry" e "At Last"

Friday, January 20, 2012

Dr. Sarmento e o Frade-de-Pedra


A Faculdade de Direito da UFRGS

Um elemento que era típico das cidades no tempo em que o trânsito era composto basicamente de muares, equinos e demais mamíferos hipomorfos, da ordem dos ungulados, eram os frades de pedra.


Pois eles ficavam sempre em esquinas ou em frente à estabelecimentos de toda a ordem, com a única e exclusive finalidade de servir de local de ammaração dos animais de transporte aqui epigrafados.


Hoje as ruas são dos carros, ônibus, motos e demais veículos de três ou quatro rodas. Porém, como quase que um atavismo dos tempos de outrora, pelo menos aqui, em Porto Alegre, alguns ainda resistem.

Um deles se encontra em frente ao lago da Redenção. Mas outro, que fica diante do histórico prédio da Faculdade de Engenharia da UFRGS, ainda pode servir de amarração a qualquer bípede ou quadrúpede.

Muitos que ali passam provavelmente não sabem do que se trata aquele objeto que parece um monumento fálico de pedra ou argamassa armada. É um frade-de-pedra.

Fiz todo esse preâmbulo porque sempre que eu passo ali na frente da Praça Argentina e vejo ele (o frade), me lembro de uma história que, de tão antiga, eu não saberia dizer se é real ou apenas uma anedóta atribuída a uma determinada pessoa - no caso, ou o Doutor e Deputado Armando Câmara, ou o Patrono da Faculdade de Medicina da nossa valorisa Federal, dr. Sarmento Leite.

Costa que, a priscas eras, algum carroceiro, ao transitar pelo antigo caminho da Azenha, que ia do Centro até os lados da antiga Cascata (hoje a Avenida João Pessoa), resolveu deixar seu jumento pastando nos campso verdejantes que ora existiam diante da (então) Faculdade Livre de Direito.

O pobre homem amarrara o muar num frade-de-pedra, e deixou o animal ali, solerte, a devorar lenta e pastosamente a paisagem. Eis que, nos esgar de buscar mais relva, o bicho acabou se desvencilhando das amarras, e foi pastando, pastando, pastando - porém, entre distraída e pachorramente, marchou a passo miúdo rumo à entrada do prédio da Faculdade de Direito (ou de Medicina, que foi construído contiguamente àquele e existe até hoje, junto com este).

E lá foi o jumento, pastando rumo à entrada do prédio. Eis que, ao descer as escadas, um deles, Câmara ou Sarmento Leite, ao deparar-se com aquela cena plástica, do burrico defronte á faculdade, entre perplexo e pálido de espanto, sem tirar os olhos do animal, bradou:

- Bedel, bedel! Tite já este animal daqui, senão daqui a cinco anos ele veste toga e cola grau!

Thursday, January 05, 2012

Criado no Rock


A capa


Terminei de ler e recomendo o livro Elvis Presley - a Vida na Música.
Escrito por Ernst Jorgensen, especialista no que se refere à obra do
Rei do Rock e também responsável pela recuperação do catálogo do
cantor norte-americano nos últimos anos.

Como diz o título, a obra se refere apenas à parte de sua vida
dedicada às sessões de gravação entre 1955, do seu primeiro acetato
até janeiro de 1977.

Mesmo para quem não conhece muita coisa sobre Presley, o livro vale a
pena para mostrar como era, e como é, o mundo do disco. No caso de
Elvis, é interessante notar que, a despeito de sua tenra juventude
quando ele começou no disco, ele já possuía um enorme potencial e
cultura musical.

A questão é que, quando ele entra na indústria do disco e passa a ser
comandado a manu militari pelo Colonel Tom Parker, o Rei acaba virando
uma espécie de cobaia num corredor polonês onde de um lado havia o
mundo das grandes editoras musicais e de outro, o estabilishiment, que
a muito custo conseguiu aceitar o rock no começo dos anos 50.

O livro de Ernst Jorgensen também mostra como havia um cuidado enorme
em se produzir para ele compactos de sucesso e, ao contrário do que a
coletânea de números 1 possa indicar, mesmo com todo o marketing da
RCA e do seu nome no disco, nem sempre ele conseguia um primeiro lugar
e, mesmo que todos os seus discos sempre vendessem bem, havia uma
cobrança enorme em cima dele em busca de sucesso.

Parker tratou de criar um banco de canções gravadas previamente por
ele para preencher o mercado durente o tempo em que Presley serviu ao
exército. Depois que o mercado do rock mudou, no começo dos anos 60,
sua música também acabou mudando. A sua volta gerou um dos seus álbuns
mais celebrados, o Is Back.

Porém, depois de um feixe de números 1,
Elvis começou a ficar à sombra de um fenômeno crucial, que foi o
surgimento dos cantores-compositores.

Correndo pelo outro lado, Parker tinha uma política ligeiramente
ortodoxa: ele montou uma editora musical que se encarregava de
arregimentar compositores de porta de escritório para fazerem canções
para que ele e Elvis registrassem-nas como suas - pelo menos quando a
arrecadação de direitos autorais. Consta que Presley não gravou "I
will Always Love You", de Dolly Parton, porque ela não quis ceder à
esta política.

a partir dos anos 60, Parker viu que o futuro de Elvis não estava na
RCA, mas sim no cinema. Por conta disso, toda a equipe musical se
mudou para Holywood, onde Presley gravou uma séria gigantesca de
trilhas para filmes.

Nesse período, a Hill & Range, a editora do Colonel Parker, funcionou
a pleno vapor em busca de compositores para escreverem juntos canções
pop de ocasião para preencher as películas do Rei. Fora algumas
exeções, já que os filmes não tinham roteiros de grande profundidade,
o grande problema é que as trilhas que Elvis gravava seguiam no mesmo
estilo.





Ou seja, no fim das contas, ele perdeu um grande tempo de sua
carreira musical, e isso fica evidente do livro Ernst Jorgensen,
gravando coisas que não tinham nada a ver com ele.

Elvis mesmo dizia, com relação a uma que outra música: "não é boa nem
ruim, é apernas medíocre". E observando sessões de gravação caseiras
de Presley, nota-se que ele tinha um conhecimento musical considerável
e espontâneo em farejar canções que, de fato, tinham muito a ver com
ele, coisas que seu pai Vernon ouvir, spirituals e muita m úsica
gospel, e country antigo, das Davis Sisters até Hank Wlliams.

Mas como para o Colonel Parker, para Presley gravar esse material era preciso
que a sua editora musical tivesse 100% do lucro das vendas, Elvis
ficou quase uma década refém de compositores de escritório.

Isso só mudou quando ele gravou o famoso Comeback Special para a NBC,
em 1968, e ao mesmo tempo lançou o clássico From Elvis To Memphis, que
indicou uma mudança no material trabalhado para a pré-produção dos
álbuns, uma nova banda de apoio, o fim progressivo das participações
em filmes. Presley voltou ao topo das paradas com canções como
Suspicious Minds e The Wonder Of You e passou a ter uma favorável
margem de negociação na hora de escolher o repertório.

A partir dali ele se reinventaria (ou seria reinventado). O foco a
partir dali não era mais os filmes, mas o retorno aos palcos a partir
de Las Vegas. No entanto, era questão de tempo para que o cantor
acabasse ss tornando cativo da maquina de entortar gente que era a
indústria fonográfica. Ao mesmo tempo, era percebível que, apesar do
público fiel, o mercado queria porque queria que ele continuasse na
crista da onda. Ele estava, mas isso não se refletiva nas vendas de
duscos: seu público olhava para trás e se identificava mais com o que
ele cantava nos palcos do que no que ele tinha de novo para mostrar.

Isso sem levar em conta que musicalmente Presley estava no seu auge
como cantor, e gravando coisas muito mais interessantes do que ele
fazia nos anos 60, indo de Gordon Lightfoot e Kris Kristofferson até
James Taylor. Contra isso ia a política da RCA e o ímpeto
capitalísticamente desenfreado do Colonel Parker, que insistia em
jogar no mercado discos anacrônicos que misturavam material antigo e
sobras de estúdio aos borbotões, em selos de promoção, como a Camden.

Essa questão só não era o principal motivo de fruistração de Elvis
porque o maior deles era o fim do seu relacionamento com Priscilla
Presley, que influenciaria tanto em seu estado anímico quanto no seu
repertório. E junto com o problema de ter que conseguir um compacto de
sucesso a qualquer custo - envolvendo toda a burocracia em volta dele,
havia o conflito de um intérprete que, a rigor, não teria que mostrar
nada a ninguém, mas no entanto, sofria uma cobrança enorme a cada
disco e era posto no circo dos leões pelos palcos de Las Vegas, apenas
porque seu empresário sabia que os shows davam mais dinheiro do que os
discos.

Também é preciso levar em consideração o que o Colonel Parker
considerava como arte: aquilo que desse dinheiro. Ou seja, nada de
filme cabeça ou álbum conceitual. Conceitual para ele era um punhado
de canções de sessões aleatórias e um poster de uma foto contemporânea
de seu pupilo de encarte.



Fora o problema de que os fãs não iriam digerir o novo trabalho de
Elvis, cuja editora musical esperemia os cérebros de compositores como
Mark James (o autor de Suspicious Minds) para sucessos novos em folha,
como pastel de feira.

O resultado foram discos como Raised On Rock e Fool - hoje
considerados clássicos - mas que, na época, foram incompreendidos.
Junto com a pressão de um novo sucesso, o divórcio e a sua saúde
instável.

Elvis na Stax


No meio desse turbilhão, e logo após a apoteose da apresentação
histórica no Havaí, em 1973, a RCA marcara outra sessão de gravações
do que seria o álbum Raised On Rock.

A solução salomônica e caseira foi agendá-la em Memphis, ao invés de
ir até Los Angeles. Afinal de contas, os estúdios da Stax ficam a
cinco minutos de Graceland.

Jorgensen diz que quando Presley se apresentou na Stax, ele parecia
animicamente alterado, acompanhado de um instrutor de caratê,
modalidade que era a sua paixão desde os tempos de exército.

Elvis encheu o estúdio de cantores e cantoras, para criar o clima
gospel nos backings. As primeiras sessõers saíram arrastadas. Na
segunda, alguém sumiu com o microfone principal do cantor. Na
terceira, os seus músicos de estúdio tiveram que se ausentar por
problemas de agenda. Elvis então foi servido pelos instrumentistas da
Stax, Donald Dunn e Al Jackson ("The Human Timekeeper" ), ambos
membros dos míticos MG's.

O problema maior ficou na parte de produção: a infra-estrutura da Stax
era diferente da comumente usada no American Studios, já que a mesa
gravava vocal e instrumentos por pistas, enquanto elvis trabalhava
quase sempre com todos tocando ao vivo. O engenheiro da RCA, Al
Patchucki, por sua vez, não estava preparado para isso.

A gravação ao vivo ali pista por pista iria exigir que todo mundo
usasse fones de ouvido, enquanto o ideal seria que cada um ouvisse
respectivamente o que os demais estão executando. "O sistema de
monitoramento da Stax não permitia que isso acontecesse", diz Ernst.
"De modo que cantores e banda não foram capazes de ouvir uns aos
outros enquanto gravavam".

Dado a todos os contratemos, contando com o perfil ciclotímico de
Presley àquela altura, em três sessões, eles haviam gravado menos da
metade que fora demandado pela gravadora. O jeito foi gravar o resto
sem elvis, apenas com uma voz guia, para que o cantor enfim
registrasse a sua voz, mas em outra ocasião e em outro estúdio, dessa
vez na casa do próprio Elvis em Palm Springs.

O mais interessante no livro de Ernst Jorgensen, no entanto, é o desvelo
que ele trata a parte profissional de Elvis Presley, ou seja, tratando apenas
do que se refere à sua carreira musical e em estúdio, destacando a passagem
de grandes colaboradores em suas sessões de gravação, a forma como ele e
sua banda produziam e cresciam em estúdio devido ao enorme talento e
sensibilidade intelectual do Rei.

Pena é que, como podemos ver nas páginas e histórias de Elvis - Vida na Música,
seu talento tivesse sido dispersado por conta de demandas meramente
mercadológicas ou pelos desmandos de seu empresário, Colonel Tom Parker, que tem também
seus pontos positivos no êxito da carreira de Presley, principalmente
no começo. Mas que, a longo prazo, acabou se tornando um fardo do qual Elvis não
pôde mais se desvencilhar.