Friday, May 27, 2005

A Pena da galhofa e a tinta da melancolia

Vocês conhecem o Eduardo Bueno, o Peninha? Pois ele está lançando o livro 'Grêmio - Nada pode ser maior', pela Ediouro Publicações, com uma noite de autógrafos. Será no dia 1º de junho, às 19h, na Saraiva Mega Store, do Praia de Belas Shopping Center (Avenida Praia de Belas, 1181 - 2º piso).

Em 2004, o também escritor e jornalista, Luís Fernando Verissimo, havia lançado o seu, pelo mesmo projeto da Ediouro (Camisa 12), intitulado ‘Internacional – Autobiografia de uma Paixão’.

Quem ainda não leu nenhum deles, recomendo ambos. Sobre as duas obras, para quem sabe do despeito recíproco entre gremistas e colorados e a eterna rivalidade da dupla Gre-Nal, é
impossível não traçar paralelos entre ambos.

No caso do Luís Fernando, foi um ensaio onde ele pôs muito do elemento afetivo dele com o Inter, uma obra típica de um homem da índole e da idade do Verissimo. Uma crônica de saudades, mas também quase um necrológio. LFV faz uma narrativa proustiana: fala da confusão de nomes de sua avó e do lateral do Inter e do cheiro da grama dos Eucaliptos, e toda essa confusão de odores e de nomes é a sua recherche particular.

Tão proustiano quanto isso, está no ponto negativo onde ele é a prova da passagem do tempo. Mais que odores e nomes, é uma nostalgia maior que a paixão que brota das páginas do livro dele. Eu particularmente fiquei com a sensação de que o Inter é algo que passou para o Verissimo, o resto é um imenso e silencioso anti-clímax. Ele mesmo usa essa expressão: anti-clímax. Brinca que, s eo Ibnter ganhasse mais títulos, ele acabaria viciando demais. O Inter dele começou em 1946 e terminou em 1979, nos festejos do tri brasieiro. Um frio observador objetaria que o colorado não foi além disso depois daquele ano. Talvez a falta de ambição do clube (que não ganha títulos de expressão desde 1992, o que explica em parte a brevidade do ensaio) tenha afetado a paixão da sua autobiografia.

Já o Eduardo Bueno, que é um compilador de histórias nato, resolveu contra-atacar: quis fazer do livro uma cruzada um tanto sintomática, ainda mais pelo fato de que o clube dele está amargando uma doce e cálida segundona e, devido aos frouxos de riso de (quase) toda a crônica esportiva a respeito das peripécias do Grêmio nos últimos tempos, ele resolveu dar vazão ao seu estilo historiador gonzo e fazer um amálgama de grande reportagem entronizada à altura de mito. O que o intuitivo Peninha fez foi transformar todo o sentimento que os torcedores nutrem a respeito do Grêmio "copeiro", "cosmopolita", "peregrino", "viril", de "alma castelhana", enfim, todos os mitos fundadores do futebol gaúcho e fundiu tudo naquela tese furada, misturando alhos com bugalhos, usando naturalmente outros mitos, como o do cavalo no obelisco.

Mas se o Verissimo pôde fazer do seu livro uma espécie de acerto de contas com o Inter de suas memórias e saudades, o sintomático Eduardo Bueno resolveu fazer do seu volume uma blague, uma arrogante jihad contra tudo e contra todos. É a pena da galhofa do Peninha contra a tinta da melancolia do Verissimo. Nesse aspecto, ele foi mais autoral que o seu amigo tricolor. Tanto que muito da história do Inter cruza com a biografia do Luís Fernando, da avó que não jogava na lateral ao apelido de "mandarins" à patota do Aldo Dias Rosa, que tudo sabia, mas nada mandava e o antológico jantar com o Figueroa, regado à vinho tinto e à Pablo Neruda.

Sintomático porque o Peninha quis delimitar com perfeição a virtú gremista. Nada mais sintomático do que a primeira frase do livro: futebol-arte é coisa de veado. Parece que é preciso se posicionar sexualmente. Nesse caso, Mário Sérgio foi definido como "ex-bailarino". Futebol é feio, feíssimo, de muita retranca e bola quebrada numa partida ganha de um a zero embaixo da chuva (já nesse caso nunca o futebol gaúcho num foi tão macho quanto nos últimos tempos).
O Grêmio centauro, charrua, gaudério, etc, etc. O mito do Grêmio maragato, anti-imperial, farroupilha. Um Grêmio de literatura de cordel. O Grêmio é diferente porque é diferente, é Grêmio porque é o Grêmio, está na segundona porque é o Grêmio e a história não acabou porque só vai acabar como Grêmio no topo do mundo outra vez. Como se vê, e uma tese irrepreensível. O Eduardo Bueno, como marqueteiro e pseudo-cientista que é, fez justamente o jogo do leitor, entrou no pensamento da torcida, escreveu ali exatamente o que todos os gremistas pensam (e, de certa forma, o que o olhar estrangeiro também corrobora) . Se o Verissmo foi o cronista do Inter, Peninha foi o evangelista do Grêmio.

Pelo menos, a despeito da rivalidade clubística de ambos, em matéria de bola na trave, Peninha e Verissimo se equipararam. Este declarou a morte do glorioso Cruzeirinho de Porto Alegre. Não, Luís Fernando, o Cruzeiro existe, e estava disputando a segundona Gaúcha. Ele também não tinha certeza se o Inter teria recebido a vaga para o Brasileiro de 1979 do Juventude ou do Esportivo. Foi do Esportivo, Verissimo.

Já o Peninha, além de toda a barra que ele forçou no livro, ele conseguiu inventar que Elis Regina, era supostamente namorada do meio-campista do Grêmio Gessi Lima, havia defendido "uma canção de Edu Lobo" em 1968, no mesmo ano do hepta tricolor. Prá começar, ela defendeu "Arrastão", sim, mas foi no Festival de 1965. E quando o Grêmio foi campeão em 1968, Gessi não estava mais no Olímpico. A história entre ele e Elis (compilada de A História dos Gre-Nais) ocorreu muito, muito antes, nos áureos tempos da ‘pimentinha’ no Clube do Guri. Peninha explica a forçada de barra: segundo ele, é a "história do meu Grêmio, do que ele significa para mim".

Pelo menos, o Peninha ganhou o Gre-Nal (ou Gre-Pal) dos livros num aspecto. Acho que ele conseguiu aprender alguma coisa sobre futebol. Ou não: torcedor torcedor mesmo não torce para o time, torce pelo clube. Aquela história de dedicar o livro aos "volantes de contenção" é estulice. O Peninha não diferencia um centromédio de um ponta-esquerda. Mas o livro dele é excelente. Vale cada um dos trinta contos. E a torcida do Internacional, que certamente não gostou muito da forma debochada com que ele se referiu ao arqui-rival, já sabem: podem reclamar pessoalmente com ele, 1º de junho, às 19h, na Saraiva Mega Store, do Praia de Belas Shopping Center...

Não gosto de cinema, porém...

Para quem não viu "A Vingança dos Sith", o ingresso vale o desempenho nde Ewan McGregor imitando os trejeitos do Alec Guiness do Episódio IV. Cavaleiro Jedi com sotaque britânico é o que há de anacrônico na série. Sem falar dos bombardeios intergaláticos no váculo. O curioso é comprarar as suas trilogias e perceber que existe uma diferença estética do que se pensava como ficção científica - um ambiente hospitalar nos interiores na primeira trilogia - para a estética barroca, apocalítica, quase rococó.

Mas vamos ao que interessa. "Star Wars" é mitologia pura. a despeito do que todos enxergam sobre efeitos especiais, a história remonta à mitos antigos. Como no ciclo arturiano do Graal, toda a história gira em torno do mundo da Távola redonda, e Artur não é o personagem principal sempre, mas é é o central. Como Anakin/Vader, a história começa com ele e termina com ele. Pura mitologia levada às telas numa roupagem tecnológica.É uma saga, isto é, a história de uma genealogia, com um fundo de tragédia, a degeneração do caráter de um homem escolhido como o maior, o escolhido, e a sua redenção pelo filho, através do Édipo, do complexo.

O filho mata o pai, e o pai morre porque o único que poderia matá-lo era o filho. Ele fez cumprir o destino (moira) que lhe erra fadado desde o começo.Além do mais, a história da primeira trilogia (a parte de Uma Nova Esperança) é adaptado de "A Fortaleza Escondida", de Akira Kurosawa, onde um guerreiro leva secretamente uma princesa por um território inimigo até o seu país.A catarse dos fãs de Star Wars é a catarse do espectador em desvendar as tragédias da saga, a anunciação do escolhido, a queda de anakin e a redenção pela vitória do filho sobre o pai."A Vingança dos Sith" é trágico. Anakin/Vader é trágico. O herói trágico é, segundo o Voltaire Schilling (que também escreveu sobre o tema embora acredito que não goste muito de Star Wars), uma figura radiante, um vencedor que está no esplendor da vida, usufruindo dos feitos das suas armas, envolto numa auréola de glória quando, repentinamente, vê-se vítima de uma alteração brusca do destino.

Um acontecimento sensacional, terrível, sufoca as suas alegrias, conduzindo-o à desgraça, arremessando-o ao mundo das sombras.Anakin é a tragédia da fraqueza., Ele cai em desgraça porque tem medo, e sabe disso. Tem medo de perder sua concubina (Padmé) e se entrega com resignação como vassalo do Imperador. "Para poder-se dizer que um espetáculo é uma tragédia é preciso que ele apresente certas características facilmente identificadas pelo público", diz Schilling. "Em primeiríssimo lugar, deve revelar a dignidade da queda. O herói é sempre uma figura reconhecidamente grande, importante, que consegue manter a integridade moral quando as coisas desandam ao seu redor". O seu halo trágico reside na magnitude da queda.

Ele cai de "um mundo de segurança e felicidade, que se vê ilusório, para as mais profundas das misérias". Anakin resigna-se em sua descida, e curiosamente, Vader nasce junto com a sua prole. O que emerge da luta quase parental entre Obi-wan e Anakin é o ser despedaçado que anaquila a sua personalidade recalcada pela figura sanguinolenta de Darth Vader, um bandoleiro do espaço, facínora, infanticida e poderosamente covarde.A tragédia não é o Fado, mas sim a falta de solução. Não há outra saída do que aqueladeterminada pelos acontecimentos que vão se descortinando frente ao herói. Anakin sabe que vai perder sua mulher, como perdeu a mãe, e Padmé era o equivalente emocional de sua figura parental. Perdê-la significaria o fim absoluto. Vader é a morte quase absoluta desse herói original, que não morre por completo porque, como disse Aristóteles na Poética, o personagem trágico não é nem demasiadamentebom, nem mau.

Tanto que a parcela do homem anterior que preexistiu à Vader é aquele que não pôde matar o próprio filho. Qui-Gon estava certo quando disse que Anakin iria trazer equilíbrio à Força porque de sua própria descendência nasceria aquele que seria capaz e tão somente capaz de vencê-lo. Não haveria o filho sem o pai.O Jedi, por sua vez, é o protótipo do homem estóico. Anakin era tinha o poder mas era passional demais. A mesma doutrina estóica explicava todo o dano que a paixão humana provocava e (seguindo o Voltaire) o desespero que acomete aqueles que se deixam guiar por elas ao não saberem impor limites ao ardores do coração, submetendo-o aos poderes da lógica.

O resto é ficção-científica.

Wednesday, May 04, 2005

Sinto falta do Obino

Este ano teríamos ouvidos estas pérolas se Obino ainda fosse o presidente:
– "Temos um Leão no buraco do amor", sobre a contratação de Hugo de León.
– "Temos o uniforme mais bonito do mundo e o melhor saite do Brasil".
– "O Escalona vai ajudar o Grêmio nesta escalada que é a segunda divisão", quando da contratação do lateral esquerdo chileno.
– "O Ânderson é um patrimônio do Grêmio, só vendemos com o consentimento do conselho", depois acontece o mesmo que aconteceu com o Luís Mário, o Marinho, o Adriano, o Fábio Baiano e outros que foram embora e o Grêmio não viu nem um tostão. Não falo no Ronaldinho porque era outro o presidente.
– "O nosso centroavante é o Nigéria (Somália) e não falamos mais nisso", na sua mania de trocar os nomes dos jogadores.
– "Vamos de Brigadianos para cima deles", ao confundir a dupla Pedro (Júnior) e Paulo (Ramos).