Saturday, December 31, 2005

Feliz 2006

A equipe do PATO MACHO deseja a todos os seus milhares de leitores, além da tia do cafezinho, nossos colaboradores, anunciantes e prtincipalmente os credores, boas entradas para todo mundo, um Feliz 2006 e que a Seleção Brasileira seja campeã novamente na Alemanha e, de preferência, em cima dos argentinos e de goleada.

Parece mentira mas não é

Maradona atocha é convidado para Nova Bréscia

Nova Bréscia (UPI) – A Sociedade Recreativa e Cultural Tiradentes, responsável pelo famoso Festival da Mentira enviou convite ao vice-presidente do Boca Juniors, Diego Maradona. A decisão surgiu após os membros da entidade bresciense assistirem à uma entrevista coletiva na sua chegada a Buenos Aires, depois de fazer arruaça no Brasil. O ex-camisa dez esteve no Rio de Janeiro para participar do jogo beneficente organizado por Zico na quarta-feira retrasada à noite. Depois de ficar detido toda a quinta-feira no aeroporto fluminense, acusado de desacato à autoridade, o ex-jogador argentino desembarcou à noite em Buenos Aires. E o agravante: garantiu ser inocente.

Maradona se envolveu em ruidosa confusão quando se preparava para voltar para a Argentina. Ele e mais quatro amigos perderam o vôo para Buenos Aires e, segundo a acusação, discutiram com funcionários da empresa aérea, arrombaram duas portas na área de embarque e mandaram os impolutos e eficientes agentes da Polícia Federal tomarem no c*. "Já tínhamos passado pela alfândega e, de repente, um batalhão policiais armados até os dentes, um inclusive tinha um morteiro. De repente, começaram a soltar bombas de efeito moral na gente, depois mandou a gente ficar pelado e nos deixou todos amarrados entre si, nus! Eu não entendi nada. Um deles me disse que estávamos fazendo estragos e eu lhe disse: ‘Estou sentado, não fiz nada’", contou Maradona, na entrevista em Buenos Aires. "Se eu tivesse feito algum estrago, não estaria aqui agora."

Maradona admitiu apenas um erro durante toda a confusão. "Tinha um policial que ficava me apontando a arma o tempo todo e chegou a colocá-la no meu pescoço. Ele passou então a esfregar a arma no meu traseiro. Ali reconheço que me excedi ao lhe dizer: me atira, me atira toda meu amor! Se todos abaixaram a arma e você segue apontando ela para mim... Vai me matar porque perdi o avião?", revelou o argentino, como olho rútilo e o lábio trêmulo. "Foi aí que me autuaram por desacato à autoridade".

Apesar de toda a épica confusão no aeroporto do Rio, onde chegou por volta das 7 horas e só conseguiu sair às 16 horas, o ex-craque revelou que não se arrepende de sua visita ao Brasil. "Isto não estraga tudo de bom que fui fazer lá e não é culpa dos brasileiros, porque há idiotas em todos os lugares, menos na Argrntina", afirmou o astro do futebol argentino.

Se depender da comunidade bresciense, o próximo Festival da Mentira, que vai para a sua décima segunda edição, vai contar com Diego Armando Maradona. "Agora aquele gringo mestruado vai poder explicar essa história cabeluda e certamente com mais riqueza de detalhes", disse um morador de Nova Bréscia, que não quis se identificar.

O convite foi enviado expressamente a "El Pibe" nesta última sexta à Vice-Presidência do Clube Atlético Boca Juniors, mas ainda não obteve resposta.

Thursday, December 29, 2005

Os Homens de Preto

Na crônica O Juiz Ladrão, escrita pelo teatrólogo e jornalista Nelson Rodrigues em 1955, ele se queixava que, em seu tempo, os árbitros de futebol era de uma cava e monótona honestidade. E explicava; "a virtude pode ser muito bonita, mas exala um tédio homicida". Para ele, falta ao virtuoso a feérica variedade do vigarista. Num libelo contra a honestidade que anulava a imodéstia dos canalhas, ele se reportava ao passado, quando juizes eram figuras "elásticas, acrobáticas e aladas", e dotadas de um épico e deslavado caradurismo.

Em matéria de ladroagem, pelo menos no ano de 2005, os saudosistas não têm o que reclamar. Graças a um árbitro apreciador da arte do bookmaker e de um tribunal com uma fauna de gângsters, o apito fez a festa dentro e fora das quatro linhas. Mais por aqui, no Brasileirão, tivemos o amoral e preclaro Edílson Pereira da Silva que, descobriu-se depois, não beijava santinhos quando encerrava cada jogo apitado por ele, mas sim a cartela da Loteria Esportiva — tudo graças a sua salubérrima clarividência, poderia adivinhar o resultado das suas respectivas partidas. Outro, não menos ilustre, Márcio Rezende, que encerrou a carreira com chave de ouro, merece um busto de bronze no Pacaembu.


O problema é que, quando Nelson falava que o passado era melhor, se olharmos em retrospectiva, veremos que, no curso da história, o Campeonato de 2005 foi apenas mais um e Edílson, o rodrigueano homem de preto, se não foi o único, não será também o último.
Para se ter uma idéia de como essa cultura esta arraigada de maneira atávica em nosso futebol, já na decisão do segundo Campeonato Paulista, em 1903, os atletas do derrotado Paulistano, foram peitar o "juiz". Na final do certame do ano seguinte, a final foi apitada pelo próprio presidente da Liga Paulista de Futebol, Armando Prado. Foi ruidosamente apupado, e isso numa época em que sequer era permitido aos torcedores tomar partido de algum time ou soltar alguma palavra de baixo calão. Outro caso notório dos primeiros tempos: Edgard da Silva, que apitava jogo entre Paulistas e Cariocas mandou o grande, o brilhante centromédio vascaíno Fausto (o Maravilha) para o chuveiro quando o seu time perdia por 3 a 1. Quando o Maravilha tentou argumentar, o homem de preto simplesmente levantou a camisa, mostrando a coronha do seu revólver...

Em 1942, os selecionados do Rio Grande do Sul e de São Paulo disputavam a Taça Brasil no Pacaembu. Quando os gaúchos viram que dava para ganhar, resolveram empilhar gols. Carlitos, artilheiro ponta-esquerda do Internacional, marcou o primeiro. Os paulistas empataram. Tesourinha fez o segundo. A Seleção Paulista empata. Quando Carlitos recebe a bola, completamente livre, dribla o arqueiro e marca o tento, o juiz apita: impedimento. O falecido Carlitos (que adorava contar e recontar essa história) tentou discutir. O árbitro puxou-o para um canto, e disse: "aqui, ó, vocês estão pensando que vão ganhar aqui, em pleno Pacaembu? Final entre gaúchos e cariocas não dá borderô, mas entre paulista e carioca, dá!". Resignada, a Seleção Gaúcha perdeu a Semifinal por 4 a 2.


Outra clássica. O Antônio Carlos Saraiva, que nunca foi brilhante no apito, mas entrou para a história do futebol por ser o protagonista do episódio mais patético de todos os tempos. Foi num Corinthans e XV de Jaú, válido pelo Paulistão de 1986. Diante de tanta roubalheira, Dimas, do XV, perdeu a paciência, tirou o cartão vermelho do intrépido Saraiva e o expulsou de campo, em tom irrevogável. Um rodrigueano de estirpe, José de Assis Aragão, ficou famoso pela arbitragem desastrosa na Final do Brasileirão de 1980, que expulsou draconianamente três jogadores do Atlético Mineiro, inclusive o centroavante Reinaldo, acusado de "fazer cera". Não satisfeito, Aragão marcou um golaço contra o Santos, ao apitar o clássico entre Palmeiras e Peixe, aos 47 de segundo tempo. Jorginho chutou a bola para fora dos arcos do gol palmeirense e a jogada não terminou em tiro de meta porque a canela iluminada de Zé de Assis, enganando o goleiro santista, desviou o curso da bola, fazendo a gorduchinha (grande Osmar Santos!!) dormir feliz no fundo das redes. "O jogo termina quando o juiz apita o marca", se conformava o treinador do Verdão, Rubens Minelli...


João Etzel Filho, rodrigueano por excelência, não conseguia sequer ficar vermelho quando o torcida gritava: "la-drão, la-drão!". Mais do que isso, não se importava de receber "mimos" dos dois respectivos adversários, para quem, pelo menos, ajudasse democraticamente ambos. Certa feita, fez o batedor voltar três vezes, até que acertasse o pênalti dentro dos arcos. Contudo, sempre gabou-se de seu desempenho em Colômbia e União Soviética, na Copa de 1962. O resultado? Empate em quatro. "Fui eu quem empatou aquele jogo", recordava-se. Já Mário Vianna, considerado por Nelson Rodrigues como "mais íntegro que um Abrham Lincoln", tinha apenas o defeito de ser um torcedor fanático pela seleção Brasileira. O problema é que ele pertencia aos quadros da FIFA. Quando o juiz inglês Arthur Ellis marcou penalidade contra o Brasil, quando o selecionado enfrentava a potente Hungria de Puskas, na Copa de 1954.

Uma antologia de arbitragens desastrosas não pode ficar sem a citação de Armando Marques. Este sim, o mais rodrigueano de todos. Era famoso por chamar os jogadores pelo primeiro nome e enfiar o dedo em riste quando falava. Só não foi respeitado pelo Enciclopédia, Nílton Santos, que revidou o dedo de seta com uma sonora bofetada, numa partida amistosa entre Corinthians e Botafogo, em 1964. A trapalhada do século, porém, foi na decisão do Paulista de 1973, quando Armando se perdeu nos cálculos e deu o título para o Santos, quando a Portuguesa ainda tinha uma penalidade a seu favor, na decisão por pênaltis. Para diminuir a besteira (para não dizer outra coisa), teve que sagrar os dois times como campeões...

Como se vê, Edílson não foi o elemento ciclotímico: apenas cumpriu a tradição. E as tais "figurinhas elásticas, acrobáticas e aladas"? Continuam pulando muros e galinheiros, para fugir da torcida ululante, que não pode se queixar: afinal, e a Lei do Oeste. O bom e velho juiz ladrão, quem diria, também perdeu a modéstia. Nelson Rodrigues se orgulharia disso tudo.